por Murilo Rocha
No território selvagem das chamadas redes sociais, em particular do Facebook, é cada vez menor o espaço para delicadezas ou para humor refinado e de bom gosto. Não há um só dia, mesmo na faixa limitada em que transito – restrita inicialmente a amigos próximos, portanto educados – em que não se encontre um comentário maldoso, uma calúnia, uma grosseria qualquer, muitas vezes na carona oportunista da observação que você faça a alguém das suas relações. Há uma lógica calhorda nisso tudo e o responsável por ela é o tal Mark Zuckerberg, acompanhado de uma miríade de sequazes.
Da boa ideia de aproximar pessoas – e de ganhar dinheiro com isso, claro – passou-se rapidamente para o desenrolar de um novelo sem fim e, logicamente, para o frenesi do faturamento cada vez maior e pouquíssimo limitado por considerações de educação, de moral e de ética. O eixo de tudo é quando você ingressa na rede e, com você, o pequeno grupo de amigos próximos com os quais quer manter contato. Ótimo para aproximar quem não víamos há muito e, menos ainda, dialogávamos. E a lembrança das datas de aniversário é outro dado positivo. Só que…aos seus amigos próximos, juntam-se outros, nem tão próximos nem tão amigos; depois, os amigos dos amigos de seus amigos, cada vez menos amigos e menos próximos, e à medida em que ocorre o esgarçamento, ocorre, também, a inclusão de completos estranhos e figuras até exóticas nos espaços dessa malha.
É todo tipo de gente de baixa extração, de hábitos, costumes e práticas que ofendem o bom senso, a lógica e a inteligência. Não há como resistir à avalanche. Ainda que você recuse as propostas de amizade de ilustres desconhecidos que os algoritmos do dr. Zuckerberg lhe empurram todos os dias, o processo é irreversível, tocado pelos amigos dos amigos dos amigos a que me referi. E a máquina é tão mortíferamente eficaz que o torniquete vai sendo apertado, muitas vezes sem que se perceba. Como, por exemplo, quando você tenta compartilhar um pensamento, um mot d`esprit, uma observação qualquer e aí descobre que muitos não o receberam. Depois, quando o Facebook lhe informa que certos comentários, os tais posts, só poderão ser vistos pelo público em geral e não pelos amigos e “amigos”, a máscara cai de vez: a geringonça do Vale do Silício quer é que mais e mais gente veja a publicidade que acompanha o desdobramento de seus comentários.
Nada contra o faturamento quaquilionário da turma, mas não me agrada ser instrumento involuntário e meio cúmplice da venda de técnicas de ginástica para fortalecer glúteos ou fórmulas maravilhosas contra a, com perdão da expressão, disfunção erétil, entre outros produtos fartamente oferecidos. Mas, não há o que fazer, exceto desligar-se de vez da maldita teia da aranha que nos devora aos poucos. Mas, nesse caso, como ficar sem malandragens algorítmicas que amolecem o coração, a exemplo do que ocorreu outro dia, quando recordaram os anos de amizade que mantenho na rede com meu querido Edgard Catoira, através de fotos de nossos momentos agradáveis em comum?
Outro amigo queixou-se, no supostamente reservado (quem acredita?) espaço “in box”, exatamente da interferência de estranhos, a ele e a mim, em nossos diálogos quase sempre brincalhões. Isso resulta num festival de tolices e grosserias que incomodam a nós dois e, certamente, também aos nossos reais amigos, imaginando que aquele tipo de gente se relaciona conosco. A reação dele, mesmo sendo homem de bom gênio, foi excluir alguns chatos inconvenientes, mas tenho certeza de que vai passar grande parte do tempo facebookiano fazendo isso, já que essa gente procria mais que coelhos. Eu, olimpicamente, apenas ignoro, mesmo quando o chato se põe a babujar idiotices e inconveniências sobre meus comentários e diálogos.
Quanto a desligar-me, não o farei, apesar de tudo, porque nos tempos em que vivemos, é impossível escapar dos Grandes Irmãos de todos os calibres que nem mesmo a mente prodigiosa de George Orwell conseguiu imaginar. Afinal, como ficar sem reagir ao rio fétido de despejos político/jurídicos que atravessa nossa existência desde os tempos coloniais? O jeito é tapar o nariz, fechar os olhos e tentar atravessá-lo, para não morrer de raiva.