por Octavio Caruso
Nesse final de semana do “Dia das Crianças”, muitos amigos das redes sociais revisitaram nostalgicamente suas fotos antigas. E, nesse fenômeno de resgate psicológico, diminuíram consideravelmente as postagens sobre tragédias, os vídeos de extremo mau gosto sobre desgraças, o terrível lado “mundo cão”, como se aquela contraparte infantil simbolizada na foto não se sentisse confortável com aquele tipo de publicação. Isso não é um dado irrelevante, como pode parecer inicialmente, pois traz consigo uma válida reflexão. Acho que devemos aprender com as crianças o dom da esperança.
Acabamos de passar por um período sombrio, onde todos puderam testemunhar amizades virtuais sendo destruídas por ideologias políticas, com discussões acaloradas e, essencialmente, tolas, já que os interessados verdadeiros desses confrontos não dão a mínima para aqueles peões, medíocre estatística eleitoreira, que se matam em suas trincheiras, aguardando apenas a chance de ouro para conquistarem o, tão desejado, poder. E esses soldados desconhecidos esquecem os laços de amizade e respeito, atacando agressivamente aquele vizinho que pensa diferente.
Ao final da contagem de votos, o único que realmente ganha alguma coisa é aquele que menos é merecedor, aquele que se importa menos com o que está em jogo, o que desconhece qualquer noção de nobreza, altruísmo, ética e princípios: o político eleito. Já as cicatrizes dessas batalhas entre os peões não somem com o tempo.
Quando crianças, resolvíamos nossas discordâncias com mais afetividade. Não nos importávamos com disputas de adultos em época de eleição, apenas achávamos que a cidade ficava mais feia com todos aqueles santinhos jogados na rua e aqueles cartazes nas janelas e nos muros. A criança não duvidava por um segundo da incoerência daquele sistema que pregava a limpeza, enquanto patrocinava a sujeira. A criança não se ilude, não mente. Sabíamos que existiam aquelas outras crianças cujos pais não haviam dado educação, mas tentávamos sabiamente manter distância.
Eu me lembro do filho de um vizinho que adorava maltratar os gatos da rua, colocava fogo, dava tiros de chumbinho, sorria ao ver o animal sofrer. Hoje, com um número absurdo de vídeos grotescos sendo compartilhados sem qualquer bom senso, percebo que o sadismo daquele garoto se multiplicou. Como sonhar com uma sociedade digna onde os adultos são tão psicologicamente imaturos? A resposta está naquela criança de outrora.
Octavio Caruso – Ator, Escritor e Crítico de Cinema