por Reinaldo Paes Barreto
Introdução: a pizza é um dos pratos mais populares do mundo, sendo que a original, italiana de Nápoles, é composta de um disco de massa de farinha de trigo fermentada e assada em forno à lenha, coberto com molho de tomate, com algum tipo de queijo e manjericão em cima. A pizza napolitana foi tombada como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, pela Unesco, no ano passado.
Corte: entrei no Grupo Gazeta Mercantil, como diretor, em 1991 e logo estabeleci uma relação de amizade, admiração e parceria gourmet com o “dono”, Luiz Fernando Levy. Uma figuraça! Divertido, com uma visão holística da vida, teve um fim previsível, mas que não merecia – mas é uma outra história. Bom, e eu trabalhava na Sucursal Rio (até porque o meu outro chapéu era dirigir o Instituto Herbert Levy, focado em cultura e meio-ambiente e cuja sede era a bela casa 32 do Largo do Boticário) e o Luiz Fernando vinha ao Rio todas as semanas e, daqui, voava para o “outro Brasil” – ou o mundo.

Luiz Fernando Levy
Um dia, recebeu um convite para jantar do então instigante novo presidente da Argentina, Don Carlito Menem. Jantar de sexta-feira, na Quinta de Olivos, residência oficial do PR daquele país. Está para a Casa Rosada, como a Granja do Torto para o Palácio da Alvorada, em Brasília.
Na segunda seguinte – bem Luiz Fernando! — ele comunica que iríamos todos almoçar no escritório, contrariamente a todos os outros dias em que saíamos para almoçar em algum bom restaurante (no Rio, em São Paulo ou alhures). Era uma religião.
Tipo 13h ele nos chama à sala dele e lá repousavam meia dúzia de pizzas tradicionais e idem número de champagnes rosés. Que saboreamos alegremente, à La Menem.

eu com a pizza e a garrafa de champagne
Ou seja, o “milongueiro” mor da política argentina bolou esse jeito sofisticado-pop de reunir nos fins de semana convidados, inclusive internacionais como era o caso, para papos intermináveis em torno dessa homenagem à duas grandes damas: a Raínha Marghrita e a Veuve Clicquot. E… “fazer a diferença”
Segundo a literatura, este prato popular remonta à fase final da Antiguidade e a origem da palavra pizza tanto pode proceder do alemão “bizoo” que significa pedaço de pão, quando do grego “pitta” (bolacha). Gosto dessa versão, porque já há três séculos antes de Cristo os gregos costumavam acrescentar ao pão coberturas como queijo e tomate. E como o pão deles era parecido com o pão sírio que conhecemos hoje, redondo e chato como um disco, tem cara de bolacha.
Já segundo o mestre J. A. Dias, esse “casal” pão e tomate é a marca de Nápoles e a pizza era vendida nas ruas. Mas, segundo ele em um livro com este título, a primeira vez em que a pizza ganhou status de iguaria de elite foi em 1889 quando o pizzaiolo Raffaele Esposito compôs a Pizza Margherita, em homenagem à rainha homônima que foi uma pioneira da gstronomia ítalo-francesa. Foi assim: os reis italianos Umberto I e Margherita estavam passando uma temporada na cidade e quiseram provar o famoso quitute. Mas como não ficava bem para a nobreza ir à uma pizzaria, pediram, então, para ela ser entregue em casa. E além do delivery o napolitano bajulador preparou a pizza cobrindo-a com mussarela, tomate e manjericão, ingredientes com as cores da bandeira italiana, para homenagear as altezas reais.
Curiosidade: o site hridiomas localiza a expressão “tudo acabou em pizza” como originário da linguagem do futebol, a partir do seguinte episódio. Na década de 60, alguns cartolas do Palmeiras se reuniram para resolver problemas do clube e passaram 14h seguidas discutindo; por fim, exaustos e famintos, foram à pizzaria mais próxima e pediram 18 pizzas gigantes e muito chope. Não deu outra: as brigas e altercações da tarde cederam lugar a gargalhadas, tapinhas no ombro e demonstrações de grande camaradagem. O repórter Milton Peruzzi, que trabalhava na Gazeta Esportiva, cravou a então a seguinte manchete no dia seguinte: “crise no Palmeiras acaba em pizza!”