por Rogeria Gomes
A vida tem vida própria e seus desafios particulares. Em nossos mais desagradáveis pesadelos nunca pensamos em viver um momento tão delicado e atípico como esse. Mas o ser humano tem a incrível capacidade de se adequar. E estamos fazendo isso, o que inclui trazer para nossa vida ordinária essa nova realidade. O teatro faz parte do humano e encontrou um jeito de se adaptar. Para nossa sanidade, para nossa felicidade.
O que vemos é teatro? Não sabemos e talvez nunca saibamos.
Mas o que importa mais do que entender, é poder viver essa realidade que se apresenta. É o que temos, é o nosso hoje.
Teatro é o lugar onde se vê, onde nos vemos humanos e talvez essa seja nossa estranheza maior, o incômodo que às vezes nos bate quando vivenciamos um momento único, sublime, efêmero e não sentimos a presença integral desse humano. Em especial quando desejamos aplaudir, vibrar, chorar, compartilhar. Além disso, há outros sentimentos que só o presencial é capaz de nos dar, porque o humano não é substituível. O teatro é artesanal, diferente de outras formas de arte, o que o faz raro e com muitas peculiaridades. É o espaço primordial do ator, onde ele exerce seu ofício na essência, sem disfarces, sem truques, de peito aberto. É o lugar sagrado do ator. Talvez esse fator explique muitas sensações que nos invadem enquanto experimentamos esse lugar que não estamos acostumados como expectadores.
Mas o que temos? Uma forma diferente de sentir e viver o teatro, mas independente de todas as estranhezas ele está lá: vivo pulsante, potente, ultrapassando barreiras, se adequando, exercendo seu papel transgressor. Sem deixar de ser o que é. Isso é lindo de ver. Somos testemunhas de um tempo de reinvenção, um marco histórico na humanidade, e assistir o teatro se reinventando é motivo de comemoração. Atualmente é assim que ele se apresenta, ou melhor, se representa.
Sabemos que é uma fase e vai passar. O melhor é que teremos o que contar, e, sobretudo, a certeza de que o teatro cravou sua presença já deixou sua indelével marca para posteridade. Teatro virtual é teatro? A pergunta vai permanecer ainda por muito tempo. De toda maneira, essa nova forma do teatro chegou e certamente ficará como possibilidade. Mas que importa? Daqui a milhões de anos, quando só formos história, teremos feito história.
Por Rogéria Gomes
Bate Bola com Adriana Câmara
‘As Palavras da Nossa Casa’
Sábados, às 21h, e aos domingos, às 20h
Vendas online:www.sympla.com.br/nucleoteatrodeimersao
- Você é formada em artes cênicas e teve experiência internacional na London Academy. O que esse aprendizado somou para você na pratica cênica?
Acho que a formação é fundamental para o ator. Ela possibilita que o ator conheça, domine, molde seu instrumento de trabalho: seu corpo, sua voz, que ele já usa na vida, de maneira automática, sem pensar a respeito, mas agora aprende a usar em função de uma narrativa e com um pensamento estético. Posso dizer que toda formação que eu tive, em todos os cursos que fiz, somam para a minha prática cênica, como atriz e como diretora.
- Entre suas atividades está a pesquisa que faz parte da proposta do Núcleo de Teatro de Imersão. Que tipo de pesquisa vocês se propõem?
O Núcleo Teatro de Imersão pesquisa teatro imersivo, ou seja, formas de trazer o espectador para dentro do espaço físico ficcional, habitado pelos personagens. O objetivo é que o público, ao assistir ao espetáculo, fique tão imerso, que tenha a sensação de que está flagrando uma situação real. Tudo contribui para esse objetivo na montagem: espaço arquitetônico, mobília, objetos, figurino, acessórios, interpretação dos atores, marcação de cena, cheiros (de alimentos, de perfumes), sons ambientes. Tudo precisa estar integrado ao tempo da história, à classe social dos personagens, ao estado de espírito deles, à narrativa. Tudo tem de parecer real.
- Que fontes te abastecem como atriz?
A minha principal fonte é a obra a ser trabalhada. Então, eu faço um trabalho de destrinchar o texto e a personagem, de descobrir suas intenções, suas motivações, de criar seu subtexto a cada momento do seu percurso, para, a partir daí, transformar a personagem em voz, em corpo, em movimento, em relação com os demais, com o objetivo de contar essa história, em harmonia com os demais elementos do espetáculo. Para mim, isso é o fundamental: contar a história, e, como atriz, sei que sou um elemento do espetáculo, como os outros atores, o figurino, o cenário, a música, os cheiros, a marcação de cena, e que todos esses elementos são unidos, distribuídos, enfatizados ou reduzidos, em função de algo maior, que é a história a ser contada. A literatura é outra fonte importante para mim, pelo olhar que ela lança sobre a alma do ser humano.
- Que olhar tem para o teatro contemporâneo?
O teatro contemporâneo é plural. Você vê de tudo, todo tipo de produção, mais narrativa, mais desconstruída em termos dramáticos, em palco à italiana, em arena, na rua, e produções imersivas, como as nossas… Há opções para todos os gostos, todos os perfis, há a chance de conhecer tantos tipos de encenação. Eu acho isso algo magnífico.
- A peça em que está atuando, “As Palavras da Nossa Casa”, aborda relações familiares, em especial de mãe e filha, com recortes de vários filmes do cineasta sueco Ingmar Bergman, iniciou com temporada presencial. Vocês adaptaram e agora apresentam a versão on line. Fale sobre a idéia da peça e como está sendo a adaptação.
O espetáculo acompanha a visita de uma mãe a uma filha que ela não vê há muitos anos. Durante esse encontro, acabam sendo reveladas as mágoas que elas guardam uma da outra.
Na montagem presencial, ambientada na década de 60 e montada na Casa das Rosas, um casarão da Avenida Paulista, em São Paulo, a mãe chegava na casa da filha e do genro, carregando as malas, e, à medida que ia se acomodando, os conflitos iam se desenvolvendo. Na montagem, os atores circulavam de cômodo em cômodo, subindo e descendo a escada, e acompanhados pelos espectadores, em tempo real. Não havia separação entre palco e plateia, os espectadores ficavam espalhados pelo espaço e os atores circulavam entre eles. Como a cena acontecia à frente, ao lado, às costas, ao redor dos espectadores, estes precisavam, a todo momento, fazer escolhas entre as ações e reações a observar e aquelas que deixariam de ver, pois, simultaneamente, a ação de um personagem podia estar acontecendo à frente dos espectadores, a reação a ela podia estar se passando às suas costas, e outra situação, envolvendo outros personagens, podia estar ocorrendo ao seu lado. Os cheiros dos alimentos de cena (biscoitos de baunilha, café) e dos perfumes das personagens e seus ambientes também eram destacados pela encenação, para aumentar a sensação de imersão do público. Essa temporada lotou todas as suas sessões até ser interrompida pela pandemia.
Então, recriamos o espetáculo numa versão que acontece online, ao vivo, pelo Zoom. O espetáculo continua imersivo, mas agora a imersão é virtual. Em lugar de estar fisicamente presente no espaço físico dos personagens, agora o espectador fica virtualmente presente no espaço virtual dos personagens.
- Houve estranhamento em fazer teatro desta forma?
Sim! Sem dúvida! O principal estranhamento foi a questão do olhar. Como a visualização da posição na tela de cada ator varia para cada um de nós e também para cada espectador, não podemos atuar olhando para o outro ator, pois a direção de olhar podia ficar trocada. Para parecer que o ator estava olhando para outro ator, o olhar tem de ser feito para a câmera, não para a imagem do outro. Então, nós agimos e reagimos sem enxergar o outro senão com a visão periférica, tomando por base a voz do outro e as ações e reações observadas durante a temporada presencial e todo o período de ensaios. Além disso, todos nós precisamos, em maior ou menor grau, de óculos para ver de perto, mas eles refletem a luminosidade da tela, de modo que só podem ser usados em momentos específicos, justificados pela narrativa. Assim, muitas vezes, os atores enxergam um ao outro apenas como um borrão.
A ausência do corpo do público também é algo estranho. Embora nossos espetáculos presenciais não sejam interativos e nossos personagens ajam como se os espectadores não estivessem lá, nós sentimos/ouvimos/vemos suas reações, pois eles estão todo o tempo muito perto de nós. Agora, apenas uma tela com uma lista de nomes presentes na sala nos faz acreditar que não estamos sós. Por isso, é tão preciosa para nós a conversa que temos com os espectadores quando a sessão acaba. É quando temos a chance de descobrir que o público é real e saber a sua opinião sobre o trabalho.
- Quais os principais elementos que precisaram ser adaptados?
Para transformar a versão presencial nesse formato virtual, a principal mudança foi no texto. Transferimos a história para os dias atuais, durante a pandemia, para que essa visita da mãe à filha acontecesse virtualmente, através de videoconferência, como tem ocorrido com diversas famílias atualmente. Como os três atores vivem em casas separadas, precisamos justificar por que o genro e a filha não estão ocupando a mesma tela, e fizemos isso explicando que o genro está de quarentena, pois havia tido contado com uma pessoa que fora diagnosticada com COVID. Inserimos alguns hábitos e os temores trazidos pela pandemia na trama, e invertemos algumas situações do texto original, para que o diálogo pudesse fluir com naturalidade no novo formato. Excluímos toda ação e marcação de cena que exigia contato físico entre os personagens. Atualizamos o figurino para os tempos atuais, mantendo ainda a paleta de cor original. E adaptamos os cenários das nossas casas para que estivessem no estilo das personagens.
Até 27 de setembro de 2020
Sábados, às 21h, e aos domingos, às 20h / Ingressos: R$ 20
Vendas online: www.sympla.com.br/nucleoteatrodeimersao
Site: https://www.nucleoteatrodeimersao.com/
Umas Palavras
‘Persona’
No escuro das palavras, letras.
No embaralhar delas, você.
No estalar de ossos, nos embaralhamos.No esticar das fibras peles, laços.Neles, abraços.Massa de modelar que acompanha os finos traços do meu pensamento.Você, que vem de dentro.Personagem que não criei.Paira em saraus, no espaço;À beira dos livros sem capa.Sobrevoa o deserto que há em mim,No rasante das planícies.E me move em cataventos. Em constantes deslocamentos. A fazer-se sentir, sem ter te tocado.E, na solidão dos meus momentos, seduz.Vem me dar a luz, pra eu te ver nascer.
Daniela Lobo – jornalista e escritora
Premiada no Concurso Nacional de Novos Poetas
Boa História com Daniela Lobo – ( Instagram e Youtube)
Na Estante
Teatros do Rio, constitui um livro ímpar para a história do teatro brasileiro sob o ponto de vista de memória. O titulo é assinado pelo destacado cenógrafo Jose Dias e traz um amplo inventario dos teatro construídos no Brasil desde o início das casas de espetáculos por aqui, isso significa desde o sec XVIII chegando ao século XX. Um resgate fundamental para pesquisa e memória. O livro apresenta detalhes de construção, localização, plantas raras, além de situar o leitor na época inserida àquele contexto. Um valioso título não só para profissionais do teatro mas para interessados na história artística brasileira.
A Eleição Disruptiva propõe uma reflexão sobre as razões que levaram Jair Bolsonaro à Presidência da República. O livro é de autoria de Mauricio Moura, economista e Juliano Corbellini, cientista político. Os autores apresentam questões como a operação ‘lava jato’ uma onda social que pressionava o sistema de fora para dentro , representado pela população que se sentia negligenciada e por esse entre outros fatores promoveu uma nova e inesperada conduta política levando Bolsonaro ao poder. Um análise que merece atenção e explica um pouco do Brasil atual.
Boas da Quarentena
‘Para Duas’ com Karin Rodrigues, Chris Couto e Claudio Curi. A trama retrata um inusitado reencontro entre mãe e filha após anos. Ao misturar momentos de drama e humor, o texto aborda uma sensível reflexão sobre escolhas e consequências, amor e recusa, solidão e presença, além de evidenciar a fragilidade da culpa e do perdão.
Aos sábados, às 21h.
YouTube – http://bit.ly/youtubenossocultural
Facebook – http://bit.ly/facebooknossocultural
Instagram – @nossocultural
Gratuito.
‘O Pior de Mim’ é um trabalho em que Maitê Proença revisita a história de sua vida desde a infância até os dias de hoje. Ela faz, em cena, uma reflexão sobre como sua conturbada história familiar repercutiu na vida pessoal e carreira.
Sempre às quartas de setembro, às 17
ingresso: R$10,00
https://www.sympla.com.br/eventos
‘As Bambas’, contação de história encenada pela atriz Paulinha Cavalcanti é um projeto que homenageia mulheres do samba. Serão lembradas as histórias de Clementina de Jesua, Dona Ivone Lara, Jovelina Pérola Negra e Lecy Brandão.
Dia 19/9/2020 às 11h
YouTube (@portalsescrio) e Facebook (@SescRJ)
Gratuito
‘O MAR – Museu de Arte do Rio e a C. Galeria’ e o diretor Renato Rocha leva às ruas seu Núcleo de Artes Integradas – NAI -grupo internacional e pluricultural- para intervenção urbana e arquitetônica a respeito de aglomeração e distanciamento em tempos de pandemia do Covid-19.
De 13 a 29 de setembro
Locais: Centro, Zona Norte, Zona Oeste, Baixada Fluminense e Zona Sul
Datas: As datas da programação serão avisadas no próprio dia, poucas horas antes do início de cada ação, para evitar aglomeração, mas também para surpreender do público de cada localidade.
Para assistir pelo Instagram: #nucleodeartesintegradas
Jay Vaquer cantor e compositor ,apresenta show trará no repertório todas as músicas mais pedidas e aguardadas com entusiasmo por seu público fiel que, dessa vez, vai incendiar suas próprias salas ao som de muito rock’n’roll. Desta vez pelo teatro Rival ao vivo pela internet .
Única Apresentação : 26 de setembro, às 20 horas
No Teatro Rival lives com diferentes convidados e temas.
Dia 14-09 – O produtor Marcos Salles presta homenagem ao cantor e compositor Arlindo Cruz com participações de diversos artistas e amigos, como Sombrinha, Anderson Leonardo, o diretor Túlio Feliciano, Sereno e Ademir Batera, ambos do Fundo de Quintal.
Dia 15-09, a vez é de Juninho Thybau, cantor e compositor que tem samba no DNA. Afinal de contas, é filho do compositor Beto Gago, neto do violonista Thybau e sobrinho de Zeca Pagodinho.
Dia 16-09, “Letra e Música”, apresentação da jornalista Bia Aparecida, filha de Dorina, conversando com grandes letristas da música brasileira.O primeiro convidado é Paulo César Feital.
Dia 17-09- A proposta é de bate-papo com dois jovens sambistas: Enzo Belmonte e Leo Russo.
As lives rolam às 17h da tarde no Instagram @teatro.rival.refit.
‘A Protagonista’ espetáculo que reflete sobre a livre atuação da mulher na sociedade tomada por vigilância e opressão. A cada apresentação há uma atriz convidada que não conhece o texto e entra em cena para jogar com as atrizes fixas do elenco. O enredo se constrói em torno da convidada, a qual, sem o saber, torna-se a protagonista da cena, identificando-se como mais uma mulher sendo vigiada.
De sexta a domingo às 20h
No Instagram do Coletivo Paralelas (@coletivoparalelas) ou o enviando um e-mail para [email protected] . Nesse formulário você irá informar o dia para o qual deseja que seu ingresso seja reservado. O link/ID de chamada na plataforma Zoom será disponibilizado 1 hora antes de cada apresentação.
Gratuito
‘José Henrique Nogueira’ professor e terapeuta musical com vasta experiência propõe possibilidades terapêuticas da música em indicações como estresse, ansiedade, depressão, autismo, síndrome de Down, alzheimer e transtornos psiquiátricos. Os encontros acontecem onlines .
Site: www.espaco23.com
Facebook:https://www.facebook.com/EspacoMusical23/
‘Parece Loucura mas há Método’ apresenta nove personalidades shakespearianas vão se enfrentar numa arena de ideias, sendo tudo conduzido pelas intervenções de um Mestre de Cerimônias. O publico participa ativamente e a empatia do público com cada narrativa vai definindo a sequência de duelos de nosso jogo.
Sextas e sábados, às 20 horas; domingos, às 18 horas.
ingressos pela Sympla: https://www.sympla.com.br/armazemciadeteatro
O espetáculo é assistido online pelo Zoom.
Ingressos a partir de 10 reais. Você escolhe o valor do ingresso que quer adquirir. Independentemente do valor pago, todos assistem ao mesmo espetáculo
‘Faça Mais Sobre Isso’, é um monologo escrito e interpretado pela atriz Flavia Garrafa, que traz à cena uma terapeuta interpretada que traz para o público suas questões pessoais e também de seus pacientes. Uma comédia que faz pensar e com assuntos interessantes e atuais.
Até 4 de outubro
Domingos, às 19h
Ingressos: R$ 40 a R$ 60
Vendas: https://www.sympla.com.br/facamaissobreisso
‘Caso Cabaré Privê’ conta a história do filho do presidente que é encontrado morto. Uma investigação se estabelece e em determinados momentos da peça, o público é convidado a escolher a personagem que deseja acompanhar e ajudar na interrogação.
Sábados (às 21h) e domingos (às 20h)
A partir de R$20. / Capacidade: 50 espectadores.
Venda ingressos e acesso à transmissão: Sympla.com.br/pequenoato
‘Artistinha Solidário’, é um projeto idealizado pela atriz mirim Erin Borges, atriz mirim, que possibilita o acesso à cultura e formação artística para crianças que vivem em situação de vulnerabilidade. Artistinhas do projeto compartilham arte, empatia, conhecimento e tempo por meio de inúmeras iniciativas de voluntariado digital realizadas diariamente ao vivo, nas redes sociais, através de lives de contação de histórias, campanhas contra o Covid 19.
Instagram @artistinhasolidario
Escola Nacional das Artes, democratiza os estudos culturais, ensina, forma e qualifica profissionais chegando ao mercado com primeira escola online de artes do Brasil. Com um Sistema de Ensino exclusivo, conta com uma plataforma de streaming que permite a qualquer pessoa no mundo se conectar para assistir a aulas em vídeo que ficam disponíveis pelo computador, celular e tablet.
https://www.instagram.com/escolanacionaldasartes/
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Fale conosco: [email protected]
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