por Anna Ramalho
Tenho pensado muito em Anne Frank – jovem judia sacrificada no Holocausto e que legou à Humanidade o triste relato de seu confinamento no “Abrigo Secreto” em Amsterdam, onde viveu em condições precárias por dois anos, até ser presa e transferida para campo de concentração de Bergen-Belsen na Alemanha, onde morreu em 1945, aos 15 anos. Seu legado, o livro “O Diário de Anne Frank”, é o mais pungente relato das atrocidades nazistas cometidas na Segunda Grande Guerra.
Esta cruel pandemia da Covid-19 deve estar inspirando novas Anne Frank – e eu espero que sim, porque se a Humanidade sobreviver, alguém precisará contar o que tem sido este ano só de lutos, angústia, impotência e uma dose cavalar de dor e sofrimento.
Somos todos um pouco Anne Frank. Exceto, é claro, aquelas hordas irresponsáveis que dançam, cheiram, mergulham, bebem, amontoam, beijam como se não houvesse amanhã. São Anne Frank os que moram amontoados nas comunidades carentes, nos conjugados da Prado Júnior ou quem mora nos grandes apartamentos à beira-mar, ou ainda aqueles que passaram a morar em suas casas de veraneio. Estamos todos confinados na pobreza ou na riqueza. O que me mata de tristeza é quem não tem um teto para lhe abrigar, jogado nas ruas, abandonado à própria sorte. E são tantos!
Anne Frank sonhava em ser jornalista – acabou sendo, depois de morta, a grande repórter do seu triste tempo.

Reprodução do Abrigo Secreto no Museu Anne Frank, na foto ao lado, em Amsterdam
Quem de nós sobrará para narrar os horrores que estamos vivendo?
O vírus é mundial, mas a tragédia brasileira não tem paralelo.
Não há como justificar este governo negacionista, terraplanista, boçal e GENOCIDA. Só nos resta chorar os quase 300 mil mortos. E rezar.
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Quando meu pai morreu, eu tinha 2 anos, 2 meses e 13 dias. Fiz as contas, dá 803 dias. Minha mãe contava que eu podia ter um ano, um ano e pouco, quando entrei com meus pais numa igreja e não parava de apontar e tentar me comunicar com…São José. Ele mesmo, o pai adotivo de Jesus, marido de Maria, padroeiro dos trabalhadores e dos operários. Pouco tempo depois, meu pai foi a Salvador – sua terra natal – e de lá trouxe pra mim um baixo-relevo em prata, numa moldura de jacarandá, que passou à parede do meu quarto. Até hoje não me conformo de ter perdido esse presente tão especial – mas ele se foi numa das muitas mudanças e junto com as muitas e prematuras perdas que sofri ao longo da vida.

São José foi o pai adotivo do Salvador, mas foi acima de tudo um homem humilde e santo
Portanto é desde sempre que São José é meu Pai no território celeste ( Santo Antonio é irmão). Amanhã, 19 de março, é seu dia. Por causa dessa maldita pandemia não poderei ir à sua igreja, tão perto da minha casa, ali na Lagoa. Assistirei a festa on line. Este ano de 2021, por decreto do Papa Francisco, é o ano de São José.
Tenho fé que ele há de mexer seus pauzinhos pra mandar embora essa doença que dizima o mundo – e, de quebra, dar um jeito de tirar das nossas infelizes vidas todos os que representam este governo de quinta categoria que nem o maior pecador merece ter.
São José, rogai por nós que recorremos a vós.