por Reinaldo Paes Barreto
Nada mais cartão postal. A releitura da culinária tradicional e os vinhos húngaros “repensados” são, hoje, no entanto, não apenas um orgulho nacional mas uma referência no mapa da enogastronomia seletiva.
Claro, come-se o goulash com muita batata, sopas e guisados, temperados com páprica, cebola e pimenta preta, como se come arroz com feijão no Brasil, bacalháu com batatas ao murro em Portugal e “fish and fries” na Inglaterra.
É o varejo do estômago.
Mas há uma outra Budapeste, sem certidão de nascimento. Ela é a soma das partes Buda e Peste, diferentes e complementares, como Paris de terno e gravata é a Rive Droite e de capa de chuva e vinho tinto é a Rive Gauche.
E se formos comparar cidades que vêm de longe — impérios conquistadores ou invadidos — não paramos mais, porque as capitais europeias do oeste e do leste, têm “plágios urbanos” típicos de sua contemporaneidade. Rios (Sena, Tâmisa, Tigre, Danúbio) que cortam as cidades em metades que ora se somam, ora se distinguem, monumentos espetaculares, torres de igrejas/templos/mesquitas que se erguem bem acima do chapadão das casas – e, a intervalos topográficos, palácios que misturam estilos, plantados no meio parques, jardins, pulmões, enfim, que fazem respirar os seus habitantes: é a trégua da pedra.
No entremeio, como veias vistas por um cateterismo no vídeo, ruas e ruelas correndo planas ou subindo e descendo pelas velhas ladeiras de ontem.
E, de repente, uma ciranda de flores grenás, amarelas, azuis em tons do lilás.
É isso?
Mas se você for passar apenas dois dias em Budapeste, vamos pensar em algumas algumas sugestões para degustar os admiráveis vinhos do país – e a “nouvelle cuisine” húngara.
Vinhos? Não há como não começar com o seu embaixador: o Tokai (com j antes do i ou não)
Dourado e doce, ele é o vinho húngaro mais conhecido no exterior há … pelo menos 500 anos. Admirado por papas, reis e czares, foi chamado por Luis XIV de Vinum regum, rex vinorum, ou seja: o vinho dos reis, o rei dos vinhos.
Produzido basicamente a partir das uvas Furmint e Hárslevel, adquire sua coloração e sabor a partir da mistura com o mosto obtido de uvas que se tornaram passas naturalmente, em um processo singular que foi desenvolvido através dos séculos.
É o vinho húngaro mais famoso, embora seja um vinho de sobremesa ou de aperitivo, e não um vinho para acompanhar refeições.
Adiante: mas a Hungria produz, hoje, mais de trezentas marcas nas 22 regiões vinícolas plantadas no país. E embora as castas que produzem o vinho branco ainda seja a maioria, desde os anos 90 (após o domínio comunista) os vinhos tintos vêm se desenvolvendo com qualidade expressiva. Para isso, os viticultores passaram a aplicar as técnicas de mercado: respeito ao terroir, correto casamento entre a uva e o solo, insolação e rega controladas, além de outros procedimentos que a moderna enologia exige.
E as variedades mais cultivadas na Hungria, atualmente, são:
Brancos
Furmint
Leányka
Szürkebarát
Kéknyelű
Muskotályos
Ezerjó
Hárslevelű
Tintos
Kadarka
Kékoportó
Kékfrankos
Obs: a legislação na Hungria é bastante é bastante simples: em primeiro lugar vem o nome da região e em seguida o nome da uva que dá origem ao vinho. Ex: Vilányi kékoportó. E não é obrigatório mencionar-se a safra. Embora seja cada vez mais usual.
Segundo o Euclides Penedo Borges, produtor na Argentina e ex-presidente da ABS, a moderna vitivinicultura da Hungria conquista seus nichos de mercado através de vinhos regionais, porém modernizados, como o Bikavér de Szeksard, o Egri Bikavér, de Eger, os tintos encorpados de Villany e os brancos, incluindo Rieslings, de Badacsony, no Lago Balaton. Além dos espumantes.