por Luís Pimentel
Há quem diga que agosto é mês de desgosto, palavra agourenta, gosto amargo na alma por conta de coincidência de notícias ruins. Não creio nem penso assim. Prefiro encarar o bom e velho agosto como um mês igual a outro qualquer, capaz de nos seus trinta, trinta e um, vinte e nove ou até mesmo vinte e oito dias trazer notícias boas e notícias ruins, escancarar fatos bons, ruins ou nem tanto, começar e passar como passam os dias, a despeito da previsão dos tempos ou dos templos.
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Como se não bastasse, agosto ainda é um mês extremamente musical. Vejo na Agenda Música Brasileira que neste mês nasceram, entre tantos outros ídolos, Ney Matogrosso, Orlando Dias, Naná Vasconcelos, Batatinha (“Todo mundo vai ao circo, menos eu / Como pagar ingresso, se não tenho nada? / Fico de fora escutando as gargalhadas…”), Baden Powel, Caetano Veloso, Gordurinha, Fafá de Belém, Ana de Hollanda, Clara Nunes, Monarco, João Donato, Paulinho Tapajós, Dori Caymmi, Edu Lobo e Emilinha Borba.
Sei, também, que num mês de agosto morreu meu ídolo maior, Luiz Gonzaga. O que prova, simplesmente, que se trata mesmo de um mês como outro qualquer.
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E tem mais: foi em agosto que nasceu meu filho. O que o redime de qualquer maldição do calendário.
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Finalizo as odes pensando que agosto pode ser o nome de um lugar tão bom, mas tão bom, que faz a gente pensar apenas em coisas boas: filho no colo, mijando quentinho em suas pernas; avó gritando “Pra dentro, menino, senão vai constipar”; irmãos brigando pelo último pedaço de pão; a colega que nunca lhe deu bola sorrindo com os olhos, no último dia de aula: “Vou sentir saudades de você”; médico – mãos com cheiro de álcool em seus cabelos – dizendo “Não chore, menino, sua mãe vai ficar curada”.
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Então desculpem janeiros, fevereiros, marços, abris, maios, junhos, julhos, setembros, outubros, novembros e dezembros, mas há um calorzinho especial no frio de agosto.
Agostos, sim. Tudo o que não é desgosto.