por Mariza Gualano
O livro Festa no Covil do mexicano Juan Pablo Villalobos conta a história do pequeno Tochtli encastelado na fortaleza de um cartel da droga chefiado por seu pai. Através de seus relatos infantis e fantasiosos, o leitor toma conhecimento de uma realidade assustadora e cruel em que o menino está inserido e com a qual lida ingenuamente em busca de realizar seus desejos e caprichos. O contexto assustador experimentado por uma criança em sua inocência nas páginas desse livro, remete a abordagens cinematográficas similares.
O neto de cinco anos (Dachi Orvelashvili) do presidente (Misha Gomiashvili) de um lugarejo fictício no Cáucaso habita um palácio cercado de luxo e riqueza. Seu avô é um ditador sanguinário, mas a pureza do menino não o deixa ver a maldade e despotismo do tirano. Admira o avô, que manda acender e apagar todas as luzes da cidade só para impressioná-lo.
Jack (Jacob Tremblay) tem cinco anos e vive enclausurado com a mãe (Brier Larson) dentro de um quarto. Sequestrada e violentada por Nick (Sean Bridges) há sete anos, o menino só conhece o mundo através da televisão. Joy cria uma rotina de brincadeiras, passatempos e exercícios para o filho numa tentativa de diminuir o peso do horror de viver em cativeiro.
As duas crianças, mesmo tendo vivências diametralmente opostas, são encantadoras em sua ingenuidade, seu amor pelos respectivos cuidadores e em sua maneira de lidar com seus universos tão díspares. E mal sabem como seus destinos irão surpreendê-los. Jack, do filme O quarto de Jack/Room (2015) do cineasta irlandês Lenny Abrahamson, é libertado, encontra amigos, família e um ambiente acolhedor. O neto do ditador não tem a mesma sorte em O presidente (2014) do realizador iraniano Moshen Makhmalbaf. Após um golpe de estado, os dois perambulam pelas ruas da cidade disfarçados, torcendo para não serem reconhecidos e convivendo com os horrores do regime deposto. As situações das duas crianças tentando sobreviver e se adaptar às novas realidades geram empatia e compaixão. E os dois pequenos atores merecem aplausos entusiasmados por suas belas interpretações.
No cinema, o príncipe vira mendigo e o mendigo vira príncipe.