Biografias são lugares delicados de se tocar, especialmente quando se trata de pessoas que marcaram sua história e época. No entanto, quando bem realizadas tornam-se um muito bem vindas.
A atriz Sylvia Bandeira se lança no desafio de protagonizar Marlene Dietrich, em uma biografia musicada, o que torna a peça ainda mais interessante. Dietrich marcou do século XX, no cinema, no teatro e na música, sempre por conta de sua originalidade e perfeccionismo. Por sua vida passaram grandes compositores que para ela escreveram canções. Foi testemunha de acontecimentos marcantes do século XX, que passam desde o crescimento do nazismo na Alemanha dos anos 1920, o glamour de Hollywood dos anos 30 a 50, sua experiência no front da II Guerra, até os anos 70, onde percorreu palcos de New York, Londres, Rio de Janeiro, Tókio, além de ter sido um dos maiores símbolos sexuais do cinema.
Sylvia sabe perfeitamente contornar o melhor de sua personagem, com competência cênica, e a clareza de uma atriz que sabe exatamente o que fazer, para onde ir. No palco é acompanhada pelos atores, José Mauro Brant que dá vida ao jovem a quem Marlene seduz com sua vivência, Marciah Luna Cabral e Maurício Baduh que transitam por diferentes universos interpretando vários personagens que remetem às memórias da atriz. Todos com excelentes atuações, contribuindo não só para o espetáculo como para o brilho que Sylvia retrata a personagem. Estão presentes
canções de Burt Bacharach, Cole Porter, Kurt Weill e George Gershwin, como também as francesas, ‘La Vie en Rose’, ‘Que Reste T-il de Nos Amours’ e ‘Lili Marlene’. A direção musical é assinada por Roberto Bahal, com arranjos especais. O texto é de Aimar Labaki que soube costurar com propriedade a narrativa, com humor e ressaltando o melhor da vida de Dietrich. Os demais elementos cênicos, entre eles iluminação e figurino seguem alinhados a proposta.
A atriz Sylvia Bandeira nos brinda com uma personagem, que passeia da velhice à juventude e nos traz uma Marlene Dietrich humana, próxima, o que talvez seja o grande achado da peça. Sem dúvida, um papel que lhe cabe perfeitamente, e certamente estará entre os melhores de sua carreira. Dietich merece ser lembrada por
sua importância nas artes e na história, e este espetáculo cumpre com eficiência essa missão. Em cartaz até este domingo.
Por Rogéria Gomes
Teatro Prudential – Rua do Russel, 804 – Glória
Sextas e sábados às 21h, Domingos às 19h