por Daniele Barbosa
O leite possui um valor quase emocional para a sociedade, mas é objeto de divergências entre especialistas. Para alguns, o problema seria a digestão da lactose, o açúcar do leite. Uma outra vertente dos que condenam o consumo da bebida, a betalactoglobulina e a caseína seriam os vilões, pois o organismo humano não teria enzimas para digerir essas substâncias. Porém, um movimento a favor do leite diz que não é bem por aí – o problema seria a pasteurização.
Criada pela jornalista americana Kimberly Hartke, a campanha chamada “Real Milk” (http://www.realmilk.com) explica que o leite cru, aquele leite tirado da vaca e sem passar por nenhum tipo de processamento, é saudável. De acordo com dados do site, a bebida deve ser consumida em cerca de 30 minutos após a ordenha. Mas então esse leite não tem lactose nem todas aquelas proteínas alergênicas? Tem, mas teria também a L. lactis e outras bactérias capazes de quebrar as moléculas de caseína no trato digestivo. Além de possuir a lactase, amilase, catalase, lactoperoxidase, lipase e fosfatase, enzimas que digerem a lactose e outros carboidratos do leite.
Ou seja, o leite cru, além de nutritivo, possuiria todos os “antídotos” que combatem as alergias, mas que são eliminados no processo de pasteurização. Como isso acontece? Durante a pasteurização, o leite é elevado a uma temperatura de até 75ºC para destruir seus microrganismos patogênicos. Mas o processo também desativaria os componentes benéficos.
Um texto intitulado “Leite – Verdades e Mentiras”, do médico Alexandre Feldman, fala bem sobre assunto. No artigo, Feldman é categórico ao afirmar que a única semelhança entre o leite cru e o leite vendido no supermercado é a cor branca, “em termos bioquímicos, enzimáticos e nutricionais, eles são completamente diferentes”. O problema é que no Brasil, também nos EUA e na Europa, o leite cru chega a ser proibido, pois teria grande risco de contaminação. A verdade é que se esse movimento ganhasse força, a gigantesca indústria de laticínios sofreria grande declínio.
A campanha “Real Milk” ressalta que o leite cru é totalmente seguro se produzido em condições sanitárias adequadas. É importante também que as vacas sejam saudáveis, livres de quaisquer infecções. Os animais devem se alimentar adequadamente, consumindo principalmente pasto e uma pequena quantidade de grão, se houver, orgânicos. A ordenha deve ser feita com assepsia. O leite é somente coado e resfriado e não sofre nenhum tipo de processamento.

Vaca da Fazenda Lila, no interior de São Paulo: o local garante que a ordenha é feita com carinho e o leite é “in natura”/ Foto: site da Fazenda Lila
Na medicina ayurvédica, vinda da Índia, o leite é um alimento sagrado e é chamado de veículo para medicamentos, quando ervas são adicionadas à bebida para fins medicinais. O protocolo ayurveda foi desenvolvido há 5 mil anos e nessa época, é claro, não havia nenhum tipo de pasteurização. Vale lembrar que na Índia a vaca é sagrada, mas não me parece necessário, na altura do campeonato em que se encontra a humanidade, dar cunho religioso ao animal para não submetê-lo a condições deploráveis para atender à escala industrial da produção e venda de leite, pasteurizado.
Daniele Barbosa é repórter da Anna Ramalho, editora do www.portalestarbem.com.br e estuda terapias ayurvédicas pela Escola Yoga Brahma Vidyalaya.