por Bruno Cavalcanti
Muito tem se falado sobre Mallu Magalhães, a cantora de 24 anos que fez um ótimo disco, mas, acima de tudo, fez um ótimo marketing. A garota conseguiu, por caminhos tortos, se manter na boca do povo no momento em que o povo ouve e fala basicamente sobre apenas uma seara musical: o sertanejo universitário. Qualquer marqueteiro estaria inflado de orgulho.
Para quem esteve fora de órbita nos últimos dias, explico: a cantora anunciou disco novo. Depois lançou um videoclipe. O clipe foi acusado de racismo. A cantora se desculpou. Alguns aceitaram o pedido. Depois ela mudou de ideia, foi ao programa Encontro com Fátima Bernardes e disse sofrer racismo reverso. Daí dedicou música para aqueles que “tem preconceito e acham que branco não pode tocar samba”.
Em outras palavras, Mallu pegou um bonde e voltou aos idos tempos em que samba só era respeitado pelos puristas se fosse cantado por negros. Daí veio Noel Rosa e ficou tudo bem.
Sim, Mallu conseguiu se manter na boca do povo, seu nome entrou (e já saiu) nos Trending Topics do Twitter, ela virou assunto de discussão nas rodas de conversa, virou piada, foi defendida e a vida seguiu seu rumo.
Porém, a exceção do jornalista Mauro Ferreira, do G1, pouca gente se tocou que, no fim das contas, o que Mallu estava tentando promover era um disco.
Vem, o álbum, é ótimo. É o melhor de sua carreira – e, por enquanto, um dos melhores do ano. Mallu cresceu como compositora, está cantando bem e conseguiu uma produção de respeito que bebeu no que há de melhor do sambasoul e do sambarock onde Jorge Ben Jor sempre reinou soberano.
Contudo, o álbum entrou em modo crepuscular. Nem todos o ouviram, nem todos viram, nem todos sabem que existe. O que sabem é que uma cantora decidiu promover o discurso do racismo reverso em rede nacional e tem sido alvo das mais diversas críticas nas redes sociais. E com razão.
A despeito do disco, Mallu não tem o posicionamento crítico de um artista. Lhe falta maturidade para saber que suas palavras reverberam socialmente, principalmente numa sociedade altamente trincada como a atual.
A artista não tem preparo para se colocar perante um microfone e sustentar um discurso acerca de uma discussão tão forte quanto o racismo. Diferente do que a jornalista Adriana de Barros defende em seu artigo no portal UOL, o problema geral com Mallu não é a famigerada inveja, tampouco preconceito com sua pouca idade, é sim sua falta de conhecimento e empatia com os reais problemas sociais do Brasil.
Para usar um exemplo muito em voga no momento, temos Anitta que, também com 24 anos, uma carreira internacional sendo cuidadosamente construída, e uma seara de hits populares, consegue manter um discurso contundente acerca de temas de importância popular. Estando certa ou errada, a cantora tem maturidade para manter uma posição.
Pois bem… Vem, o disco, não promoverá nenhuma discussão sobre temas desta (ou outra) importância. O discurso tampouco. E sua posição perante as críticas só comprova que, sim, aos 24 anos Mallu Magalhães conquistou muita coisa, mas o mais importante ainda lhe falta: a maturidade para construir um posicionamento social. Como artistas sempre fizeram e devem fazer.
Enquanto não tiver isso, ela será (para usar uma expressão cunhada pela saudosa Marília Pêra) apenas mais uma cantorinha. Faço coro com o jornalista Miguel Arcanjo, do UOL, que aconselha: abramos os ouvidos para outros talentos. Aqueles que realmente têm o que dizer.