por Mariza Gualano
Ao usar como pano de fundo a questão social e política da Romênia nos dias de hoje, o filme O Tesouro/ Comoara (2015) fala sobre a singular relação entre o pai Costi (Cuzin Toma) e o filho Cornel (Corneliu Cozmei). Na história, o vizinho da família, Adrian (Adrian Purcarescu), garante que há um tesouro escondido no quintal da propriedade da família. A empreitada em busca do que seria a solução para uma vida difícil do ponto de vista financeiro, aproxima de forma entusiasmada Costi e o menino Cornel. Aos poucos, o pai, um simples trabalhador assalariado, transforma-se num verdadeiro herói para o filho tal a tenacidade pela caça ao tesouro. Independente do desfecho, é com graça e satisfação que o espectador acompanha o estreitamento dos laços entre pai e filho através do tom fantasioso e um tanto farsesco do filme. O premiado diretor romeno Corneliu Porumboiu (A Polícia, Adjetivo e Quando a Noite Cai em Bucareste ou Metabolismo) leva a trama de forma lúdica e bem humorada, mas sem nunca perder de vista a realidade local.
Em A Garota de Fogo/ Magical Girl (2014) do espanhol Carlos Vermut (Quem Cantará As Suas Canções e Diamond Flash), Luis (Luis Bermeio) é um pai tomado pelo tormento de realizar o desejo da filha Alicia (Lucía Pollán) que sofre de leucemia. Ela é fã de uma personagem de anime e não quer morrer sem possuir o vestido da Magical Girl. O problema é que o mimo custa sete mil euros. Os gastos da pequena família são enormes, mas seus esforços para presentear a menina com seu motivo de obsessão não tem limites e vão desde a venda de seus preciosos livros até a intenção de assaltar uma joalheria. O filme não trata apenas desse drama familiar. A narrativa apresenta tramas paralelas e ganha tons de thriller, cheia de surpresas e reviravoltas. Sem cair na pieguice nem no sentimentalismo barato, o desesperado empenho do pai para presentear a filha em estado terminal é comovente.
O cinema produziu muitos pais heróis, atrapalhados, delirantes, imprudentes, mas absolutamente tomados pelo o amor incondicional. Que o diga Viggo Mortensen em Capitão Fantástico/ Capitain Fantastic (2016).
No cinema, é melhor um pai alucinado do que nenhum.