Ele é de Caratinga, Minas Gerais, mas tem ritmo e molejo de carioca dos quatro costados. É escritor consagrado e jornalista militante. É Ruy Castro, um apaixonados pelo Rio, pelo Leblon, onde mora, e, principalmente por sua mulher, a Heloisa Seixas, escritora de rara sensibilidade, que já nos falou também sobre o seu Rio. Um casal muito especial, que muito sabiamente vive em casas separadas, mas os dois estão sempre juntos passeando pelo Rio que tanto curtem. Comendo empada de camarão no Caranguejo – boteco divino da Rua Barata Ribeiro, se exercitando no calçadão de Ipanema, visitando as livrarias que são a paixão dos dois. Vale até sair na chuva pra se molhar. Consagrado biógrafo – Garrincha, Nelson Rodrigues, Carmen Miranda – é das maiores autoridades em Rio de Janeiro, bossa nova e Ipanema. Temos um grande amigo em comum, na casa de quem o conheci: o jornalista João Luiz de Albuquerque, que Ruy escolheu como seu Menino do Rio. Adorei!!! Ele é sempre criativo assim. Amanhã, dia 24, lança seu último livro: “ A noite do meu bem: a história e as histórias do samba-canção”, com noite de autógrafos na Travessa de Ipanema. Vou cedo pegar meu lugar na fila: samba-canção e texto do Ruy Castro é o que se pode chamar de promessa de felicidade.
A cara do Rio
Tom Jobim na primeira mesa da Plataforma, comprando pão na Rio-Lisboa ou indo à farmácia Piauí e falando com todo mundo na rua — para espanto dos empresários gringos querendo contratá-lo para musicar filmes nos EUA e ele dizendo que não tinha tempo.
A imagem do Rio
Gata se vestindo na areia para ir embora da praia. Só mulher de fora anda de biquíni no calçadão.
O que me faz falta no Rio
O Helsingor, restaurante dinamarquês do Leblon dos anos 70 e 80. Metade da vida inteligente da cidade se reunia nele.
Rio antigo
A Zona Norte. Tem muita coisa bonita que precisa ser revitalizada. E lá mora o verdadeiro carioca.
Rio de hoje
A zona portuária. Mas vai ter que ter gente morando, armarinho, chaveiro, sapateiro, passeador de cachorro etc. Não pode ser só para turista.
Rio do futuro
Espero que volte a ser o Centro da cidade. As cidades precisam ter um centro, e o do Rio foi lindíssimo.
Não podia ter acabado
O Monroe no Castelo, a Faculdade de Medicina na avenida Pasteur e o casario entre o Largo da Lapa e os Arcos.
Tem que ter
Café em pé no balcão, pago com ficha e servido na xícara.
A comida do Rio
Iscas de fígado naquele restaurante ao lado do Inca, na Cruz Vermelha.
A bebida do Rio
Não peguei, mas já foi o Hidrolitol.
O seu restaurante no Rio
O Caranguejo, na Barata Ribeiro com Xavier da Silveira. Eu e Heloisa sempre vamos para comer empada de camarão e tomar sopa de siri.
O seu bar no Rio
Qualquer um, porque parei de beber. Gostaria que, para cada 100 bares no Rio, houvesse uma livraria.
E quando chove no Rio?
Fico em casa olhando pela janela ou saio à rua para tomar chuva. Qual é o problema com a chuva?
A música do Rio
Todas. Lundu, maxixe, samba, choro, samba-choro, samba de Carnaval [não confundir com samba-enredo, que é muito chato], bossa nova e, mais do que nunca, samba-canção.
Escola de samba
Império Serrano e, se voltar, Vizinha Faladeira.
Time de futebol
Flamengo, naturalmente. E não só de futebol – de remo, basquete, judô, esgrima, atletismo etc e, brevemente, vôlei.
Menino do Rio
O jornalista João Luiz de Albuquerque, por seguir à risca o lema de Vinicius, segundo o qual “Ser carioca é ter, como programa, não tê-lo”.
Menina do Rio
Danuza Leão. Reclama o tempo inteiro – o que também faz parte -, mas ama o Rio.
Um carioca que deixou saudade
Ronaldo Bôscoli. Péssimo caráter, figura maravilhosa.