por Anna Ramalho
Dormi mal essa noite – tristeza, aflição, revolta se embaralhavam na minha cabeça. Não dá pra dormir em paz depois do confronto brutal com os noticiários. O sempre sereno e super profissional William Bonner, revoltado, dividiu sua indignação com milhões de brasileiros que assistem diariamente ao Jornal Nacional. Cansou de ser a Geni dos bolsominions histéricos. As redes pipocavam também indignadas com comentários de anônimos, celebridades, jornalistas, intelectuais, políticos de oposição, todos pedindo socorro para Manaus. E para este desgraçado Brasil do B.

Vai recomeçar a temporada de panelaços. Os brasileiros não aguentam mais
Quando fui dormir, às tantas da madrugada, o cenário já era de caos, como também já era lamentável e deprimente o desempenho dos principais atores deste drama: o governador do Amazonas ( que tem prontuário policial, mas foi eleito), o ministro da Saúde ( o estrategista que não ordena nem batalhão de soldadinho de chumbo) e o presidente da República, este ser minúsculo e desprovido de compaixão e empatia, a arrotar as bobagens de sempre. Jair deveria funcionar à base de controle remoto, a ser acionado pelo aspone mais próximo e mais esclarecido à primeira asneira. Sei que é difícil encontrar alguém esclarecido neste governo de fancaria, mas, de repente, tem um que pode servir pro liga/desliga.
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Nos dois últimos dias, filhos perderam pais e mães, pais perderam filhos e filhas, irmãos ficaram sem seus irmãos, muita gente morreu porque faltou oxigênio em Manaus. A tragédia comoveu e mobilizou o mundo. E o que diz o presidente? “Terrível o problema lá. Agora, nós fizemos a nossa parte”.
E tome de hidroxocloroquina, ivermectina, Annita e toda essa renca de medicamentos não reconhecidos e considerados inócuos pelas maiores autoridades do Brasil e do mundo no quesito saúde. Distribuem aos milhares para justificar o encalhe da compra absurda. Ao invés de oxigênio, vento – foi a solução do general da saúde.
Mais grave foi o que noticiou o jornalista Guilherme Amado: o Procurador-Geral do Amazonas afirma que, quatro dias antes, alertara o ministério da Saúde sobre a falta de oxigênio.
O senador Flávio Bolsonaro perdeu ótima oportunidade de ficar quieto. Declarou que o caos em Manaus “não tem nada a ver com o governo federal”. Tem a ver com quem, então, cara pálida? Com o Queiróz?
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Sofro de bronquite asmática desde menina. Quando viajávamos em férias para Teresópolis, mesmo no verão, bastava subir a serra para ter crises que varavam a noite. Eu tinha que dormir sentada na cama, o ar faltando, o peito piando. Hoje, a asma está sob controle graças a Deus. Mas posso garantir que deve ser pavorosa e imensamente aflitiva para quem assiste a morte por falta de ar. Só quem sofre ou já sofreu de asma pode entender o que estou falando. É a pior das sensações.
Agora, imaginem sofrer a falta de ar quando já se está hospitalizado por causa desse maldito coronavírus – por si, só, uma ameça à vida, mesmo para quem está no melhor hospital de São Paulo, como sempre ocorre com os figurões dessa nossa república de quinta categoria.
Já se foi o tempo em que os presidentes se tratavam no Hospital dos Servidores do Estado e saíam de lá vivos. Já se foi o tempo em que o Dr. Raymundo de Britto foi ministro da Saúde, como foi por anos e anos diretor do HSE, então considerado o maior hospital da América Latina.
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O Brasil está insuportável. Irrespirável – literal e figurativamente. Como assim não combinaram a compra de vacinas da India e mandaram o avião que periga voltar sem o material? Cadê a logística, que seria a especialidade do desastrado Pazuello?
O nível de amadorismo é assustador. Os mortos se empilham numa pirâmide macabra. Os personagens políticos deste drama seguem representando seus tristes papeis para uma claque que vai diminuindo enquanto aumenta o repúdio a Bolsonaro e seu ministério.
Choro por tantos mortos, choro por Manaus, pelo Brasil, pelo mundo.
Peço a Deus que chegue rápido a vacina. E que também, com a rapidez possível, encontre-se a saída – a porta de saída – para Bolsonaro e sua trupe de circo.
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Hoje, 15 de janeiro, tem panelaço às 20:30 h. Já reuni meu material de percussão. Bora lá!