por Bruno Cavalcanti
É inegável que, com quase 40 anos de carreira – iniciada, a risca, em 1981 com a primeira transmissão da Rádio Fluminense FM de uma canção do Kid Abelha, então com o ainda adendo de Abóboras Selvagens -, Paula Toller já não precisa mais provar que é uma das maiores hitmakers do pop nacional.
No currículo da ex-vocalista do Kid Abelha estão composições como Pintura Íntima (1984), Como eu Quero (1984), Fixação (1984), Lágrimas e Chuva (1985), Nada Sei (2002) e uma série de outros canções que, desde a década de 1980, são verdadeiros hits chiclete no imaginário do público brasileiro.
É sintomático, portanto, que, ao longo da turnê Como eu Quero, o terceiro show solo da cantora e compositora carioca, 90% do roteiro seja formado por canções, a princípio, ligadas ao repertório do por hora desativado Kid Abelha.
Entretanto, a ausência, no repertório da turnê, de canções que estiveram nos dois últimos álbuns de estúdio da cantora, o excelente Só Nós (2007) e o injustiçado Transbordada (2014), discos autorais que reafirmaram a maestria pop dessa abelha rainha do pop patropi, soa frustrante para quem se dedicou a acompanhar a carreira solo que Paula se propôs a criar após o fim da banda.
Essa Noite sem Fim, lançado em 04 de outubro deste ano de 209 nas plataformas digitais, é canção composta com o baixista Liminha, e primeiro single inédito desde que a cantora iniciou o projeto Como eu Quero, com a regravação de temas como A Fórmula do Amor (1985), de Léo Jaime, e Céu Azul (2011), da banda Charlie Brown Jr.
Tema de tons soturnos, Essa Noite sem Fim é doído tema de fim de caso e o primeiro em cinco anos a, de fato, romper os laços mercadológicos da cantora com o Kid Abelha. Sem sopros ou andamento solar – como a maioria dos hits do grupo -, Paula desafia o saudosismo nesta que é uma de suas melhores parcerias com o atual diretor musical de seus álbuns e shows, Liminha.
Embora não remeta a nenhum de seus dois últimos discos autorais, a canção aponta para um futuro musical promissor e independente dos hits que tornaram a tornaram famosa. É natural, claro, a inclusão de temas como Grand’ Hotel (1991) e Amanhã é 23 (1987) no roteiro da turnê de um ainda distante novo disco (visto que a cantora pretende ainda registrar em CD e DVD a turnê revisionista que volta a São Paulo a partir de 06 de dezembro, no Tom Brasil), mas sem jamais se tornar refém deles.
Essa Noite sem Fim parece significar o rompimento da artista com as expectativas mercadológicas que seus singles anteriores supriram bem, o que volta a elevar Toller ao patamar de uma das grandes compositoras brasileiras, com hits tão saborosos quanto os compostos por Rita Lee, sua declarada referência musical. Quem viver…