por Mariza Gualano
Não é raro encontrarmos personagens principais ou pelo menos de muito destaque a ponto de titularem os filmes que não os atores, ou melhor, os papéis que interpretam. As cidades já ocuparam esse lugar inúmeras vezes. Haja visto Filadélfia, Casablanca, Paris, Texas, Fargo, New, York , New York. Bonecos, geralmente assustadores, também fazem parte da lista. Alguns podem se lembrar ou conhecer, outros não, no entanto, gravaram seu nome no hall da fama. E quem viu, sabe que é difícil esquecer de Chuck, Annabelle, Brahms, Billy. Porém, menos comum, mas não menos relevante, é o protagonismo de armas no cinema. Winchester 73, Magnum 44 e simplesmente um rifle, que ficaram com o título de suas respectivas produções, despertaram atenção, se tornaram estrelas e ganharam fama.
Lin McAdam (James Stewart) participa de um concurso de tiros para ganhar o melhor rifle já fabricado no mundo. Porém, após vencer a competição, seu precioso prêmio é roubado por um antigo adversário. Inconformado, vai atrás do ladrão em busca de seu valioso tesouro. Não é para menos. A Winchester ‘73 é uma arma poderosa e possui uma das miras mais precisas que existem. Era conhecida, na vida real, como a arma que conquistou o Oeste. No filme Winchester’ 73 (1950), dirigido por Anthony Man, a cobiçada espingarda recebeu a alcunha de “uma em mil” e é tratada como um personagem onde o espectador acompanha sua trajetória e destino dentro da história.
Em Magnum 44/Magnum Force (1973) com direção de Ted Post, o detetive Harry Callahan (Clint Eastwood) ressurge para descobrir quem está assassinando os principais chefões do crime de São Francisco. O policial durão foi apresentado ao público em 1971, em Perseguidor Implacável/Dirty Harry, na obra de Don Siegel. O personagem ficou célebre por usar métodos pouco ortodoxos para acabar com a bandidagem. Vários criminosos e facínoras foram vítimas da fúria e rapidez da sua companheira inseparável, uma Magnum 44. A arma é um revólver Smith & Wesson, modelo 29 e é praticamente uma extensão da mão do legendário inspetor. A coadjuvante fez tanto sucesso que mereceu o título do filme seguinte. O final da sequência em que Harry come um cachorro-quente e agarrado à sua Magnum impede um assalto a um banco marca o começo de uma era de determinados tipos de agentes policiais no cinema.
Em contexto completamente diferente, mas com a mesma relevância dada ao artefato letal, temos o brasileiro Rifle (2016) com direção de Davi Pretto. Dione, interpretado por ator do mesmo nome, trabalha em uma pequena fazenda. Quando o lugar recebe a visita de empresários, corre o risco de ser posto à venda. Diante da perspectiva de todos os funcionários serem demitidos, o introvertido homem do campo começa uma empreitada solitária de resistência através da impulsividade e violência. Empunhando um rifle, impede e afasta qualquer um que ache que pode invadir o espaço a que pertence e que lhe é sagrado. O misantropo e reservado Dione parece estabelecer uma relação legítima e de intimidade apenas com a arma que carrega consigo todo tempo.
Embora não tenha ganho os letreiros das fachadas de cinema, a metralhadora Lurdinha ficou eternizada por José Wilker ao interpretar Tenório Cavalcanti, um violento político da Baixada Fluminense em O Homem da Capa Preta (1986) de Sérgio Rezende.
Fora das telas, o verdadeiro machado utilizado por Jack Nicholson em O Iluminado (1980) de Stanley Kubrick, foi arrematado num leilão, em 2019, por quase R$ 870 mil. Recentemente, foi posta à venda mais uma vez. Que fique emoldurado na parede do comprador!
No cinema, armas são divas muito fogosas.
Na vida real, que elas tenham cada vez menos papéis relevantes.