por Anna Ramalho
Andamos todos com os nervos à flor da pele nessa pandemia e não é pra menos. O coronavírus ameaça, assusta, mata e o poder público se encolhe nas três esferas – municipal, estadual e federal. Todos se fingindo de mortos, enquanto os escândalos vão saindo dos bastidores.
Cheguei a chorar na terça-feira assistindo ao RJ TV da noite, que trazia os depoimentos de mães de família, paupérrimas, que não puderam aproveitar o feijão e o arroz da cesta básica doada pela prefeitura porque estavam bichados. O leite, de tão ruim, foi rejeitado por uma das crianças, um bebê. A mãe, que já não chora, declinou o óbvio: “Não há sofrimento maior para uma mãe do que ver seu filho com fome.” Na reportagem em questão, a empresa fornecedora era a Milano Brasil Ltda que faturou nada menos do que R$ 11,6 milhões por 110 mil cestas. Detalhe: a Milano pertence a um empresário enroladíssimo com a Lava Jato.

Nas fotos do super fotógrafo Carlos Monteiro o amanhecer de hoje, 23 de julho, no Pão de Açúcar, um dos mais famosos pontos de turismo nesse Rio de Janeiro tão lindo
É impressionante. Nem uma calamidade do porte dessa pandemia freia os ímpetos desonestos dessa gente. E pensar que anda tudo de Bíblia embaixo do braço, invocando o santo nome de Deus.
Vou te contar: se eu, depois de minha morte, chegar aonde mereço para a vida eterna e encontrar por lá essa cambada de fariseus hipócritas, vou chamar o Senhor para uma DR básica. Não quero a companhia dessa gentalha nem morta. Literalmente.
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O Rio de Janeiro está abandonado à sua própria sorte. Crivella só pensa em reeleição, como se os cariocas merecessem um castigo dessa ordem. Em vez de cuidar do centro da cidade – onde o Rio começou sua trajetória de Cidade Maravilhosa, com a presença da família imperial e sua corte – a excelência se reúne com o primeiro filho ( enroladíssimo nos cambalachos com o Queirós) para discutir estratégias para vencer e ferrar ainda mais a cidade.
Dizem que, por debaixo dos panos, o Crivella é o candidato do Jair. Faz sentido. Ambos farinha do mesmo saco. Só quero ver é o comportamento dos eleitores cariocas, principalmente aqueles bolsominions raiz, que lincham o Crivella nas redes, que detestam esse alcaide inoperante. O que prevalecerá: o amor ao Rio ou ao presidente?
A conferir. Por mim, prefiro uma dose mortal de cloroquina a imaginar mais 4 anos com este prefeito que nada faz. Vai pregar, Crivella! Vai cantar nos cultos!
Já deu.
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Essa cidade é tão infeliz, tão infeliz, que nem a centenária Casa Turuna aguentou. Não creio que tenha sido só por causa da pandemia. A verdade é que a SAARA, como de resto toda a cidade, vem se abastardando nos últimos anos. Os camelôs espalhados por toda a cidade, o Camelódromo ali tão perto, esvaziou as ruas Senhor dos Passos, Alfândega, República do Líbano. Mês passado foi embora a Charutaria Syria, há 108 anos plantada na Senhor dos Passos.

Na Casa Turuna comprei fantasias para mim, para meu filho. A centenária loja teve um melancólico fim com o downgrade do Centro do Rio agravado pela pandemia
Na Turuna comprei as primeiras fantasias do meu filho Christiano: um pirata e um índio americano, que ele envergou lindamente para cair na folia em Teresópolis, onde passávamos o verão. Comprei fantasias para as netas, adereços carnavalescos para mim, era uma farra deliciosa e geralmente tórrida, porque eram compras no verão escaldante.
Uma tristeza essa perda – agravada ainda com o Carnaval que não teremos.
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Rezando para essa vacina sair logo e o Rio poder – ainda que tão esculachado pela péssima administração – reencontrar sua alegria, seu bom humor, sua irreverência.
#foracoronavirus #foracrivella