Na crônica da semana passada, escrevi aqui que, na próxima encarnação, quero voltar dona de estacionamento. Acrescento hoje: de preferência em Copacabana ou Ipanema. Vou faturar uma grana!
E aí, almoçando na quarta-feira, com minha velha amiga Elda Priami – que nasceu no mesmo dia que eu, minha colega dos tempos de início de carreira em O Globo, capricorniana batalhadora e raladora como todos os capricornianos que se prezam – concluí que tem mais uma coisa que peço para a próxima
encarnação: a magreza chiquérrima e inalterada da Elda. A criatura tem o mesmo corpitcho desde a adolescência. Desconhece o que seja a palavra dieta,o que seja aquela torturante bicicleta da malhação de todos nós, aquela esteira onde a gente bota os bofes pra fora, no meu caso, sempre com a vaga impressão de que todo aquele suor, todo aquele sofrimento, não adianta nada. Ou quase nada. Diria minha amada mestra Stella Torreão, coberta de razão (até rimou!), que não adianta para as sem-vergonha como eu que só aparecem de vez em quando, que não levam a sério nada que diga respeito à boa forma física — e, quer saber?, é isso mesmo.
***
Não sei se fui gorda na encarnação passada. Nunca me meti a fazer regressão porque, naquela verdadeira viagem na maionese, ninguém me diria que eu era gorda. Em vidas passadas, todo mundo é sempre o máximo! Então, naturalmente, eu seria, assim, na vida passada — um equivalente de época a uma magra elegante de hoje como a Carla Bruni, chiquérrima. Ou tipo atlético, como a Michelle Obama, né não? E se fosse pra ser mais, digamos, roliça, é bem possível que me dissessem que fui, no tempo dos faraós, claro, o equivalente à Oprah.
Eu já desconfiava dessa história de regressão e muito. A coisa piorou no dia em que soube que um querido amigo, engenheiro de respeito que virou
terapeuta de vidas passadas, largou a adorável mulher com quem estava casado há mais de 30 anos, para ficar meditando sobre os mistérios da vida.
Presente, que fique claro. Nunca mais quis saber de trabalhar e usava da desculpa pra ficar vagando pelas ruas e… meditando. O que, no tempo de
minha avó, seria o equivalente a ficar pensando na morte do bezerro desmamado. Minha amiga, uma pessoa inteira, maravilhosa, batalhadora, ficou
triste, mas foi em frente. Vida que segue. Nosso herói, claro, retornou rapidinho do passado e se casou com uma Lolita dessas da vida. Típico!
***
Ando injuriada com essa mania de magreza, essas garotas todas com caras de doentes, todas fumando desbragadamente porque fumar faz com que a gente
esqueça de comer ( e eu larguei o vício há quase quatro anos), e, sobretudo, com essas lojas que não oferecem manequim para as gordotas. Falando nisso, há dias em que tenho vontade de largar o jornalismo e abrir uma confecção só para gordas. Elegantes, diga-se. Nem pensar em roupas colantivésimas, saias curtas demais, muito menos saias de babados. A droga é que não tenho a menor vocação para o comércio.
E tem outra coisa: não agüento olhares nem comentário sobre os meus quilos a mais. Fico aborrecidíssima com isso. Como dizia meu sábio e elegantésimo avô Adriano, falar de gordura e de magreza é falta de assunto. E falta de educação: vai que a pessoa está gorda ou magra demais por algum motivo específico. É uma gafe e tanto dizer para a amiga que ela está gorda e ela responder que está grávida de três meses; ou dizer “Como você está magérrima! Um luxo!” e a amiga estar se tratando de bulimia.
Esse tipo de conversa é pura falta de assunto, né não?
No meu caso, engordar tem a ver com ansiedade, com tensão, com os problemas que se acumulam. E eles andam me importunando, podem crer. Já, já, passam, Deus é Pai!, e aí terei tranqüilidade para fechar a boca e malhar. E emagrecer, por supuesto. Porque é bom para a saúde e não porque todo mundo acha que todo mundo tem que ser magro ( e cheio de botox, o horror dos horrores) para ser feliz.
De qualquer maneira, e apesar do acima exposto, reafirmo. E reafirmo com esperança: se houve mesmo a tal da próxima encarnação, por favor, dá para eu voltar magrinha e elegante como a Elda? Ficaria tão grata!
Rio, 2 de junho de 2010.