por Bruno Cavalcanti
Kiara Sasso
Show: Silhuetas
Data: 28 de março
Local: Teatro Porto Seguro – São Paulo (SP)
Um dos nomes mais requisitados do teatro musical brasileiro, Kiara Sasso (em foto de Edson Lopes Júnior) imprimiu seu nome no primeiro time de atores do gênero graças a uma série de papéis icônicos que desempenhou ao longo de uma carreira de quase 30 anos.
Foram títulos que levaram multidões aos teatros do eixo Rio-São Paulo, entre eles O Fantasma da Ópera, A Bela e a Fera, A Noviça Rebelde e Mamma Mia!, só para citar alguns blockbusters.
A atriz também emprestou sua voz a canções de personagens dos desenhos dos estúdios Disney, entre eles a protagonista da animação A Pequena Sereia. Contudo, ao longo dessa história, Sasso também se permitiu dar passos mais arriscados, promovendo uma desconstrução de sua imagem imaculada perante os fãs do gênero. Foi assim em espetáculos como Tudo é Jazz (revista sobre a obra dos compositores John Kander e Fred Ebb), Hair e, mais recentemente, A Madrinha Embriagada.
É essa dose de risco que falta a Silhuetas, primeiro show solo da artista que fez sua estreia nacional na última terça-feira, 28, no Teatro Porto Seguro, em Campos Elíseos. Verdade seja dita, ao longo de uma hora e meia, Sasso entregou ao público – que lotou a casa – exatamente o que eles esperavam: uma série de hits que marcaram as personagens que viveu.
A abertura, ao som de I’m a Star, do nova-iorquino Scott Allan, foi repleta de mise-en-scène e deu a impressão de que a cantora exploraria outros caminhos. Impressão passageira. A partir da segunda canção, I Am Changing (tema do musical Dreamgirls), Sasso entregou uma série de baladas que, justiça seja feita, caem como uma luva em sua voz, mas soam repetitivas.
A partir do quarto número, a atriz passeou com maior clareza por sua própria carreira, revisitando temas como Home, de A Bela e a Fera, Think of Me, de O Fantasma da Ópera e I Have Confidence, de A Noviça Rebelde, todas em versionadas para o português com fluência por Cláudio Botelho.
Bastante à vontade em cena, Sasso entrelaçou momentos ternos (Slipping Through my Fingers, bonita canção lançada pelo grupo sueco Abba em 1981 e incorporado ao musical Mamma Mia!) com temas de acento poético, como La Vie en Rose, clássico do repertório de Edith Piaf (incorporado ao musical biográfico Piaf).
Aliás, quando transitava por títulos fora do universo dos musicais, a cantora arrebatava alguns dos melhores momentos de Silhuetas. Foi assim em At Last, de Etta James, que gerou bonito momento dedicado ao diretor do espetáculo Lázaro Menezes (não por coincidência, marido da estrela).
Menezes conseguiu construir ao lado de Sasso um roteiro linear que, sim, ameaçou soar monótono, mas saiu ileso. Muito se deve ao bom humor da cantora, que deu uma ou outra pitada mais saborosa, principalmente quando tratou dos testes nos quais não foi aprovada.
O melhor momento do show, inclusive, foi o mais curto, quando a atriz contou sua saga em busca da aprovação por um papel em Chicago, montado no Brasil em 2004, ao som de um dos temas mais saborosos da peça, Roxie. Foi a passagem de maior desconstrução da artista, que voltou a abordar mais baladas, como I Dreamed a Dream, do musical Les Miserablés e I Will Always Love You, o tema de Dolly Parton que Withney Houston tomou pra si.
Aliás, embora não adicionasse nada de novo ao tema que Houston gravou para a trilha do filme O Guarda-Costa, Kiara entregou bonita homenagem a sua avó e sua mãe. Foi, de fato, tocante.
Real surpresa da noite, a canção que encerrou o show, Empire State of Mind, de Alicia Keys, surtiu certo estranhamento naquele cenário em que teria cabido apostar num tema batido como New York, New York – como assumiu em cena ter pensado em fazer. Soou anticlimática, mas serviu para sublinhar a excelência da banda que a acompanhava.
Aliás, menção honrosa ao quarteto formado por Kiko Andriolli (bateria), Zafe Costa (sopro), Guilherme Terra (piano, direção musical e arranjos) e pelo excelente Webster Santos (violão, contrabaixo e baixo elétrico). O grupo é um dos melhores já postos em cena em um show do gênero.
Com um BIS que uniu concessivo tema do blockbuster juvenil Wicked à festiva Dancing Queen, Kiara Sasso entregou em Silhuetas, além de excessivas trocas de figurino, um espetáculo revisionista que transita em seu próprio universo, mas não sai do lugar comum. Para os fãs, um bálsamo benigno, mas Sasso pode (muito) mais.
Confira abaixo o roteiro seguido pela atriz na noite de terça-feira, 28 de março:
1- I’m a Star
2- I Am Changing
3- Since I Don’t Have You
4- Home (Um Lar)
5- Think of Me (Pense em Mim)
6- I Have Confidence (Eu Confio)
7- Slipping Through my Fingers (Fugindo Entre os Dedos Meus)
8- The Winner Takes it All (E Tudo ao Vencedor)
9- Part of Your World (Parte do seu Mundo)
10- How Far I’ll Go
11- La Vie en Rose
12- Roxie
13- I Dreamed a Dream
14- Popular
15- I Will Always Love You
16- I’m Here
17- At Last
18- Empire State of Mind
BIS:
1- Defying Gravity
2- Dancing Queen