por Rogeria Gomes
Falar do humano é sempre um assunto pertinente, não importa a época. Revisitar clássicos também. A Visita de Velha Senhora, está entre os textos com excelentes encenações, e aqui no Brasil merece a lembrança da montagem protagonizada pela brilhante Tônia Carreiro, em comemoração aos seus 80 anos. Com sua partida, tão sentida por todos nós, ficará mais ainda, em nossa memória afetiva.
O autor, Friedrich Dürrenmatt, expoente dramaturgo suíço, como poucos, une comédia e drama com maestria. Um texto capaz de fazer pensar com o rigor que pensamento reflexivo exige e ao mesmo tempo utiliza traços de humor na medida exata, sem exagero. O texto data de 1956, no entanto, está na ordem do dia.
A atual montagem repete o sucesso das anteriores, com muitas premiações, referências e indicações.
A atriz Denise Fraga é a protagonista dessa Velha Senhora de humor ácido e matizes humoradas. A história é aparentemente comum. A cidade de Güllen está arruinada e seus cidadãos aguardam o milagre da reconstituição com a chegada da milionária, filha da terra, Claire Zachanassian que promete salvá-los. Mas como nada na vida é de graça, ela impõe sua condição: doará o valor de um bilhão se alguém matar Alfred Krank, o homem por quem foi apaixonada na juventude e que a abandonou grávida por um casamento de interesse. A cidade parece indignada, e de imediato todos rejeitam sua proposta. Claire Zachanassian decide esperar. Como diz o dito popular: vingança é um prato que se come frio. Claire Zachanassian decide esperar com seu séquito no hotel da cidade. A partir daí a trama nos apresenta o ser humano como ele é: com suas incoerências, hipocrisias, verdades, mentiras, embaladas em por um traço de fina ironia, característica do autor, cuja máxima é: ‘uma história não está terminada até que algo tenha dado extremamente errado’.
Afinal, o que é fazer justiça? Até que ponto a ética pode conviver com dinheiro? Essa é a espinha dorsal do texto.
Denise Fraga é dona do espetáculo desde a primeira cena. A atriz encarna com extrema competência as nuances exigidas à personagem, especialmente porque vive uma mulher de fato, idosa. Contracena com Tuca Andrada que interpreta o jovem namorado que a abandonou. Ambos têm uma química rica em cena, seus personagens são de universos opostos, e os atores nos apresentam uma excelente atuação. Constroem um diálogo cênico excelente.
Completam o elenco Fábio Herford, Romis Ferreira, Eduardo Estrela, Maristela Chelala, Renato Caldas, Beto Matos, David Taiyu, Luiz Ramalho, Fernando Neves, Fábio Nassar e Rafael Faustino, todos muito bem.
A direção é de Luiz Villaça, que soube alinhavar com precisão o espetáculo, e a direção musical de Dimi Kireeff é bastante acertada, já que em muitos momentos a música é fundamental à trama. O cenário, não convencional, joga a favor da encenação, o figurino e iluminação cumprem bem a função. Fundamental é para o homem conhecer um pouco mais de si, de suas mazelas, virtudes e possibilidades. O teatro nos permite essa chance. ‘A Visita da Velha Senhora’ cai como uma luva nessa necessária reflexão.
*Teatro Sesc Ginástico: Av. Graça Aranha, 187, Centro
Quinta a Sábado às 19h, e domingo às 18h
Sessões extras dias 23 e 24 de março às 15h
- Para concorrer a um par de convites envie-nos e-mail (final da coluna) e responda qual o cantor que Tuca Andrada representou no Teatro.
‘Bate Bola com Yashar Zambuzzi’
‘Para onde Ir’
- Sua formação foi na Escola de Arte Dramática de São Paulo, famosa EAD. Você soma 33 anos de ofício e um curriculum vigoroso. O que de mais importante traz dessa formação acadêmica?
Na EAD aprendi a ter rigorosa disciplina, a valorar o coletivo, assim como ter ciência da importância do artista na sociedade, pois somos também rigorosos questionadores da condição humana. E, claro, tive a rara oportunidade de trabalhar com profissionais os mais respeitados de nosso país.
- Seus trabalhos tem diferentes vertentes, muda o seu processo criativo a depender da peça?
Todo o meu trabalho é fortemente influenciado pelas antropologias filosófica e teatral. Tecnicamente, também tenho um norte, baseado em alguns conceitos do russo Constantin Stanislavski, do polonês JerzyGrotowski, como também do diretor Antunes Filho, com quem trabalhei por mais de dois anos. A iôga também me é basilar, no meu processo de descobertas.
- Seu espetáculo atual é ‘Para Onde Ir’,adaptação literária do romance Crime e Castigo, de FiódorDostoiévski, e de Uma temporada no inferno, de Arthur Rimbaud, em homenagem à poesia crítica do jovem poeta alemão Bertolt Brecht. Como funcionou essa proposta?
Esses grandes espíritos passaram por ímpar experiência; e como são literatos, é na literatura que verteram o sangue de suas almas carregadas de dor pela humanidade. E eu, como sou um leitor voraz, tive o auxílio do meu Inconsciente, que os reuniu numa só voz, através de minha adaptação, onde pudesse também participar, como artista da cena, num processo de autossacrifício.
- O que o impulsionou a essa realização, tratando-se deobras de pouco conhecimento do grande público em geral?
A nossa condição humana. Mesmo que ninguém tenha ouvido falar desses autores, participam diretamente e ou indiretamente da dor e da experiência desses seres tão atormentados de quem são falados em cena.
- Qual o ponto alto da peça?
“Os senhores, por favor, não fiquem indignados, pois todos nós precisamos de ajuda, coitados” (A Infanticida Marie Farrar- Bertolt Brecht).
- Como analisa o teatro brasileiro atual?
Ao PIB da Cultura, em nosso país, não se dá a devida importância, como em países ditos desenvolvidos. Com isso, produz-se precariamente na raça. As artes cênicas são as menos valorizadas nesse sentido. Precisamos de políticas públicas nas esferas municipais, estaduais e federal.
* Teatro Laura Alvim – Sala Rogério Cardoso – Av. Vieira Souto, 176 – Ipanema
Sexta e sábado às 19h, domingo às 18h.
‘Boa Mesa’
A tradicional Confeitaria Colombo adequa sua tradicional gastronomia de excelência ao menu executivo em horário de almoço, em seu restaurante que fica no CCBB, centro do Rio. A começar pelo lugar que conserva o charme da confeitaria mais tradicional do Rio, o serviço ganha ainda mais destaque pelo local com essa novidade que já vem sendo muito bem aceita pelo público.
O cardápio é variado e com toques refinados que ficam a cargo da chef Roberta Ciasca, Muito bem servido. Contemplam as iguarias: Frango Cordon Bleu e Risoto de Grãos com alho-poró; Filé Mignon acompanhado de Fritas, Aioli e Salada de Folhas com Vinagre Balsâmico; e Medalhão de Bacalhau servido com Purê de batata baroa, azeite de tomate, azeitona e ervas frescas. Todos são deliciosos, unindo qualidade e sabor. Vale destacar o Medalhão de Bacalhau que nessa receita da Chef Roberta vem acompanhando de purê de batata baroa, uma delicia daquelas que deixa o gostinho de quero mais. Imperdível.
No mais, acompanham o menu, uma deliciosa sobremesa de mousse de chocolate, sem contar os famosos pasteis de Belém que continuam entre mais pedidos, embora esse não faça parte do cardápio do menu executivo.
Almoçar em um lugar tão charmoso, com atendimento cordial e eficiente, em um espaço cultural com excelentes pedidas culturais é sem duvida ma ótima opção.
E o melhor, os pratos executivos tem preços que cabem no bolso.
Deliciem-se! Bon Apetit!
O almoço é servido de 12h às 16h. O restaurante funciona de 10h as 20h.
CCBB- Rua Primeiro de Março, 66 – 2º andar (Colombo)
* Clientes Banco do Brasil em 20% de desconto.
Estreando a seção ‘Umas Palavras’, um belo texto que merece dar o ponta pé inicial, de autoria do diretor e ator Eduardo Wotzik.
Aproveitem!
‘Umas Palavras’
A SALVAÇÃO É PELO RISCO
a rotina mata, a mesmice adoece, o costume envelhece
Para falta de ar, prescrevo, Chopin, dois noturnos, durante cinco noites consecutivas. Febre? Caetano, duas a três vezes ao dia; e Crime e Castigo, à noite, um capítulo, antes de dormir. Mas, se é gripe o que você tem, dessas que não te largam, a prescrição é cinema. Um bom filme. Pode ser um musical à tarde. Não desperdice-se com drogas, nem farmácias, nem drogarias, nem botecos nem sarjetas, nem academias, ou fila de banco, mas use-se. Enxaqueca, dessas que não consegue abrir o olho. Deita no quarto, apaga a luz e ouça a Sinfonia de Mahler. Recomendo também a Morte de Isolda, se ainda amanhecer com uma pontinha de dor. Obesidade, Teatro. Vá ao Teatro ver coisa boa. Alimente-se. Para cada sintoma, uma obra de arte à sua espera. Menopausa, olhe um quadro de Monet, uma obra do Tunga, por vinte minutos. Bolero de Ravel, de oito em oito horas, também alivia o mal-estar. Para alergias em geral, Beethoven de seis em seis horas, depois Tom Jobim, depois um pouquinho de Joao Gilberto, Elsa Soares cantando a capela em looping. Se não resolver, comece tudo de novo, até sentir-se. Leia Manoel de Barros, um poema por dia se tiver pressão alta. Já pressão baixa, prescrevo Ferreira Gullar. Uma frase do Millôr depois do café, previne todo tipo de doença. Aviso: cada indivíduo deve procurar aquela obra que lhe faz bem. O que é bom para uma pessoa pode ser prejudicial à saúde de outra; cada qual tem que procurar aquela obra de arte mais eficaz à sua saúde. Advirto que as obras e sua eficácia têm prazo de validade. Passado esse prazo, volte ao seu médico, feiticeiro, sábio, professor, que, culto, saberá conduzi-lo adequadamente. A arte cura, a arte salva. Empodere a arte em sua vida, e teremos mais galerias, teatros, livrarias, casas de shows e cinemas nas nossas esquinas, e menos, muito menos farmácias, drogarias, bancos e hospitais. O que você gasta com remédios inúteis, invista em arte. Garanto: se inspirar e expirar o belo, pelo menos, dez vezes, ao dia, estará afastado de muitos dos males que aí estão. Decore um poema de Fernando Pessoa, e, se seu sintoma persistir, repita-o em voz alta à frente do espelho, sempre depois do banho. Importante distinguir arte de genéricos. Genéricos não fazem o mesmo efeito. É preciso garimpar o original. Shakespeare, de preferência em inglês. Traduções (salvo exceções), costumam diminuir o efeito do remédio. Então Shakespeare sempre. Nelson de três em três horas. Preventivos. E assim, em breve, muito em breve, voltaremos à sociedade grega que considerava a Arte não só cultura, e educação, mas departamento de Saúde, do ministério da Saúde. Câncer? Ache um circo. E corra atrás dele. Ou fuja com ele. Alcoolismo? Dependências de todo o tipo? Uma boa série (Breaking Bad, House of Cards, Família Soprano) já ao acordar. Tome com agua. E assim, em breve, muito em breve, o caderno de cultura vai virar primeiro caderno. A humanidade usou toda sua capacidade de pensar inteligentemente para bolar dois sistemas geniais para suportar a crueza da vida, sua injusta finitude, a dor dos acidentes, o medo da morte, a humilhação da doença, e conseguir manter a vida mais quentinha: o sistema religioso e a Arte. Ambos, conectados com o silêncio, o vazio, o não sei, a sede de saber, a curiosidade, e o desejo de servir o outro. Noventa por cento de nossas ziquiziras são produzidas pelo desamor (ensinava Nelson), ou pela alma magoada, e saem, no banho, com um bom choro e esfregão. Se você cantar no banho, garanto, somem em poucas semanas. Não confunda Arte com entretenimento, nem passatempo. É preciso trabalhar sua sensibilidade para saber separar a coisa da outra. Tem hora que a doença pega grave, e então, procure um médico, (ele estará lá de braços abertos à sua espera), ou procure um hospital, que vazio, te tratará como um rei (que é como você merece). Plano de Saúde? Faça já a assinatura do Teatro Municipal de sua cidade, da temporada de Opera, do Ballet do ano, dos seus concertos preferidos, das próximas e todas as peças das Fernandas Montenegro e Torres. E viva. Viva a Vida!!! (como quis Eurípedes). Vida longa e Variada! (como quis Ésquilo). E para Prisão de ventre. Não há indulto, anistia, ou habeas corpus que solte. Só melhora, quando estancar o roubo, e todos os vermes corruptos estiverem na cadeia. Mas isso é de outro Departamento. Ou não?
Eduardo Wotzik
‘Boas da Cultura’
- ‘Boa sorte’ é uma comédia que narra a trajetória de um homem comum e insatisfeito, que um dia tem sua vida transformada ao encontrar um antigo amigo. Aborda de forma simples, clara, sensível e muito bem humorada, a eterna busca pela felicidade.
* Teatro Cesgranrio – Rua Santa Alexandrina, 1011 – Rio Comprido
| Quintas e sextas-feiras, às 20h
Preços Populares
- Silêncios Claros, de Clarice Lispector, com Estes Jablonski acontece durante a programação especial em homenagem ao mês da mulher – Mulheres em Cena. Acompanhada de contos de Clarice Lispector, a atriz, traz ao palco as estações da vida em quatro tempos, traduzindo, com irreverência as sutilezas da feminilidade da autora. Os contos O Grande Passeio, Uma Tarde Plena, A Fugae Uma Galinha, são pontuados pela sensibilidade e intimidade com que a autora penetra e passeia pela vida humana.
*Teatro Municipal Maria Clara Machado –Rua Padre Leonel Franca, 240 – Gávea.
Sexta e Sábado às 21 hs, e domingo às 19hs. (9 a 11-03)
- “Mujeres de Arena” , monólogo escrito a partir de testemunhos de mulheres de Ciudad Juárez, no estado de Chihuahua – México propõe ecoar a voz dessas mulheres, como um grito de denúncia contra os feminicídios e os desaparecimentos de mulheres jovens e meninas que ocorrem nesta cidade fronteiriça, desde 1993, até os dias atuais. Atuação e direção de Rosite Val, atriz e diretora brasileira, com mais de 20 anos de trajetória artística.
- DIAS 07 e 08/3| quarta e quinta | Teatro Municipal Maria Clara Machado | Horário: 21h00
- DIAS 16, 17 e 18/3|sexta, sábado e domingo | Teatro Municipal Ziembinski | Horário: 20h
- DIAS 23 (sex), 24 (sáb), 25 (dom), 30 (sex), 31/3 (sáb) e 01/4 (dom)| Teatro Municipal Gonzaguinha | Horário: sextas e sábados às 19h; domingos às 18h.
- DIAS 04, 05, 11 e 12/4 |quartas e quintas | Centro Cultural Municipal Parque das Ruínas -Horário: 19h30.
- MPB – Musical Popular Brasileiro com direção artística de Jarbas Homem de Mello, direção musical e arranjos de Miguel Briamonte e idealizado por Renata Ferraze Silvio Ferraz, com texto inédito de Enéas Carlos Pereira e Edu Salemi , apresenta Adriana Lessa e Érico Brás além de Reiner Tenente Giulia Nadruz Dagoberto Feliz e Marcelo Góespara contar a história de uma filial brasileira de uma empresa multinacional que esta na expectativa da visita de seus investidores estrangeiros ao país. Para impressionar os gringos e estimulá-los a investir ainda mais na nossa “terrabrasilis”, a empresa decide preparar um grande espetáculo musical mostrando aquilo que, acreditam eles, o Brasil tem de melhor: sua música e sua gente.
* Teatro das Artes – Shopping Eldorado, Avenida Rebouças, 3970 / 3º piso Quinta e sábado, às 21h, sextas-feiras, às 21h30, e domingo, às 20h
- Retrospectiva Helena Solberg nos CCBBs. Apresentação de 17 filmes da cineasta, conhecida por ser a única diretora mulher a participar do Cinema Novo. Além das exibições, uma master class, debates e mesas-redondas discutem a atualidade de seu cinemacom convidados como Heloisa Buarque de Holanda e Rosiska Darcy de Oliveira.
*7 a 19 de março : Centro Cultural Banco do Brasil – Cinema 1
R. Primeiro de Março, 66 – Centro
De quarta a segunda, das 9h às 21h
Entrada franca
- ‘Lima entre nós’, é um monólogo interpretado pelo ator Leandro Santanna, um tributo ao escritor e cronista Lima Barreto que conta com a direção de Márcia do Valle. A atualidade da obra do autor é o mote do espetáculo solo, que pretende despertar reflexões e debates sobre o papel do negro na literatura e na cultura do Brasil.
*SESC Tijuca – Rua Barão de Mesquita, 539, Rio de Janeiro
Sextas, sábados e domingos às 19h
Preços Populares
- Inter Kriminis, é um espetáculo inspirado na literatura de grandes autores, como Dostoievski e Shakespeare, e também em crimes reais que se tornaram icônicos. A trama acontece em uma galeria de arte, onde os atores ficam dispostos pelo espaço como obras de um museu. A montagem conta com texto de Geovana Metzger, direção de Júlia Carrera e um elenco de 12 atores.
*Sala VIP – Cidade das Artes -Av. das Américas, 5300 – Barra da Tijuca
Sábados às 19h e domingos às 18h
- Alegretti , a boa música de todos os tempos na voz de Charles Marot, Renato Amorim e Marcio Lott. Relembrando os melhores sucessos Standards americanos, franceses, italianos e boleros também incluem o repertório.
- Copacabana Rio Hotel : Av.Nossa Senhora de Copacabana, 1256
- Quartas de Março às 20h
Fale conosco : [email protected]