por Ricardo Cravo Albin
Há alguns mortos – agregados ao nosso afeto – que ao longo do tempo deixam mais saudades que outros. Vinícius de Moraes, por exemplo, é um desses que, trinta anos depois da morte, continua a me fazer muita falta. O poeta foi celebrado no segundo semestre de 2010 no Salão Nobre do Palácio do Itamaraty em memorável noite, com cerimônia, coquetel e exposição a que acorreram o corpo diplomático acreditado em Brasília e o Ministério do Governo Lula. Vinícius deixou, além da grande poesia e da bossa nova, um legado singular aos que o conheceram: a vontade sistemática de tê-lo por perto e a ausência persistente de sua presença luminosa, generosa, oportuna.
A consagração oficial ao poeta ocorreu ao finalzinho do mês de agosto, ocasião em que ele resplandeceu mais uma vez. E ali – na solidão do Planalto, que ele cantou com Tom na Sinfonia de Brasília (de 1959, a convite de Juscelino), seus amigos e devotos nos sentimos reparados da brutalidade do AI-5 de 1968, que destituiu o primeiro-secretário Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes da carreira diplomática.
Lula assinou – depois de cerimônia onde rolaram lágrimas de muitos de nós – a lei que o transformou em Embaixador do Brasil. Nada mais justo, legítimo e restabelecedor. Sim, até porque nosso poeta sempre foi Embaixador de fato. Onde ele chegava, em qualquer cidade do mundo, era saudado como representante da cultura, da poesia, da literatura e da música do Brasil. O projeto de lei – sugerido por Celso Amorim e sancionado pelo Presidente Lula – mereceu rápida tramitação no Congresso Nacional. Pressionado que foi por abaixo-assinado de milhares de assinaturas promovido pelo Instituto Cravo Albin e amparado pela Fundação Alexandre de Gusmão do Itamaraty, à frente o atento e operoso Embaixador Jerônimo Moscardo.
Agora Vinícius, que já é rua em Ipanema – a mesma onde ele e Tom viram/cantaram a Garota de Ipanema –, está por receber mais dois afagos da cidade onde nasceu e morreu em estado de amor: a praça que faceia o velho palácio do Barão do Rio Branco deverá portar seu nome antecedido pelo justíssimo título: Embaixador. O outro é o Corredor Cultural Vinícius de Moraes, ligando o Bar Villarino (onde ele conheceu Tom, apresentado pelo crítico Lúcio Rangel) ao Petit Trianon da Academia Brasileira de Letras.
Ricardo Cravo Albin
Jornalista e escritor
Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin