Por Carlos Monteiro – Fotógrafo
Tenho falado constantemente do meu amigo Pe. Cláudio José Ribeiro, vigário da Paróquia de Santa Cecília, situada no bairro homônimo, na capital paulista. Nos conhecemos em um de meus ‘tours’ exploratórios, em templos e igrejas por onde vou, ando e passo. Foi numa sexta-feira à tarde, tinha uma reunião no Centro de São Paulo. Após almoçar com a Luciana, mãe da Lívia, no belo no Bar Jaguar Bar – o nome homenageia o hotel que o encimava, desde os anos 1940 e que encerrou as atividades em 2017 – [mas pode ser uma homenagem ao nosso querido cartunista-mor], todo colorido de rosa, com decoração retrô e, vê-se, garimpada pelos brechós que abundam na região, que embeleza o térreo de um dos raros edifícios ‘retrofitados’ no Centrão paulistano, ali na barulhenta avenida Duque de Caxias. Foram degustados, sobriamente, dois bons e maravilhosos bifes à milanesa acompanhados de chá de hibiscus com alecrim e flor comestível. Conta paga, caminhamos até a Folha, na Barão de Limeira e, de lá, segui solitário para a estação do Metrô, cuja paróquia batizou. Como era muito cedo para o concílio na Paulista, aproveitei o momento para conhecer aquela igreja ao lado de uma das entradas do subway paulistano. Taciturna, porém com iluminação perfeita, fui explorando cada altar, além do mor é claro, cada espaço, cada afresco, o velário externo, as imagens, os desenhos criados pelos mosaicos e a simetria entre os afrescos. Logo notei que ali havia algo a mais que em outros templos, tinha um quê diferenciado. Já de saída percebi que no confessionário se encontrava um jovem padre, circunspecto em sua leitura, devidamente trajado com a tradicional batina negra, de botões que vão dos pés ao pescoço, a mesma do Padim Padre Cícero, no sentido do modelo é claro. Sempre me intrigou como fazem para abotoar tudo aquilo. Me aproximei, pedindo licença por incomodar a leitura, mas ávido por saber mais sobre aquele espaço sacro, fui logo enchendo os ouvidos daquele vigário com perguntas e mais perguntas em forma de uma ladainha. Extremamente solícito, não só me deu detalhes da obra, a única em que Benedito Calixto – sim o da praça com a feira de antiguidades aos sábados -, que, além de atuar como arquiteto, também promoveu a pintura dos afrescos e dos ornamentos, me levou a conhecer os espaços internos daquela magnífica obra, me informando detalhes e curiosidades de alguém que, de fato, tem amor pelo seu espaço de trabalho. Como todos sabem, sou absolutamente tímido e não costumo entabular conversas com tom entrevistador [rsrsrs]. Cláudio me contou sua história, como chegou à São Paulo, como se formou em Direito e exerceu a profissão durante vinte anos numa empresa e como entendeu sua vocação. Todos os dias, após o almoço, Cláudio ia, rigorosamente, fazer suas orações na igreja Nossa Senhora do Brasil. Todos os dias, fizesse Sol ou chuva, lá estava ele, cristão fervoroso, a professar sua fé. Esta rotina, acabou chamando a atenção do pároco daquela igreja, diga-se de passagem simpaticíssima, que o ‘confrontou’ se não haveria ali uma profissão de fé. Cláudio titubeou, negou, mas sabia bem, lá no fundo, que aquele era seu caminho. O pároco insistiu, o estimulou a fazer uma experiência, quem sabe… nada, achou aquilo fora de propósito e continuou sua rotina causídica.
Passado um ano, Cláudio, em seus devaneios internos, suas súplicas divinas, achou que seria hora de arriscar, caminhar quarenta dias pelo seu deserto interior. Pediu demissão. O proprietário da empresa não acreditou, aliás não acredita até hoje; mantém sua sala intocável na empresa. Foi para o seminário e lá passou dez anos em estudos. Teologia, filosofia… Cláudio não é só um vigário, é um humanista cuja missão maior é o respeito. Suas atitudes são dignas, sensatas e perpetuam as palavras do Cristo. Se porta com fidalguia, atende aos necessitados, traz paz e esperança a quem busca uma palavra de consolo. Seu melhor amigo é espírita, se respeitam; outro grande amigo é pastor da Igreja Batista, creiam, se visitam para os cultos, acompanhados de seus fiéis! Em dois de fevereiro, fez uma ode a Yemanjá, mostrando que a fé brasileira é manto sagrado, porque a fé jamais falhará! Cláudio enxerga muito além, vê n’otrem um irmão, não importa sua religião, desde que seja voltada para o bem, para a caridade e amor, vê a benevolência como meta, vê o amor como referência maior, enxerga o amanhã, o porvir. Cláudio mostra a que veio neste planeta. Nosso papo rendeu de tal forma que acabei perdendo a reunião, remarcada para a segunda. Tudo vale à pena quando a alma não é pequena. Hoje somos os ‘maiores e melhores amigos de infância’. Saudades dos nossos papos pessoais.
Cláudio fez de sua vida uma profissão de fé!
Amar ao próximo como a ti mesmo, é a marca registrada dele!