por Gisela Campos
Aqui entre nós, não tou nada bem. Nervos à flor da pele. Irritadiça seria o termo correto. Sem paciência para nada. Tem muita coisa errada na minha vida, tipo: código de barras, token e grupinhos de whatsapp. Não adianta vir me dizer que código de barras blá blá blá que token é blá blá blá pra minha segurança. Tou quase preferindo voltar pro cheque: a pessoa es-cre-ve um valor e entrega na mão de outra pessoa real, pessoal, irrepetível, instransferível. Os irrepetíveis somos nós, e não o token, ora pipocas. Tem muito mais coisa que irrita, por exemplo: gôndola de iogurte ou prateleira de absorvente no supermercado. Será mesmo necessário tanta variedade? Qual é a exata diferenciação entre eles? Não consigo achar normal ter que passar quinze minutos do meu precioso tempo escolhendo um tipo de absorvente. E toda semana desistir de comprar iogurte, “deixa, Manuela, tá muito confuso”, e passar direto pro simpático bom e velho queijo de Minas, invariável, intransferível, irrepetível.
Tá difícil, gente. Muito. Mas vamos aprofundar a “questão” dos tão alardeados “grupinhos de whatsapp”. Grupinho de whatsapp é aquela coisa (tipo um pesadelo, porque não é UM grupinho de whatsapp, é um coletivo: o grupinho da kabbalah, o grupinho da praia, o grupinho de umas amigas, o grupinho de outras amigas, o grupinho da família, o grupinho de outra parte da família, o grupinho de uns amigos que foram morar fora, o grupinho dos amigos da escola, o grupinho das mães da escola e por aí vamos) enfim essa coisa cibernética vai te acompanhando ao longo do dia, da noite, do cinema, do jantar, do almoço, do elevador, do lanche, do pão de queijo, do metrô, do filho vomitando, do namorado meio de saco cheio (porque você não sai do whatsapp mas ele também não pode reclamar porque ele também tem o seu karma de grupinhos de whatsapp para cumprir), enfim, aquela coisa, aquela instituição, tipo uma sombra falante vai te seguindo, você na frente, a sombra atrás apitando, apitando, kkkkk, carinhas mandando beijinhos, boa semana meninas!, coraçõezinhos, você andando e aquilo apitando, e tome de vv, vv, vv, aí você chega numa reunião, a sombra falante apita, aí você pede desculpas, desliga a sombra, mas você sabe que mesmo silenciada, ELA CONTINUA APITANDO dentro da bolsa porque ela não para, ela não dorme, ela não descansa. Aí chega o domingo e você pensa: ufa, hoje ela vai dar um tempo. Quem disse? A sombra continua, apitando, apitando, apitando.
Enfim, um desgaste. Isso, sem falar no facebook. Mas aí já é outro capítulo.
Beijos e até semana que vem!
Gisela Campos é publicitária e sócia da Butique Comunicação e Marca. Nas horas vagas, é escritora e poeta.