por Rogeria Gomes
Tudo começou em um pós guerra com um grupo de idealistas, conhecidos como modernistas cujo foco era reorientar o olhar cultural para novos ângulos. O teatro permeava toda manifestação artística dessa época, e teve em São Paulo grande representatividade, abrigando a primeira escola de Teatro no Brasil: Conservatório Dramático e Musical, nos moldes de Paris, referência cultural da época. Mas não esteve na época, diretamente ligado ao movimento artístico de maior expressividade do século XX, a Semana de Arte Moderna. O que pode ter ocorrido? Muitas indagações e poucas certezas.
Foi um movimento que sobejou com tanta força que se tornou responsável pela implementação do Modernismo no Brasil e suas consequências. Nada melhor que uma manifestação artística com ideias, proporções e provocações para uma reviravolta cultural, intelectual e artística. Idealizada pela nata da intelectualidade do momento, nomes expressivos estavam lá: Mário de Andrade, Oswald de Andrade Graça Aranha,Victor Brecheret,Plínio Salgado, Anita Malfatti,Menotti Del Picchia, Ronald de Carvalho, Tarsila do Amaral, Patrícia Rehder Galvão, mais conhecida como Pagu. Cabe observar que sempre há um time menor de mulheres, no entanto, não menos potente. Fato que apesar do tempo lamentavelmente se repete. Acreditavam os modernistas, que o moderno nas artes visuais, na literatura e na música correspondia ao fortalecimento da identidade brasileira daquele momento, sem deixar de manter alguns laços com as correntes artísticas estrangeiras.
O teatro estava lá, fazendo seu papel, mas não foi acolhido como expressão artística da Semana de 22, mesmo sendo das mais conceituais que a humanidade conheceu. Não teve representatividade direta. O teatro tão próximo do humano, seus pilares são o drama e a comédia, por si só o coloca em destaque no binômio homem e cultura, afinal é no palco que tudo começa; o conhecimento, a paixão, o amor, a dedicação, a atenção, o reconhecimento, o pertencimento. Lugar que diminui distâncias. O homem está ali exposto, vivo, integral.
Final do século XIX e o teatro começa a buscar mudanças não só no fazer teatral, mas na compreensão do que se entende por texto e sua apropriação social. Embora não tendo sido pauta direta da Semana de Arte Moderna, reverberou com o conhecido texto de Oswald de Andrade, ‘O Rei da Vela’, escrito 1933, publicado em 1937 e somente encenado em 1967 no teatro oficina sob direção atenta e elogiosa de José Celso Matrinez Correa. Recupera a temática do movimento antropofágico iniciado pelo autor com o Manifesto Antropófago, além de romper com a estética burguesa. Eis a ligação primeira e primordial da Semana de 22 com o teatro. Embora o hiato seja considerável e discutível, o teatro como uma expressão artística que caminha a passos mais largos, propõe e ilumina veredas, deixou sua marca, embora não exatamente naquele contexto de tempo e espaço, assim como esta reflexão que chega, não especificamente no dia comemorativo, mas no rastro do pensamento que elucida. A potência que carrega se incumbe de colocá-lo na vitrine da cena cultural que segue a famosa Semana de 22, com presença estética e conceitual até o teatro que fazemos em nossos dias. Esse elo nos impulsiona a pensar que arte não se descola, agrega e resplandece. Um olhar que continua a nos reorientar.