por Olga de Mello
Fevereiro é aquele mês que parece começar de costas para o início do ano – que se inicia, informalmente, no Brasil, na primeira segunda-feira após o Carnaval. Até então, adiaremos decisões, dietas, reformas de casa ou de política. Como brasileiros, devemos honrar o espírito nacional de aproveitar os prazeres da vida preguiçosamente nos dias de verão ameno que o fenômeno climático La Niña teve a delicadeza de proporcionar aos cariocas. Aqui vai, então, uma pequena seleção de guloseimas em forma de leitura para quem pretende se fingir ainda de férias nesta época de readaptação ao batente diário.
Clássico – Quem não leu Macunaíma, o herói sem caráter (Agir, R$ 49,90), criação genial de Mário de Andrade, deve começar já. Satírica e iconoclasta, a saga de Macunaíma trata jocosamente das misturas étnica, religiosa e cultural que sintetiza os muitos brasis em um só, com a escrita cristalina e talentosa de Mário de Andrade, de quem também vale ler o belíssimo Amar, Verbo Intransitivo (Agir, R$ 44,90). Duas obras vanguardistas, lançadas nos anos 1920, que permanecem contemporâneas pela linguagem literária e no registro da revolução de costumes.
Ensaio – A geração superficial – o que a Internet está fazendo com nossos cérebros (R$ 49,90), de Nicholas Carr, foi finalista do prêmio Pulitzer de 2011. Além de discutir o conhecimento efêmero perpetrado pela Web 2.0 e a perda da capacidade humana de lidar com ideias complexas, o livro propõe a reflexão sobre uma nova sociedade, em que a informação é vasta, mas a reflexão escassa.
Educação – Filhos: Manual de Instruções (Record, R$ 29,90), de Tânia Zagury é destinado aos pais gerações X e Y, que têm dificuldades em criar regras para a família, como horários de dormir, alimentação, estudo e lazer. Com dicas simples, a especialista em educação infantil e de adolescentes, lembra que pai tem a missão de educar e não de se acomodar, impedindo que o filho que cresça imaturo.
Biografia – Furacão Elis (Leya, R$ 39,90), de Regina Echeverria, foi lançado logo após a morte da cantora, há trinta anos, por overdose de cocaína. A versão atualizada da trajetória de uma das principais intérpretes de MPB traz fotos e depoimentos inéditos de parceiros musicais que conviveram com a artista.
Graphic Novel – O paraíso de Zahra (Barba Negra, R$ 39,90) é uma série em quadrinhos lançada, originalmente, na Internet em diversos idiomas, que conta a história (fictícia) de uma família que procura um jovem dissidente iraniano, desaparecido depois de manifestações contra o regime ditatorial em 2009. Os autores, o roteirista Amir e o desenhista Khalil, usam pseudônimos por temer represálias e dedicam o livro aos desaparecidos e mortos no Irã.
Romance – A visita cruel do tempo (Intrínseca, R$ 29,90) rendeu o Pulitzer à americana Jennifer Egan e traz capítulos escritos em diferentes estilos, incluindo slides de power point e o perfil jornalístico de uma celebridade. É através deste exercício literário que se delineiam personagens que se interligam no mundo da produção musical pop, numa trama que discute a crise existencial que assola boa parte das pessoas. As múltiplas formas empregadas por Egan fascinam tanto quanto o caleidoscópio melancólico que ela montou.
Viagem – Como um rei na França (Record, R$ 32,90), de Amaury Temporal, é o relato das últimas incursões do autor e de sua mulher a diferentes regiões francesas, conhecendo localidades que nem sempre vão figurar nos guias turísticos. Todos os anos, o casal costuma passar o inverno na França, percorrendo castelos, vinícolas e aldeias do interior, fazendo amigos e saboreando delícias da gastronomia e enologia locais.
Olga de Mello é Jornalista, carioca, escreve para sites, jornais e revistas principalmente sobre cultura, que considera gênero de primeira necessidade.
Blogs: www.arenascariocas.blogspot.com e estantescariocas.wordpress.com