por Reinaldo Paes Barreto
23 de setembro: “canta primavera, pá! cá estou carente, manda novamen’t(e) algum cheirinho d’ al’crim (Tanto Mar, do Chico Buarque). Sim, este semana ocorreu o equinócio da primavera (equi + noce = dias e noites iguais). E aproveito o embalo para compartilhar um verbete de etimologia: esse substantivo deriva da simbiose entre prima e vera: o primeiro verão.
Parênteses: sugiro que aproveitem a estação da cor de perfume de bebê e comprem roupas coloridas, andem pelas praias, praças e ruas e quem “estiver de par” faça como os pássaros – acasale-se. Mas com responsabilidade!
Algumas características da primavera são comuns aos dois hemisférios: chove muito (pra molhar a terra e prepará-la para encarar a estiagem); faz calor e frio, alternadamente, sobretudo no sul-sudeste do Brasil e a luz ainda não tem a incidência enlouquecida do verão, o que permite apreciar melhor a cor – das cores.
Curiosidade: o pintor francês Paul Gauguin, antes de pintar todos os vermelhos e ébanos em Papeete, no Taiti, foi da Marinha Mercante francesa e correu o mundo, tendo passado alguns meses no Rio, há 150 anos. Por volta de 1869. Há, inclusive, uma versão de que ele teria matado um colega marinheiro, numa briga por mulher, e se refugiou por aqui durante esse tempo. Morou no Campo de Santana e correu a Serra do Mar. E como já tinha alma do pintor que se revelou mais tarde, escreveu em suas anotações: “no Brasil há mais luz do que cor”!
Adiante: sim, mas e para brindarmos sugiro vinho branco ou rosé.
E por quê?
Porque ao contrário dos tintos, para se produzir um vinho branco separam-se as cascas do suco logo no início da fermentação, o que resulta num produto menos calórico, porque as cascas contêm tanino, que são os músculos do vinho tinto — dão-lhe a cor, estrutura e firmeza — mas, repito, muitas calorias. E raríssimamente um vinho branco contem tanino. Temperatura para bebê-los: 6 a 9 graus.
Os rosés, por sua vez, ainda têm um pouco de tanino, porque as cascas ficam em contato com o líquido algumas horas, 8 a 10h, até o início da fermentação (donde a coloração, já que as uvas que o originam são tintas e são elas que definem a cor final), mas também são leves e devem ser tomados apenas um pouco menos refrigerados do que os brancos: 9 a 13 graus.
E por que harmonizá-los com sorvetes? Porque é uma boa! Sorvete de frutas cítricas, (não de cremes ou chocolate) dão frescor à boca e fazem um par simpático com vinho branco.
Uma colher de história: sorvete, por definição, é um cristal de gelo, produzido através de uma mistura homogênea composta de água (ou leite), (leite em pó), açúcares, gordura proveniente da manteiga e ou creme de leite e ou gordura vegetal hidrogenada, aroma ou suco de fruta, emulsificante, espessante e “ar”.
O primeiro relato sobre o sorvete data de mais de 3 mil anos atrás, e tem sua origem no Oriente. Os chineses costumavam preparar uma pasta de leite de arroz misturado à neve, algo parecido com a atual raspadinha.
O Imperador Nero, há cerca de mil e novecentos anos atrás, mandava seus escravos às montanhas buscarem neve, que era utilizada para o congelamento do mel, polpa de frutas ou sucos.
No Brasil, o sorvete chegou em 1834, a bordo do navio americano Madagascar, vindo de Boston, que aportou na cidade do Rio de Janeiro com cerca de 200 toneladas de gelo em blocos. O objetivo: fazer sorvete. Os blocos de gelo foram armazenados com serragem em depósitos subterrâneos e conservados por aproximadamente cinco meses.
Como naquela época não havia como conservar o sorvete depois de pronto, as sorveterias anunciavam a hora certa de tomá-lo, causando alvoroço na cidade. Até as mulheres, que então eram proibidas de entrar em bares, cafés e confeitarias, resolveram quebrar o protocolo e fizeram fila para experimentar a novidade.
Ou seja, o sorvete estimulou as mulheres a quebrarem paradigmas: nada mais parecido com a Primavera!