por Anna Ramalho
Noveleira militante, ainda assim não me arrisco sobre qual terá sido a primeira vez que vi Regina Duarte numa novela. Prestar atenção, mesmo, foi a partir de Véu de Noiva, na qual ela fazia dupla com o irresistível Claudio Marzo, que tanta saudade deixou. Daí em diante, ela ocupou a telinha em novelas emblemáticas – Vale Tudo e Roque Santeiro – além dos sucessos da Rainha da Sucata e as Helenas de Manoel Carlos. Sempre a considerei uma ótima atriz, apesar de não ser a minha preferida – implico com certos trejeitos dela, implico muito com a entonação da voz e, de uns anos pra cá, tenho implicado sobremaneira com o comprimento dos cabelos. Cabelo comprido ( e mal tratado, diga-se), quando já se dobrou o cabo da Boa Esperança, é meio ridículo. Acho que ultimamente seu grande papel na TV foi a Clô Hayalla, no remake de O Astro, no qual ela pôde mostrar sua multifacetada persona artística.

Ao lado do galã Claudio Marzo, quando despontou como Namoradinha do Brasil na novela Véu de Noiva ( 1968)

Regina Duarte com Glória Pires na época de Vale Tudo, quando vivia a sofrida Raquel, mãe de uma filha amoral, a pérfida Maria de Fátima (1988)
Como ser humano, sempre foi uma pessoa que admirei. Discreta em sua vida pessoal, pouco afeita a estrelismos tão em voga com essa celebs instantâneas que fazem post até de visita ao ginecologista e descarregam seus maus bofes sobre fãs quando não estão sob o foco das lentes. Ela me parece ser uma pessoa educada, cordial, daquele tipo que não nega selfie ( como o fazem muitas de suas colegas, misses simpatia em programas de auditório e verdadeiras cavalgaduras nos restaurantes e corredores de shoppings).
Tudo aparentemente certo em sua vida pessoal, a filha Gabriela, uma graça e boa atriz, muito bem empregada na Rede Globo ( fazia parte do cast dos intocáveis, ao lado de Fagundes, Tony, Glorinha, Tarcisio e mais uma meia dúzia de eleitos), com todos os privilégios devidos a uma diva.
Por tudo isso, ainda me pergunto: o que foi Regina fazer no governo Bolsonaro?
Não concordo e não concordarei jamais com sua adesão, mas defenderei sempre seu direito de apoiar “isso que tá aí´”, naquela expressão tão cara ao nosso capitão, cujo vocabulário é de uma pobreza franciscana.
***
No Fantástico, Regina conversou com o excelente jornalista e entrevistador Ernesto Paglia. De cara, fiquei chocada com o abatimento dela: em apenas uma semana, aparenta ter envelhecido 10 anos. Um ar de cansaço e desânimo incompatível com quem assumira apenas há 3 ou 4 dias o cargo de Secretária de Cultura. Nem a Raquel Accioli ficou tão fisicamente abatida com as maldades e perfídias da filha Maria de Fátima em Vale Tudo, que, como sabemos, duraram os 6 meses da novela.

Regina Duarte apareceu muito abatida na entrevista a Ernesto Paglia, no Fantástico do último domingo. O HD não perdoa, mas o abatimento é real e chocante
Regina estava abatida, triste, quase apática. Não posso jurar, mas acho que ali ela já começava a sentir o tamanho da encrenca em que se meteu. No dia seguinte, ficou claro. Se o noivado foi longo, o casamento parece desandar com tamanha velocidade que periga entrar para o Guiness. A Namoradinha do Brasil, tão adorada e paparicada por seus fãs ao longo de 50 anos, virou a vidraça do governo. Veio agressão de general, de quem devia ser subordinado, do pornográfico bruxo da Virginia, do sempre atrevido filho 02 – e é aí que mora o perigo. Se Regina caiu em desgraça com o pitbull do papai, periga não ser mais secretária quando eu acabar de escrever este texto.
***
Jamais aceitaria um cargo dessa relevância no governo Bolsonaro. Não tenho temperamento pra isso. Mesmo vivendo de salário, sempre na maior dureza e lutando a cada dia dessa minha já longa trajetória. Regina Duarte é dois anos mais velha do que eu, mas está tão bem de vida que pôde dispensar todas as mordomias da Globo por um salário de R$ 17 mil e qualquer coisa. Se o fez, tinha um projeto – ou pelo menos uma ilusão.
Pelo andar da carruagem, não recebe nem o contracheque do primeiro mês.
Toda essa história é muito lamentável. E não é uma novela – é vida real num país de destrambelhados.
Volta pra casa, Regina! Melhor ser Regina, a Breve do que a Geni da vez.