
Os dias frios deste julho me lembram as férias da minha infância, quando eu, filha única criada em apartamento, sem televisão (meus pais eram contra), vasculhava os (poucos) volumes da Coleção Terramarear, da Companhia Editora Nacional. Cobertas de fungos (o papel era de baixa qualidade e os livros – muitos deles traduzidos por Monteiro Lobato, dono da editora – tinham algo em torno de quarenta anos, então), as páginas traziam aventuras de Tarzan, Buffalo Bill e diversas histórias de Jack London, entre elas A filha das neves e Chamado Selvagem, que comecei a ler a contragosto e, depois, fiquei totalmente arrebatada pelo cão narrador.
Aos poucos, me desfiz de boa parte da coleção, que se transformara em viveiros de ácaros, prontos a provocar crises alérgicas em quem se aventurasse a folhear algum. Os livros de Jack London e Raptado, de Robert Louis Stevenson (que prefiro à Ilha do Tesouro), consegui comprar em edições mais recentes e, dois anos atrás, quando a Zahar relançou Tarzan, o filho das selvas (R$ 54,90), lamentei que outros títulos não estivessem de volta ao mercado. Embora se diga que a geração gerada em frente ao computador não sinta atração imediata por histórias de capa e espada, a saga Guerra nas Estrelas foi imaginada por George Lucas exatamente para suprir a ausência de uma literatura mostrando a luta do bem contra o mal.
Em Frenesi Polissilábico (Rocco, 33,90), Nick Hornby comenta que Charles Dickens não entrou para a história da literatura por seu purismo estilístico, mas, principalmente porque era um grande narrador. O domínio do público exercido pelos autores de folhetins acabou sendo transferido para os roteiros cinematográficos. As aventuras ainda fascinam diferentes gerações de leitores, mesmo as atuais, como comprova o sucesso da série de Harry Potter. Em 2005, a Record lançou a coleção Clássicos da Aventura, que só teve poucos volumes, entre eles Moonfleet – O tesouro do Barba Negra (Record, R$ 62,90), uma história de piratas engenhosa e hipnótica. Já a coleção Clássicos Zahar, que reúne escritores como Alexandre Dumas, Jules Verne, Jane Austen, Jack London, Edgar Ryce Burroughs, conseguiu com montar uma indispensável biblioteca com suas belíssimas edições ilustradas e comentadas, em formato tradicional e de bolso.
Os últimos lançamentos são Histórias de Sherlock Holmes (Zahar, R$ 29,90), de Arthur Conan Doyle, e O ladrão de casaca – As primeiras aventuras de Arséne Lupin (R$ 29,90), de Maurice Leblanc. O irreverente gatuno é o contraponto francês à genialidade de Sherlock, que chegou a ser incluído como personagem em uma de suas histórias. Diante do indignado – e justo – protesto de Conan Doyle, Leblanc criou o Herlock Sholmes, um refinado investigador inglês, derrotado pela engenhosidade de Lupin.
Se os clássicos de aventura levam o adulto a experimentar o entusiasmo e encantamento da juventude, há livros infanto-juvenis que merecem a apreciação por um público mais maduro. O goleiro dos Andes (Galerinha Record, R$ 49,90), de Antonio Skármeta pode e deve ser lido por crianças, desde que concordem em dividi-lo com leitores mais idosos, capazes de perceber a melancolia e a dimensão social de um conto que fala de amizade, de estranhamento, de saudade e de futebol.