por Aleluia, Hildeberto
Tive a alegria e o privilégio de estar no Teatro NET, em Copacabana, Rio de Janeiro na noite de segunda feira 17 de fevereiro de 2014. Em apresentação normal, nesta data o espetáculo SASSARICANDO completava oito anos em cartaz por todo o Brasil. Como é sabido trata-se da crônica do carnaval no Brasil, com suas marchinhas irreverentes e deliciosas e aquelas românticas e encantadoras como Máscara Negra, no Século XX.
Aliás, a marchinha de carnaval nasceu com Chiquinha Gonzaga (Rio de Janeiro, 17 de outubro de 1847 — 28 de fevereiro de 1935) ainda no Século XIX . De autoria do excelente jornalista e escritor Sergio Cabral e da consagrada Rosa Maria Araujo, ao final dá vontade de agradecer aos dois por terem pensado algo tão encantador.
Um espetáculo despretensioso, simples, bonito, com acabamento impecável em termos de figurinos e produção e um elenco magistral sob a batuta do incomparável Eduardo Dusek e direção do sempre atento Claudio Botelho. Os autores estavam na plateia junto com os jornalistas Zuenir Ventura e Luís Fernando Verissimo, mais o embaixador Marcos Azambuja. Noite memorável.
Ao final, pela autora ficamos sabendo que a peça já rodou o Brasil inteiro. E por onde passa faz sucesso arrasador. Digno de nota é também, a pesquisa realizada pelo Cabralzão. Com a autoridade de quem conhece a história da música no Brasil, ele se supera não só no texto do espetáculo como na narrativa gravada e que é apresentada ao público no segundo ato. Marcha de carnaval é coisa nossa, brasileiríssima. Mas nada impediu o gringo ao meu lado de se deliciar tanto quanto os brasileiros.
Para quem tem mais de 60 anos, como eu, sabe que o carnaval mudou, perdeu seu encanto do passado, e encerrou um ciclo musical com o João Roberto Kelly de marchinhas e marchas- rancho. A alegria, a verve, a picardia, a malícia, e a crônica do dia a dia do país até o começo dos anos sessenta do século passado estão deliciosamente registrados nos seus versos, tanto social quanto político, econômico e comportamental. Tudo isso com criatividade, graça, leveza e sonoridade. A dupla Cabral e Rosa Araújo soube captar esse universo com maestria. Eles vão além.
Pelas marchinhas com suas letras saborosas e as imagens exibidas no espetáculo percebemos um Brasil que não mais existe. Até a alegria de hoje é diferente. Se for um espectador atento perceberá mais: o Brasil que prestava, de certa forma e sob certo ângulo, se encerrou com o ciclo das saborosas marchinhas de carnaval. Quando baixa a cortina, a melancolia nos invade diante desse Brasil atual cheio de problemas, de gente, de necessidades, de reivindicações e sem soluções.
Obrigado Sergio Cabral e Rosa Maria Araújo.
A única nota discordante da noite fica por conta do Teatro. Sua situação ainda não é lamentável. Mas está a caminho. A cidade do Rio de Janeiro merece que o Teatro NET receba uma reforma urgente. Seus proprietários e as Organizações Globo, que são parceiras importantes, devem isso ao povo carioca.
Aleluia, Hildeberto é jornalista
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