por Aristoteles Drummond
Lendo aqui no portal da Anna sobre o livro que o veterano maitre José Fernandes vai lançar , imagino que deva ser interessantíssimo . Conheço e estimo o José Fernandes há mais de meio século – e ele certamente está entre os cinco grandes de seu tempo .
Hoje já não temos estes personagens que entraram para a vida e a memória daqueles que por eles foram atendidos de maneira tão pessoal, tão especial, que até já sabiam quem gostava do quê .
Na ativa, hoje, temos no Country a figura de Lucas , mais de 60 anos de Clube , para alegria de todos . Em Brasília, o emblemático Manuelzinho, que era o próprio Antiquarius – além do patrão Carlos Perico, uma referência inesquecível. Aliás, o José Fernandes andou por Brasília num excelente restaurante, no edifício da Confederação do Comércio.
Quando comecei a sair, muito jovem ( pois aos 19 anos já tinha três empregos para bancar as despesas), e o Rio começava a ter restaurantes de nível , o recrutamento dos maitres era feito no Country , como fez o Manuel Agueda para formar o seu Nino – fundado pelo italiano do mesmo nome mas que cresceu com Agueda – convocando o Ademar , primeiro maitre a ser doublê de sommelier . Daí por diante foi o Nino a formar um grande time , com Correa, Bezerra, Castro – que fundou o Montecarlo – Piergentino .
Os clubes eram boas escolas e teve o Araújo, do Iate, que foi para Salvador e voltou anos depois para abrir o Margarida’s, em Petrópolis.
Os estrangeiros como Robert Halfoun , do Bec Fin , já chegavam prontos , como a Irene e o irmão do Le Mazot , na Rua Paula Freitas, em Copacabana . No mesmo bairro, o Le Bistrot – que ficou famoso pela clientela de políticos e em especial do Ministrro Delfim Netto, que ali batia ponto diariamente – também tinha um time profissional de excelência . Inclusive o que fazia as vezes de vallet , o Pio , e o Zezinho, do bar . E no Sacha’s era o Príncipe Luis , homem que não ficou rico pois jogava em todos os cassinos clandestinos que haviam no Rio …..
Com este testemunhei um fato engraçado . Como ia lá todas as noites com o Heron Domingues, com quem trabalhava , fui procurado por um amigo aflito pedindo o meu modesto Fusca emprestado . Mas como estava sem carro , encaminhei ao Zezinho para emprestar o seu AeroWillys , o que foi feito de imediato, dada a dimensão social e econômica do amigo . É que ele era um dos raros donos de uma Mercedes do ano , dourada ainda por cima, e estava com uma conquista e nãopodia sair no carro dele, pois era recém casado . Foi com o AeroWillys do Zezinho e voltou uma hora depois, lívido, trêmulo , contando que havia sido assaltado no “beijódromo” no Arpoador e ainda levaram o carro . Muito rico , foi logo tirando o cheque do bolso e dizendo que comprava o carro pelo melhor preço e que depois se resolveria caso, se o Aero Willys fosse recuperado . O Zezinho , meio sem graça, coçou a cabeça e disse – mas doutor, o carro é o o de menos, a mala é que era preciosa , pois tinha uísque, champanhe, cigarros americanos e latas de marron glacê…
Bons tempos do Rio , em que pratos eram camarões à newburg, ou ao thermidor, ou à bordaleza , tudo carregado nos molhos , o supremo de frango Kiev , que foi lançado na Casa da Suiça pelo Volkmar Wendlinger. Hoje as coisas estão mais leves, mas nem por isso menos gostosas …