por Anna Ramalho
Tento não pensar nos absurdos e nas agressões diárias que sofremos sob o comando de Jair & seus green caps, mas é missão impossível para qualquer ser pensante, com mais do que dois neurônios. O Brasil vive dias de pesadelo, dias macabros – com cadáveres se amontoando, hospitais lotados, o vírus atacando, números apavorantes – e vem a autoridade máxima da República anunciar, naquela linha tô nem aí, que vai promover no sabadão um churrasco com pelada “pra umas 30 pessoas” no Palácio da Alvorada.
Meu desejo é que se entale com uma linguiça quente. Sem direito a Hélio Negão pra dar tapa nas costas.
Como disse certa vez o mais novo aliado, o ínclito Roberto Jefferson, Jair me desperta os instintos mais primitivos. Quem me conhece sabe que eu jamais desejaria um engasgo com linguiça a ninguém. Sou da paz. Leve, diria a Regina Duarte – que tomara seja convidada e tomara se sufoque com a farofa do churrasco.

Regina Duarte e Jair Bolsonaro: feitos um para o outro
Inacreditável a entrevista que deu à CNN. Tenho quase certeza de que ela está com alguma descompensação mental, algum comprometimento psíquico ou estava pesadamente medicada. Só pode ser. Portou-se como uma diva com ataque de pelanca. Infelizmente, hoje, as pelancas sobram ali, mas a diva já era há algum tempo.
Regina Duarte fazia parte do Olimpo da TV Globo – ainda recebia salário alto, tinha contrato fixo, uma situação estável. Largou tudo para seguir o novo Messias. Cujo só não a mandou pra porta da rua agora porque depois que demitiu o Moro não queria sacrificar outro nome popular. Se ela durar três meses nesse governo(?), será um milagre.
Sei não. Com aquele cabelo de crente, mal tratado, as marcas da idade todas presentes, aquele desleixo com a própria aparência, sobrará pra ela, talvez, o papel de Madalena Arrependida numa daquelas novelas bíblicas da Record. E cara alegre.
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Enquanto toda essa gente de quinta categoria ganha a cena e envergonha aqueles que têm vergonha na cara, o Brasil perde um elenco de primeira grandeza: em pouco mais de uma semana, os escritores Rubem Fonseca e Luiz Alfredo Garcia-Roza, o compositor Aldir Blanc, os atores Daisy Lucidi e Flavio Migliaccio. Uma verdadeira constelação que a secretária não homenageou porque não queria virar “um obituário”.
Seu dia há de chegar, Regina Duarte, como de resto chega para todos. Como você disse, a vida está ao lado da morte todo o tempo. Portanto, devemos relativizar a morte. Essas mortes fazem parte da vida, né? Não merecem que este governo preste qualquer tipo de solidariedade. Tudo comunista, certo?
Ali naquela entrevista, Regina, você escreveu seu próprio obituário.
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2020 está de amargar. Domingo é Dia das Mães e vou passar sozinha: há dois meses não vejo meu filho ou minhas netas. Morrendo de saudade, mas de cuidado também. Prefiro que eles fiquem lá e eu cá. O amor não pode ser egoísta ou irresponsável.

Álbum de família: num verão do século passado, em Itaipava, vovó, mamãe, eu e a mana
Certa vez, há muitos anos, estava numa viagem de trabalho, o avião atrasou e perdi o almoço de Dia das Mães. Telefonei chorando, estava em Buenos Aires, desesperada porque não poderia estar com minha mãe e minha avó. Com a serenidade que era tão sua, me tranquilizou: “Não fica assim, minha filha. Dia das Mães é todo dia. “
Como sempre, ela tinha razão. No domingo, meu filho estará trabalhando fazendo comidas deliciosas para muitas mães que encomendaram no seu delivery; minha nora, veterinária, tem plantão na clínica. Antonia e Olivia ficarão em casa – com todo o tempo pra trocar figurinhas com a vovó pelo vídeo. Beijos, abraço, amassos adiados até esse pesadelo acabar.
Minha irmã também se mandou. Mora agora em Brasília e passa a data com seus filhos e netos. Muita saudade deles todos.
Mas tá tudo certo, apesar dos pesares. Comemoramos assim que der e esta comemoração terá outro gosto. Para quem tem a alegria de estar com seus filhos, feliz Dia das Mães !