por Olga de Mello
Entre chuvas fortes, chuviscos e nem tanto calor assim, começou o verão nos trópicos, o ano de 2012 e a mais tradicional época de férias. Quando eu era criança, criei o estranho ritual de todas as tardes das férias, depois da praia, me refestelar no sofá para reler novelas policiais da velhíssima Coleção Amarela de meu pai, espirrando ao trilhar páginas amareladas cobertas de fungos. Com o passar do tempo, adaptei a tradição. Nas férias, procuro reler obras que me marcaram no passado, mesmo que esteja trabalhando. Neste verão não estou em férias, mas o ritmo da vida é menos acelerado, já que o resto da família entrega-se ao dolce far niente. Então, saio em busca de leituras para combinar com os dias mais lentos.
Uma escolha perfeita para tempos tranquilos seria qualquer conto de Somerset Maugham, autor de numerosas narrativas como Uma Paixão em Florença (Record, R$ 29). A inusitada e fugaz atração de uma jovem e bela viúva por um refugiado político no fim dos anos 1930 é quase uma previsão da mudança social que aquele cenário enfrentaria nos próximos anos. A novela foi lançada por Maugham em plena Segunda Guerra Mundial, refletindo sobre os novos papéis que a aristocracia britânica teria de aprender a desempenhar.
Classificar Tony e Susan (Intrínseca, R$ 39) como um thriller dentro de uma observação psicológica sobre a monotonia conjugal é minimizar o romance de Austin Wright, que criou duas tramas paralelas, ambas concorrendo no interesse do leitor. Susan recebe um pacote com o manuscrito do livro do ex-marido, Tony, que quer sua opinião sobre seu livro, que conta o aterrorizante seqüestro de uma família por bandidos. Ao longo da leitura, Susan reflete sobre sua vida ao lado do segundo marido e dos filhos. A ficção dentro da ficção é simplesmente hipnótica – e violentíssima.
Vencedor do Orange Prize 2011, o romance de estreia da sérvia Tea Obreht, A Noiva do Tigre (Leya, R$ 34,90 ) é situado nos Balcãs, onde a médica Natalia se recorda das histórias contadas pelo avô, ao receber a notícia de sua morte. Episódios da vida desse homem que a iniciou na fantasia são recriados com lembranças de trechos do Livro da Jangal, de Rudyard Kipling e a presença do tigre-vilão Shere Khan. O Orange é um prêmio de literatura concedido exclusivamente a mulheres – o que leva diversas escritoras consagradas, como Nadine Gordimer, a rejeitá-lo, por considerar que ele cria uma subcategoria sexista na literatura.
A jornalista canadense Susan Casey gosta de emoções fortes. Autora de A Onda (Zahar, R$ 29,90), no qual relata como enfrentou imensas ondas na carona com surfistas no Havaí, chega agora ao Brasil Os Dentes do Diabo (Zahar, R$ 39,90), sobre seu período nas ilhas Farallones, a 40 quilômetros da costa californiana, observando o trabalho de pesquisadores de tubarões-brancos. O arquipélago nem praia tem. Para chegar às inóspitas rochas, é necessário ter o barco içado por guindastes instalados no alto de um morro. Mergulhar no mar é proeza para nadadores experientes e destemidos, já que os tubarões fazem da região seu pólo gastronômico, dada a quantidade de focas e leões marinhos que insistem em sobreviver nas ilhas.
Outro aventureiro da era atual é Sir Ranulph Fiennes, que entre viagens de exploração por recantos desérticos do planeta, escreveu Os Especialistas (Record, R$ 52,90), sobre um grupo de agentes secretos britânicos que sai à caça de mercenários pelo mundo inteiro. O livro causou polêmica ao ser lançado na década de 1980, enquanto Fiennes jamais revelou se os fatos eram ficcionais ou baseados em episódios reais. O enredo de ação acabou virando filme, estrelado por Robert De Niro, Jason Statham e Clive Owen.
Um pouco de rock’n’roll não pode faltar na minha vida, nem que seja estampado nas belas páginas de Whole Lotta Led Zeppellin – A História ilustrada da Banda Mais Pesada de Todos os Tempos (Agir, R$ 59,90). Entrevistas, fotografias, depoimentos de músicos, escritores, técnicos e da corte que cercava, no auge do sucesso, o quarteto de roqueiros ingleses foram compilados no belíssimo volume pelo crítico de música Jon Bream.
E para quem pretende viajar na leitura, enquanto não sai pelo mundo, uma delícia é seguir o passeio proposto por Sérgio Augusto em E foram todos para Paris (Casa da Palavra, R$ 39,90). Em 1989, ele fez um levantamento minucioso dos endereços frequentados pela Geração Perdida, os intelectuais americanos que se mudaram para Paris nos anos 1920. A pesquisa virou uma série de artigos para o jornal Folha de S.Paulo, que agora são reeditados, como livro, aproveitando o recente interesse nos chamados Anos Loucos – impulsionado pelo filme Meia-Noite em Paris, de Woody Allen.
Olga de Mello é Jornalista, carioca, escreve para sites, jornais e revistas principalmente sobre cultura, que considera gênero de primeira necessidade.
Blogs: www.arenascariocas.blogspot.com e estantescariocas.wordpress.com