Semaninha esquisita, essa que passou. Quando a gente pensa que o novo governo está cheio de boas intenções, que temos, afinal, uma mandatária que manda à beça mas fica na dela, resguarda-se de aparições pirotécnicas e evita falas gongóricas, quando a gente começa a vislumbrar a luz no fim do túnel, catabum!, lá vem babado dos bons pra animar a brava moçada da oposição. E escandalizar mais uma vez os brasileiros que botaram Dona Dilma sentada na cadeira presidencial.
Nunca entendi o ministro Antonio Palocci voltar a ser eminência parda. Como pode um governo que se pretenda minimamente sério, investir de tanto poder uma pessoa que foi flagrada e desmoralizada por um modesto caseiro quando comandava “tenebrosas transações” numa mansão em Brasília ( aqui, um esclarecimento: aquele povo das altas esferas do poder público nunca tem uma casa – é sempre uma mansão, que é bem termo de classe média deslumbrada)?
Até as carpas do laguinho do Alvorada sabem que, tal como a mulher de César, ao político não basta ser honesto, ele tem que parecer honesto. E o diabo é que o Palocci, à primeira vista, parece honesto e será honesto até que se prove o contrário, na forma da lei. Presunção de inocência, não é isso? É. Mas, do jeito que a coisa anda sendo desenhada, não é. Correram todos para blindar o companheiro, o que, convenhamos, é muito esquisito.
Fiquei muito impressionada quando li, na sexta-feira, que Sua Excelência declarara que a situação do Palocci “estava sob controle” e que ela seguraria o ministro no cargo “até o fim”. Vem cá: o fim do quê? O governo tenta por todas as maneiras impedir que a oposição convoque Palocci a testemunhar no Congresso, o que é muito estranho. Quem não deve, não teme. Se está tudo em ordem, tudo devidamente declarado ao Fisco, qual é o problema de responder às perguntas dos nobres deputados e senadores? Seria este o fim a que Dona Dilma se referia? Vá saber!
Permeando todo esse jogo de interesses escusos, a bendita lista dos 120 nomes de ungidos pelo PT que ganharão cargos os mais variados na máquina estatal. Já sabemos que será a bandalheira de sempre – nem maior, nem menor, apenas mais uma bandalheira.
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Como diria minha avó, “qual!” Se ela ainda vivesse, politizada como era, estaria tão desiludida quanto eu estou com a política que se pratica neste país. Com P minúsculo mesmo. Ministros se não são desonestos, são de quinta categoria. O que dizer deste Fernando Haddad que comanda a Educação? E o tal Novaes, do Turismo, de quem nunca ninguém ouviu falar? Responda rápido: quem é o ministro da Saúde? E a piada que é o tal Ministério da Pesca? Pescam o quê, aliás? Tesouros do fundo do mar?
Qual! Que país é esse em que semialfabetizados ganham fortunas para palestrar mundo afora? Fico pensando nos brilhantes professores e acadêmicos brasileiros que, quando convidados, recebem uma merreca, quase uma ajuda de custo, enquanto nosso ex-presidente corre o mundo enchendo as burras para seu plano de previdência privada. Qual!
Faço aqui a pergunta que não quer calar: se Deus é mesmo brasileiro, que mal fizemos a Ele para sermos brindados sucessivamente com governantes e políticos tão fracos?
Até quando, Senhor, teremos que conviver com tanta patifaria, enquanto o país fica paralisado por mais um escândalo?
A Saúde precisa de um trato. A Educação, nem se fala. Quando a gente pensa que já viu e ouviu tudo, vem o ministro da Educação endossar e distribuir um livro que ensina que “nós pega o peixe” é o quente. Ainda bem que minha neta estuda na Escola Parque, nota 10 em ensino, nota 10 em cidadania. Bela Antonia, na flor dos seus sete aninhos, está bem na fita. O que me alivia, o que me faz confiar em seu futuro, mas me angustia quando penso nos pobres brasileirinhos de sua idade, muitos deles ainda completamente analfabetos. O que pode esperar um brasileirinho desses com um Ministério da Educação pífio e mais um governo tentando acobertar mais um escândalo, enquanto o país fica paralisado esperando o que ainda poderá vir por aí?
Leio a entrevista da professora potiguar e meu coração fica apertado. Pobres mestras, que tanto estudam para no final do mês receberem dois mil e poucos reais, noves fora os descontos, e encarar salas de aula quentes pelo calor que reina no país e frias pela desatenção da maioria daqueles alunos que mal têm o que comer. Como podem alimentar a mente e o espírito, se a barriga ronca de fome?
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Que o Palocci tome o rumo que tiver de tomar. E que Dona Dilma verdadeiramente se debruce sobre os problemas que foi eleita para resolver. É o mínimo que o Brasil espera, né, não?