por Anna Ramalho
Não tenho sentido vontade de escrever. Ando descrente, revoltada, indignada – e não é por culpa do Covid destruidor. Esse me mata de tristeza com seus números alarmantes e que não param de crescer. Em tempo: não acredito que Jair esteja contaminado. Tem muito malfeito por aí e cortinas de fumaça são mais do que bem vindas. Mas, se efetivamente ele está com vírus, sua irresponsabilidade e desprezo pela vida alheia são casos de polícia.
Se ele está ou não com a “gripezinha”, não importa. Aliás, nada que venha dele e daqueles pimpolhos numerados me importa minimamente. O que me importa é o Brasil que vai sobrar depois de sua desastrada passagem pela cadeira presidencial. Como não acredito na doença, imagino que no fim de semana ele já estará na cancela do Planalto naquele papo de cerca-lourenço com aquela meia dúzia de desocupados, que pouco se importam se forem atingidos pelos perdigotos do “mito”. Seria uma honra morrer contaminado pela saliva de Jair. Cada louco com a sua mania.
O que quero realmente saber é como pode um país que já sofre tanto em todos os níveis, estar sem ministro da Educação e sem ministro da Saúde – o general da hora só é tratado como interino. Ameaçar com Major Vitor Hugo para a Educação me faz desejar uma dose maciça de pó de pirlimpimpim para voar a outro planeta. Mais um milico no governo? Será que o Rasputin de Carvalho vai permitir?
De saco cheio de toda essa gente. E ainda faltam dois anos e meio. Dureza, dureza.
***
Ao contrário do presidente, que de tão negacionista ainda acaba negando a própria existência do Queirós, estou cumprindo fielmente meu confinamento. Sou grupo de risco, tenho juízo e vergonha na cara. O que meu médico Roberto Zani manda, faço. Assim, estou há 120 dias sem ver minha família e meus amigos e só saí uma meia dúzia de vezes para supermercado e farmácia que ficam literalmente ao lado da minha casa.
Hoje, ao ver o lindo dia que fazia e porque sei que posso fazer caminhadas desde que de máscara e sem interação com outras pessoas, resolvi caminhar na Lagoa. Saí do Piraquê e fui até a Hípica – percurso curto pra não abusar no regresso.
Voltei outra. A Lagoa Rodrigo de Freitas é dos pontos mais bonitos do Rio, especialmente nessa época do ano, quando a temperatura é mais amena. Aquela explosão de cores: o azul de um céu sem nuvens, o azul mais escuro das águas onde marrecos nadavam na altura do clube, as árvores ainda verdes, outra com galhos pelados, os cavalos treinando no paddock da Hípica. Quantas vezes andei mecanicamente por ali? Quantas vezes sem curtir devidamente a paisagem que conheço desde os meus primeiros anos de vida?
Hoje tive vontade de abraçar árvore, de beijar o Cristo Redentor que nos abençoa todos os dias, faça chuva ou faça sol, de sair dançando no ritmo da trilha sonora do meu Iphone, que o amigo Alexandre Cappelli – DJ dos bons – criou só para mim,
Nada, nenhum lugar do mundo é mais bonito do que o Rio de Janeiro. Que resiste bravamente a essa canalhada encastelada no poder, ano sim, outro também. Como é bom revê-lo, ensolarado, caloroso, no meio de tanta desgraça!
Terminada a caminhada, parei, respirei e agradeci a Deus.
Estou viva, ando, enxergo, ouço ( meio mal, mas ouço…), a cabeça tá boa apesar dos pesares, a vida é bela, apesar do Covid e de tanta tristeza que essa pandemia tem trazido a todos mundo afora. A família vai bem, os amigos do peito também. Só posso dar graças.
Finalizo esta crônica compartilhando com meus leitores e amigos um ensinamento de Santo Antônio, o meu amigo de fé e irmão camarada de todos os momentos: “A Esperança é a expectativa de bons futuros.”
Não perco a Esperança. Nunca.
#vai passar #usemascara #respeiteopróximo
P.S. As fotos que ilustram essa crônica foram feitas na minha caminhada de hoje, o primeiro passeio em 120 dias.