por Maria Lúcia Dahl
Chega uma idade em que os amigos começam a ir embora. As causas são as mais variadas e faz-se uma corrente pra um amigo ligar pro outro dando a triste notícia que vem sempre acompanhada de um: “Ah, não acredito! Não é possível!”
Essa semana estive em dois enterros em quatro dias e ouvi uma senhora no cemitério dizendo que era o terceiro que ela ia numa semana.
Um foi tristíssimo e ainda teve uma trilha sonora de temporal, raios e trovões que chegaram juntos com nosso amigo na hora exata do enterro. Os raios caíam por toda parte no cemitério até que fomos obrigados a ir embora pra não termos que ficar por ali também. Fomos embora comovidos e algumas pessoas chorando ainda ao procurarem um táxi.
O outro enterro foi uma tentativa da filha da que se foi fazer uma comemoração alegre e não triste, na despedida da mãe, que ela dizia ser muito alegre e que merecia uma despedida tipo festa. Ao chegar, recebi uma taça de pro-secco, ao fundo tinha uma música de meditação e depois de alguns goles as pessoas ficaram animadas e começaram a contar histórias e falar muito, já que um monte deles não se via há muito tempo e foi ali que se juntaram depois de uma certa ausência.
Encontrei muita gente que não via há séculos, outros que tinha visto há pouco tempo, num cocktail, como o Geraldo, que disse que tinha me visto lá e que a pessoa que estava sendo enterrada e a que teria sido há dias atrás, estavam nesse cocktail também.
Então eu perguntei de brincadeira:
-Será que o coquetel foi um “boa-noite, Cinderela, gente?”
-Se foi, respondeu Geraldo, só faltam você e eu e é melhor a gente se ver mais antes que acabe, pois ontem mesmo eu tinha um encontro marcado com Dona Lily Marinho e ela faleceu dez dias antes.
Coisa estranha a vida. O que adianta a tal sabedoria tão falada dos idosos se não podemos aplicá-la nesta vida? Talvez, quem sabe, na outra encarnação?
Porque antigamente, podia-se, pelo menos, esquecer alguns fatos desagradáveis que nos aconteciam, agora, fica tudo registrado na Internet. Quarenta anos depois, está lá você com aquela pessoa que nunca mais queria ver nem ouvir falar na vida, aos beijos e abraços. Antigamente eu dizia:”Ah, bobagem daqui a pouco já esqueci…” Mas agora, qual nada, qualquer nota de revista, qualquer fotozinha sem interesse está lá, para sempre, até você dar de cara com ela, de repente num mau momento. Como as músicas registradas por seus autores que são clonadas e nenhum autor mais vê a cor do dinheiro a que teria direito. Está na hora de se inventar outra forma de ganhar o dinheiro devido às obras de arte, por que é óbvio que ninguém vai deixar de baixar, de graça uma música, uma foto ou qualquer coisa da internet pra pagar um dinheirão por um CD. É uma pena, eu reconheço, porque até as lojas de discos maravilhosas como a Modern Sound estão fechando.Tem que haver uma forma moderna de se ganhar esse dinheiro, assim como encontraram esta nova, de roubar ou lesar os autores. Hoje em dia nada mais é privado, mas público. Essa transparência de que falam, não é do bem. Quando é, ninguém mais comenta e o assunto morre ali. O político pode ir preso, mas daqui a muito pouquinho, e isso varia de acordo com o seu poder, estará de volta, feliz, como se nada houvesse. A primeira vez que ouvi a expressão “transparência no Governo”, foi dita pelo Collor, numa época completamente opaca, que só clareou quando não tinha mais jeito.
Agora é a vez do Berluscconi. Descobriram um monte de menores que se relacionava com ele. Muitas brasileiras, que em geral se encontram nesse tipo de confusão.
E o Battisti, por que é que ninguém o deixa em paz e fica cada um empurrando com a barriga pro outro resolver?
Incrível, mas estava escrevendo sobre este assunto agora, quando recebo um telefonema de uma revista que eu adoro, à qual dei uma entrevista, conferi tudo várias vezes e eles mudaram tudo sem me avisar, inclusive inventaram uma idade pra mim, que quase desmaiei quando vi. O que será isso? Uma forma de me gozar?
Fiquei tristíssima. Justamente quando estava falando dessas aporrinhações.