por Mariza Gualano
O cineasta norte americano Jordan Peele declarou que foi um garoto assustado, mas não nega que adorava contar histórias apavorantes ao redor da fogueira. Por isso não causa espanto que sua obra tenha abraçado o gênero terror. A diferença é que incorpora à narrativa a questão racial. Antes de partir para a direção, Peele escreveu e protagonizou Key & Peele, um programa de esquetes cômicos que tratava com uma boa dose de humor os preconceitos e o racismo. A estreia do primeiro longa se deu com o surpreendente Corra/ Get Out (2017). É um filme incomodo que, além do suspense, revela atitudes racistas aceitas socialmente às quais não nos damos conta. Acompanhamos a luta do personagem negro para escapar do comando dos brancos. O maior inimigo não é nenhum monstro, zumbi, morto-vivo ou ser de outro planeta, mas os humanos com quem convivemos lado a lado.
O segundo longa também causa impacto. Nós/Us (2019) traz os mesmos componentes que notabilizaram o diretor. A combinação de thriller, humor e comentários sociais é mostrada através de metáforas poderosas que exigem um olhar atento para serem interpretadas. Os pontos de vista políticos, psicológicos e foco nos direitos civis embutidos nas tramas de Jordan Peele deram ao cinema de terror uma nova cara.
Surfando nessa onda, Little Marvin, escritor e produtor, cria para o streaming Eles/ Them (2020). Nos moldes de American Horror Story, a série aborda a convivência da comunidade afro-americana com os brancos nos anos de 1950. Ao misturar as barbaridades impingidas aos negros pelos seus vizinhos e colegas de trabalho, assombrados pelos próprios fantasmas do passado e feridas que não cicatrizam, o seriado atinge o paroxismo da violência e sadismo. Recomendado para estômagos muito fortes.
Ainda no streaming, o arrepiante O Que Ficou Para Trás/ His House (2020) do diretor Remi Weekes usa o terror como recurso eficaz para tratar do tema dos refugiados africanos, seu misticismo e fantasmas pessoais. O resultado é um filme assustador sobre um drama com os pés na realidade de um contexto sócio político difícil e perverso em relação à migração e vivência e sobrevivência fora de seu habitat.
No cinema, horror e racismo deram as mãos.