por Bruno Cavalcanti
Qualquer pessoa que conheça o mínimo da carreira de Marisa Orth sabe que não é de hoje que a atriz se aventura na seara musical. Nos anos 80, balançou a cena jovem paulistana ao lado da banda Luni, chegando a emplacar alguns hits como “Oi”, “The Best”, “Rap do Rei” e “Johny (Me Leva pro Céu)”.
Já na década de 90 revirou o baú da música brega e deu sobrevida a temas como “Siga seu Rumo” ao lado da banda Vexame. Mas foi no final da primeira década dos anos 2000 que a atriz realmente se levou a sério como cantora ao estrear Romance Vol. II, espetáculo em que fez graça com o batido, mas sempre funcional, tema dos relacionamentos.
O repertório era de alto quilate. A intérprete passeava com naturalidade por temas como “Minha Fama de Mau” (Erasmo Carlos), “Fruto Proibido” (Rita Lee), “Sofre” (Tim Maia) e “Massage for Men” (Sharon). A brincadeira ficou séria e o show ganhou registro, lançado em disco em 2009. O projeto dividiu a crítica: alguns pegaram o espírito da coisa, outros não estavam num bom dia.
Pois bem, sete anos e dois musicais depois, Marisa retorna aos palcos com Romance Vol. III – Agora Vai! que aportou no Auditório do Ibirapuera no último domingo (31). No show, Marisa cresce como cantora. Evolução que se deve a bateria de aulas de canto às quais se submeteu para protagonizar os musicais A Família Addams e Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos.
A evolução se faz perceptível já no primeiro número da noite: Transas de Amor (Os Sonhos de Quem Ama). Uma das canções mais emblemáticas do primeiro disco da cantora Marina Lima ganhou tom pop acentuado pela (excelente) banda que acompanha a cantora que, ciente do alto quilate musical que tem em mãos, não se constrange em deixar aflorar seu lado atriz.
E é aí que mora boa parte da sedução deste show. Marisa é sim boa cantora, mas é uma comediante ainda melhor. Verdade seja dita, desde o começo a artista já tinha a plateia ganha, portanto nem precisou se esforçar muito para arrancar alguns risos simpáticos. Mas Orth foi além e conseguiu fazer desabrochar legítimas gargalhadas, fosse nos comentários espirituosos, fosse no mise en scène das dores do amor.
Mesmo que o repertório não esteja acima daquele primeiro volume, Marisa se leva a sério como cantora ao abordar temas como Aparências, de Márcio Greyck, Salve Essa Flor, do soulman Hyldon e Fala, da banda Secos & Molhados, na primeira metade do show.
A segunda metade, mais sedutora, traz canções como Una Semana Sin Ti, do cubano Bola de las Nieves, Escândalo, a canção de Caetano Veloso lançada por Ângela Ro Ro e De Tanto Amor, de Roberto Carlos. Inclusive é nesta segunda metade que Marisa deixa desabrochar sua interação com público em divertido número de plateia ao som de I Feel Love, hit da rainha disco Donna Summer.
Aliás, é bom abrir um parêntese para falar sobre a ótima banda formada por Marco Camarano (guitarra e vocal), Hugo Hori (sax, flauta e vocal), Paulo Bira (contrabaixo e vocal), Carneiro Sândalo (bateria e vocal) e Marcos Levi (piano e teclados), que também assina a direção musical dos classudos arranjos.
Ao encerrar o show com abordagem correta de Adivinha o Quê, de Lulu Santos, Marisa já podia se vangloriar de ter o público completamente em suas mãos – fazendo do BIS apenas uma burocracia. Mas esta certeza não se deu na noite de 31 de julho no Auditório do Ibirapuera, mas sim ao longo dos 30 anos em que essa atriz brinca de falar sério na pele da cantora.
Confira o Repertório:
1- Transas de Amor (Os Sonhos de Quem Ama)
2- Ciúme de Você
3- Aparências
4- Salve Essa Flor
5- Fala
6- Me Leva pro Céu
7- Baby Come Back (banda)
8- Una Semana Sin Ti
9- Escândalo
10- De Tanto Amor
11- I Feel Love/ Número de Plateia
12- Insanidade Temporária
13- Problema Seu/ Você não Vale Nada
14- Adivinha o Quê
BIS:
1- As Dores do Mundo
2- Coração de Jacaré
Confira as fotos pela lente de Rogério Vieira.