
A fama de alegrinho do brasileiro nem sempre é levada a sério pelas editoras. Um olhar mais reflexivo sobre as vitrines de livrarias perceberá anúncios do Apocalipse contrabalançados pelo determinismo genético com que alguns justificam o comportamento da humanidade. Ao lado desses, a ajuda para as angústias da vida atual sai do anonimato dos consultórios psicanalíticos para a apreciação pública. Angústias que se engendram na infância, eterna fonte da inspiração de muitos romances, surgindo, muitas vezes, em contraponto a uma situação de morte na família. Tanta melancolia está à disposição dos leitores em lançamentos recentes – como os que se seguem.
O alarmismo da Futurologia se baseia em fatos mais do que comprovados. O aquecimento global pela devastação ambiental e a urbanização da vida contemporânea conspiram para o fim da espécie. O planeta há de se recuperar, mas a vida humana pode ficar impossível, alerta o biólogo Stephen Emmott em 10 bilhões (Intrínseca, R$ 19,90). O título se refere à projeção estimada da população do planeta ao fim deste século. Emmott é pessimista, já que a maioria das nações permanece inerte frente às recomendações da comunidade científica de que adotem tecnologias “limpas” e reduzam o consumo de supérfluos.
Consultor em neuromarketing e em biologia do comportamento do consumidor, Pedro de Camargo afirma que a cura do consumismo está na compreensão – pelas mulheres – dos ciclos hormonais que induzem a compensação de frustração através de compras desnecessárias. Eu compro, sim! Mas a culpa é dos hormônios … (Novo Conceito, R$ 24,90) trata de culpa, sex appeal, reprodução e dos hábitos de consumo relacionados ao sexo feminino. Divertido, determinista e machista (aparentemente, homens são menos consumistas do que as mulheres, ou, ao menos, não são os alvos favoritos dos publicitários), o livro não deixa de ter uma mensagem ambientalista – já que a produção desenfreada para satisfazer ávidos compradores é um dos fatores poluentes que assombram a Terra.
Se o título lembra os manuais de autoajuda, A vida em análise – Histórias de amor, mentiras, sofrimento e transformação (Zahar, R$ 39,90), do psicanalista norte-americano Stephen Grosz, está bem mais próximo da ambientação sombria da série televisiva Em Terapia, do que do otimismo contido nos guias que pretendem ensinar o leitor a superar suas próprias dificuldades. Mais de 50 mil horas de conversas, ao longo de 25 anos, são concentradas nas histórias de trinta pacientes, que ilustram como o processo psicanalítico se constrói.
Nitidamente calcado na vida do escritor alemão Günter Grass e de seus oito filhos (seis biológicos, dois adotados), A caixa – Histórias de uma câmara escura (Record, R$ 42 ) narra os encontros dessa família, que muda de tamanho a cada um dos quatro casamentos do pai. As reuniões são registradas fotograficamente em uma velha câmera Agfa – a caixa do título – por Marie, personagem que representa Maria Rama, uma amiga do autor a quem o livro é dedicado. As reminiscências dos filhos mostram a solidão das crianças que assistem à celebração da genialidade do pai – Grass ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1999 –, que abandona o grupo a cada novo amor. Por trás da exuberância estilística de Grass surge um belo acerto de contas entre uma família completamente fora dos padrões da dita normalidade ocidental.
Solidão semelhante enfrentam os protagonistas de Amanhã não tem ninguém (Rocco, R$ 28), de Flávio Izhaki, que se revezam para narrar a história de uma família judia no Brasil. Encerrados em mundos interiores distintos, eles compartilham a herança cultural e se deparam com novas oportunidades diante da morte do patriarca. Casos que encantariam qualquer terapeuta freudiano.
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