por Aristoteles Drummond
O Rio cresceu justamente quando deixou de ser capital federal. Virou uma cidade com mobilidade, mercado, referência cultural e tecnológica, abençoada por Deus com o petróleo em sua costa . Ganhou problemas graves, é claro. Mas o importante está pronto, desde Lacerda e Negrão, das grandes obras que não podem ser esquecidas. Lacerda com o Túnel Rebouças, o Santa Barbara, a remoção de quase toda a Praia do Pinto, escolas e uma voz política de peso. Depois veio o mineiro Negrão de Lima , diplomata e político do primeiro time, que deu um show pois se relacionou bem com três presidentes militares – Castelo, Costa e Silva e Médici– e pôde alargar a Avenida Atlântica ( imaginem o Rio com aquela pistinha de mão e contramão), rasgou os acessos a Barra da Tijuca com seus túneis e elevados e acabou com as favelas do entorno da Lagoa . Projeto do qual participei dos meus verdes 23 a 25 anos , como diretor e presidente da COHAB . Além de viadutos emblemáticos como o Augusto Frederico Schmidt, no Corte Cantagalo, o Fernando Ferrari e o Pedro Alvares Cabral, na Praia de Botafogo , o Ataulfo Alves, na Brasil, e outros mais . Depois sempre tivemos quem fizesse alguma coisa: Brizola e Marcello com a Linha Vermelha, Cesar Maia e Conde com a Amarela e este pacote Copa e Olimpíadas com Cabral e Paes.
Mas perdemos ponto na chamada vida social . O Rio tinha padrão internacional no que toca a um grupo social de elite , no sentido da elegância no ser e vestir, no se relacionar, no ter acesso não aos restaurantes mais caros do mundo, mas às casas mais tradicionais e sofisticadas, e receber personalidades mundiais de alto nível social e cultural. Perdemos sim, com este núcleo tradicional, vindo do Império, na aristocracia como na alta burguesia , com seus bancos, casas comerciais e indústrias . Estamos ainda presentes em destaque nos escritórios de advocacia, na gestão de fortunas, fundos e agora mais recentemente reconquistando alguma coisa na área da medicina.
Fator desta diminuição de importância tem a perda das referências na sociedade . Algo deu errado duas ou três gerações anteriores , que deixaram perder continuidade na formação, na presença, na cabeça e atitudes das seguintes . Até mesmo na formação de núcleos de amizades selecionadas , sem nenhuma discriminação se não as naturais identidades , que prevalecem em todas as camadas sociais e em todos os bairros de um grande centro.
Esta perda de qualidade na elite mais representativa me ocorreu neste mês em que Paulo Fernando Marcondes Ferraz completou oitenta anos de uma vida elegante . Trabalhador incansável , foi jogador de Polo de presença internacional. Seu primeiro casamento, que lhe deu os filhos , foi com uma Mello Franco Chagas , sendo sua presença ao longo de décadas disputada nos salões e nos clubes mais fechados, como Country, o Itanhangá e o Gávea, onde jogou polo no Rio. No Gávea, nas raras vezes em que o clube sediou este tipo de esporte , lá pelos anos 1960. Tivemos casais padrão AAA , como Didú e Teresa Souza Campos, depois Teresa e D João de Orleans e Bragança , Lourdes e Álvaro Catão, ele que foi também Senador e deputado por Santa Catarina , Carlos Roberto de Aguiar Moreira , solteirão, tabelião que recebia com categoria internacional, a sra Maria Cecília Fontes , Guiomar e Gustavo Magalhães, Ana Luiza e Gustavo Capanema, os Paula Machado, os Guinle, os Aranha,os Willemsens e por aí vai . Os políticos, muitos eram homens de intensa vida social, como os senadores Napoleão de Alencastro Guimarães, Gilberto Marinho, Afonso Arinos , deputados como Flexa Ribeiro , Rafael de Almeida Magalhães, Augusto do Amaral Peixoto , Baby Bocaiuva e outros . O Rio tinha peso pelos seus quadros sociais , empresariais , intelectuais . Grandes empresas entre as mais importantes do Brasil, Bangú Tecidos , Banco Boavista , MESBLA , Lojas Americanas , Lojas Brasileiras , Bemoreira-DUCAL , Manguinhos , sede de todas as petrolíferas.
Agora , nesta virada que pode ser vencer a violência , temos tudo para voltar a ser um polo de respeito pelas suas elites . Surge uma geração , mais aberta e mesclada , mas com os valores do viver e conviver com interesse cultural, na arte e no social. Daí a importância de se apoiar a ação militar na destruição dos comandos criminosos , como já fizeram antes com grupos radicais de origem nas classes médias e com vida universitária . Não será contra esta bandidagem primária que vão perder a guerra . E, se acontecer, será uma triste vitoria da quinta coluna dos preconceituosos, ressentidos e irresponsáveis.