Vamos combinar que é doce a vida de ex-presidente que Lula da Silva vem levando. Dá até pra duvidar da inteligência de quem pretenda voltar às aporrinhações diárias de um chefe de estado. O homem, agora, viaja mundo afora como celebridade-referência, fazendo o que mais gosta – falar e dar pitacos sobre tudo e todos – e ainda faturando uma baba por todo este falatório. Já imaginaram, depois daqueles períodos barrocos, sempre iniciados por nunca dantes na História do Brasil e entremeados por goles de vinhos de alta casta e números e índices sempre favoráveis, receber a módica quantia de R$ 300 mil? E botar no bolso mais trezentinho depois de uma visita à cabeceira do Fidel, que, doente, coitado, já não fala tanto e vai ficar só escutando? Melhor do que isso, só dois disso, né não?
Melhor do que isso, aliás, só o palacete Guinle Paula Machado na Rua São Clemente, uma construção tipicamente francesa, que pensam em comprar para abrigar o Instituto Lula. Jesus Christ, como exclamariam os americanos! Tremo só de pensar na materialização da ideia. Ainda bem que o imóvel é tombado. Já imaginaram se os Silva resolvem fazer um puxadinho pra família do Lulinha? Enfiar uma daquelas piscinas prontas que são oferecidas aos montes ali, adiante de Tribobó, no meio do imponente jardim para nadarem todos? E a inevitável churrasqueira, onde ficaria?
Pior do que isso só transferir o arraial junino – parte inegociável das atividades sociais da família – para o imenso gramado que dá de frente para o Colégio Santo Inácio. Anarriê, lá vem a quadrilha! A quadrilha de São João, claro.
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Francamente. Lula, ninguém pode negar, tem seus méritos, valor imenso, mas nada que sugira um instituto com seu nome. Vai ganhar aquela casa ali para quê? Só se for para expor a quantidade de presentes que ganhou – os que podem ser expostos, por supuesto – e os documentos (também os que podem ser revelados) de sua longa passagem pelo poder. Não vejo Lula, ali, promovendo reuniões e palestras relevantes. Até porque todos nós já sabemos que, a qualquer motivo, ele engata o samba de uma nota só já mencionado acima. Nunca antes, etc etc etc Pode ser que o espaço tenha como gerente e one man show o Franklin Martins, que anda sem ocupação definida.
Outra coisa: Lula também não tem nada a ver com o Rio de Janeiro. Honra lhe seja feita, ele ajudou muito o estado, a partir de sua íntima amizade com Seu Cabral, que pelo menos sempre estava a postos quando o ex-presidente cá vinha. O que já é um feito e tanto. Seu Cabral, como é de domínio público, se amarra numa viagem. De preferência a Paris.
Um Instituto Lula deveria ter o ABC como endereço. Não foi lá que ele brotou? O ex-presidente FHC, que é carioca mas sempre viveu em São Paulo, coerentemente plantou em Sampa o seu Instituto e também faz bem remuneradas palestras pelo exterior. Não quero aqui estabelecer comparações intelectuais porque não seria justo com Lula. É claro que nosso último ex-presidente tem muito o que falar para platéias as mais variadas, especialmente estrangeiras, que sempre têm aquela curiosidade sobre o “éxotique et bizarre Brésil”. FHC fala de cátedra, até porque é um sociólogo respeitado mundo afora; Lula fala com as vísceras e o coração, diplomado e pós-graduado em miséria e, agora, em riqueza. O povo lá fora desconhece o resto da história – ou melhor colocando, alguns capítulos bastante feios dessa história. Não importa. Ambos são ex-presidentes, foram democratas, e têm seus institutos para perpetuá-los. O que me incomoda aqui é o local que escolheram para abrigar o Lula.
Se o Filho do Brasil quer se estabelecer no Rio, precisava ser num palácio daquele tamanho? Por que não um conjunto de salas no Centro da cidade? A propósito: quem vai pagar pelo palacete? È aquisição federal, estadual ou municipal? Ou vai sobrar pra nós, aquela gentalha, que só serve para eleger as excelências e pagar impostos?
Detalhe: o palacete Guinle Paula Machado, que está encalhado no mercado por motivos óbvios, foi posto à venda por R$ 10 milhões. Uma bobagem, não é mesmo? Troquinho. E ali, se tudo sair a contento, Lula quer se dedicar a ações envolvendo a África. Repetindo: a África.
Como dizia um colega meu quando a chefia subia nas tamancas, tirem-me daqui!!!