por Bruno Cavalcanti
Simone Mazzer e Cotonete
Show: Simone Mazzer e Cotonete – Palco Tom Jazz
Data: 04 de maio de 2017
Local: Espaço L’Atelier (Hotel Sheraton) – São Paulo (SP)
“Parei de tremer, que bom”; “aqui é muito barulho por nada”; “essas são as três palavras em francês que sei dizer sem ler”; foi nesse clima que, muito à vontade, Simone Mazzer (em foto clicada por esta santa coluna) subiu ao palco do Espaço L’Atelier, dentro do projeto Palco Tom Jazz, para apresentar pela primeira vez em São Paulo o repertório do (irretocável) álbum que gravou ao lado do grupo francês Cotonete.
Nervosa, Mazzer logo adequou sua voz tamanha ao suingue sangue bom dos oito músicos que injetaram pressão nas 15 músicas que compõem o roteiro. Desde o início, ao som de Se Você Pensa, da dupla Roberto & Erasmo, o grupo já estava à vontade em cena.
Mazzer foi se soltando à medida que o show transcorria e, já na segunda música (Kriola) a cantora tinha o jogo ganho com uma plateia a princípio dispersa, mas que foi se envolvendo aos poucos.
Foi espontâneo o coro que regeu a melancolia sensual de Ela Partiu, assim como as risadas que deram charme a Eu Bebo Sim – temperado com deliciosa mise-en-scène desta cantora e atriz paranaense radicada no Rio de Janeiro.
Aliás, a verve cênica da artista ajudou a levantar a temperatura de um show que seguiu todo momento na pressão do Cotonete, que deixou de lado a quarta parede e se jogou para a plateia com rara desenvoltura.
Com destaque para a cozinha de sopros, o grupo injetou funky de alta xepa em Babalu (a clássica canção imortalizada por Ângela Maria que Mazzer tomou para si em 2015) e fez saltar com energia a Pipoca Moderna de Caetano Veloso. Mas, como diria Mauro Ferreira, o que “deu onda” mesmo foi a versão de Onda, o clássico do soulman Hyldon que Mazzer e Cotonete embeberam de funky nervoso.
Mazzer também encheu de sedução o hit da banda francesa Niagara, L’Amour a La Plage, ao mesmo tempo em que fez subir a temperatura com o strip-tease da modelo Isabel Chavarri ao som da (ótima) versão da debochada É que Nessa Encarnação eu Nasci Manga, d’As Frenéticas.
Chavarri é a modelo que ilustra a capa do disco de Mazzer com o Cotonete e que foi alvo de censura nas redes sociais – o que gerou contundente discurso da cantora em cena sobre o lugar de desvantagem que a cultura brasileira ocupa atualmente.
Mas, mesmo com momentos de maior tensão, no fim, o show foi na verdade um grande baile (ainda que o público majoritariamente sério que lotou o Espaço L’Atelier não estivesse pronto para o desbunde geral promovido pela cantora e pelo grupo).
Na pista, entraram Françoise Hardy (com a bonita Comment te Dire Adieu), Björk (com Bachelorette, em uma suingada marcha-rancho) e, mais uma vez, Niagara, com Je Dois M’En Aller, encerrando o show nas alturas.
No BIS, a cantora desceu o tom para interpretar a bonita Estrela Blue (de seu primeiro disco, Férias em Videotape) e encerrar o baile ao som de Se Você Pensa, dessa vez já com o público cúmplice em pé e se jogando na pista com este que se sobressaiu como um dos melhores shows da temporada paulistana. Simone Mazzer e Cotonete abriram mão de qualquer elitismo para fazer aquilo que sabem fazer como há muito não se via: um bom baile na pressão.
Confira o roteiro seguido pela cantora e pelo grupo na noite de 04 de maio:
1- Se Você Pensa
2- Kriola
3- Ela Partiu
4- Eu Bebo Sim
5- L’Amour a La Plage
6- Instrumental
7- Onda
8- É que Nessa Encarnação eu Nasci Manga
9- Babalu
10- Pipoca Moderna
11- Comment te Dire Adieu
12- Bachelorette
13- Je Dois M’En Aller
BIS:
1- Estrela Blue
2- Se Você Pensa