por Elda Priami
Ela tem uma identidade ousada e refinada. Agora faz joias com um conceito pra lá de inovador. Presença solar em todos os momentos, Lucinha começou nova fase com dois modelos de colares em feltro e prata: Espetos e Bandeiras. O processo criativo inclui a escolha das cores e, a partir da lã desfiada, ela constrói as peças. As fibras se entrelaçam até ficarem compactas com movimentos intermitentes e várias lavagens com sabão e água. O resultado é imprevisível e está aí o lado mágico. E não é de hoje que ela tem o dom de surpreender.
Nos anos 80, sua marca, Nefelibato, dominava as jovens consumidoras que rejeitavam o óbvio, com bolsas, chapéus, cintos e, sobretudo, sapatos com pontas bem finas que se tornaram fetiches de colecionadoras antenadas. Até hoje, ela tem vários. Além de estilosos, eles duram muito tempo. Depois partiu para o figurino com a mesma capacidade de captar o inusitado.
Casou com o designer Alfredo Grosso e viveram 17 anos na Itália, De volta ao Rio, em 2008, ela começou a preparar este trabalho autoral. Alfredo e Lucinha, agora, partilham também profissionalmente a mesma paixão pelo design.
Na loja de Roberta Damasceno, Dona Coisa, onde suas joias estão expostas, entre uma fatia de bolo e goles de chá, ela expressa o que faz com jeito expansivo e voz sedutora.
O que veio antes, o feltro ou as formas?
O feltro veio antes de tudo. Fiz um curso na Itália e fiquei apaixonada pelo “construir” alguma coisa que não precisa ter costuras e que você pode quase que esculpir, usando muito pouco além do feltro, da sua imaginação e de água e sabão.
Como nasceu a ideia de fazer as joias em feltro e prata?
O feltro é um material que considero maravilhoso, mas que não enche os olhos. Ele é discreto, seco, minimalista, quando trabalhado como eu faço. E a prata traz brilho, sem ser excessiva, confere nobreza ao que é rústico. E eu precisava de um material que pudesse ser colocado junto com o feltro, mas que não gritasse, que não se sobrepusesse, que não ofuscasse. E acho que a prata cumpre muito bem todos esses papéis. Além de eu já ter tido também alguma experiência no trabalho com a prata na Itália, junto com o Alfredo.
Como é a sensação de fazer peças únicas com um material incomum?
O nosso trabalho com os chapéus, na Nefelibato, sempre foi de peças únicas, e, definitivamente, é a minha preferência. Adoro fazer uma coisa exclusiva, pessoal. O material é incomum, mas a forma como ele é trabalhado é que leva a essa singularidade.
Qual o tipo de mulher que entende o que faz?
Todas as mulheres podem entender o que eu faço porque é uma questão de olhar, tocar e sentir que aquilo foi feito para ela. Acredito que cada uma de minhas peças nasce destinada a sua dona ou ao seu dono. Por que não?
O que trouxe da Itália para o seu trabalho e para o seu estilo de vida?
Muita coisa. Trouxe uma autonomia, uma visão de mundo que antes eu não tinha. Uma noção de perfeccionismo e, ao mesmo tempo, de simplicidade, de trabalho. Aqui estamos muito acostumados a mandar e muito pouco a fazer. Lá, a vida ainda é uma coisa muito familiar, o trabalho é familiar, enfim, se vive em pequenos núcleos. E eu gosto bastante desse jeito de viver. Mas não trocaria o Brasil por nenhum outro país do mundo nesse momento. Sou muito carioca e gosto de estar aqui!
O que é uma joia para você?
Adorno para o corpo feito com material nobre e/ou feito de forma nobre.
Jornalista que transita por design, arte contemporânea, arquitetura, gastronomia, enfim, viver em grande estilo.