por Anna Ramalho
Curiosa e na expectativa. É assim que estou desde que li sobre a adaptação que a Globo mandou fazer do romance Arroz de Palma para novela das 6 da tarde. Li no ano passado e sobre ele escrevi aqui, aliás. Fazia tempo que um autor brasileiro – um completo desconhecido pra mim, até então – não me emocionava tanto. O nome dele é Francisco Azevedo e azar o meu de não tê-lo conhecido antes. É fera, é talento total, é poeta escrevendo romance. A novela será adaptada por Edmara Barbosa, filha de Benedito Ruy Barbosa, ejetada de Velho Chico com explicações estranhas. Teria se desentendido com o diretor, ouvi dizer. Larguei Velho Chico de mão. Foi linda na primeira fase, chatésima na segunda. Descobri que não aguento Camila Pitanga, sua voz e seus meneios e trejeitos, ainda que seja admiradora de sua grande beleza. Enfim, parei de ver, coisa que jamais fiz antes. Retomando o rumo da prosa, espero que a Edmara faça jus ao tocante romance que é Arroz de Palma, uma história sobre uma família no decorrer de um século. Família que começa em Vianna do Castelo, Portugal, e termina neste nosso Rio de Janeiro de incontáveis maravilhas.

Francisco Azevedo, o autor de O Arroz de Palma
“Família é prato difícil de preparar”, diz o narrador do romance, um cozinheiro de 88 anos e muitas histórias. Segue trecho do mesmo capítulo: “ O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não existe “Família à Oswaldo Aranha”, “Família à Rossini”, “Família à Belle Meunière” ou “Família ao Molho Pardo” – em que o sangue é fundamental para o sucesso da iguaria. Família é afinidade, é “à Moda da Casa”. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.” Bom demais. Saboroso texto.

Uma beleza de romance
Pensando na minha família, que também tem seu cozinheiro ( e que cozinheiro é o meu filho!), relendo este livro encantador, torço para que a novela consiga traduzir todo o seu lirismo e tocar a audiência com a rara emoção que toca todo aquele que lê Arroz de Palma.
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Cauã Reymond numa de suas melhores interpretações. E, ainda por cima, é gato!
Falando em televisão e suas novidades pra fugir daquele nhém nhém nhém da chatíssima ( e nojenta) política brasileira: que beleza de minissérie é Justiça. Quem será Manuela Dias? De onde surgiu? O que fez antes? Pode ser falha minha, com certeza é, mas nunca ouvira antes falar desta moça que dá um show de bola a cada capítulo de sua bem amarradíssima história. Vejo no Google que adaptou Ligações Perigosas, mas essa eu não vi. Como os deuses da representação foram muito camaradas com o Brasil, vemos – de segunda a a sexta, menos quarta, que é dia do indefectível futebol – Adriana Esteves e Deborah Bloch, que honram com seu talento absurdo qualquer elenco, dando show de interpretação por minuto em cena; Enrique Díaz, Vladimir Brichta, Cassio Gabus Mendes, Jesuíta Barbosa, Antonio Calloni e Cauã Reymond ( como é belo, Senhor!) pintando e bordando em papeis feitos sob medida para os grandes atores que são; Leandra Leal exibindo, além de todos os seus imensos dotes artísticos, um corpaço de matar de inveja. É um elenco espetacular e muitíssimo bem dirigido por José Luiz Villamarin, um programa que dá prazer de ver e que ainda nos ofereceu as participações especialíssimas de Marina Ruy Barbosa ( como é bela, Senhor!) e de Marjorie Estiano – que brilha sempre em qualquer papel, seja do tamanho que for. Noves fora o personagem que é o pano de fundo de tudo, o Recife moderno, banhado pelo Capibaribe e Beberibe, e com aquelas praias todas. Já está mesmo na hora de sair do eixo Rio-São Paulo.

Manuela Dias: ainda por cima, é jovem e bonita

Adriana Esteves: soberba a cada cena
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Pelos trailers que a Globo vem passando em meio à cada dia mais deprimente propaganda política e seu desfile de horrores, vai ser um espetáculo também a minissérie Nada será como antes, de Maria Adelaide Amaral e Vincent Vallari, dupla pra lá de conhecida e reconhecida pela excelência de seus trabalhos. Pelo que vi na tela, vai arrebentar. Tomara mesmo. As novelas andam chatésimas, não tá dando pra ver. Os seriados americanos e ingleses, cada dia melhores. Nossas minisséries não ficam nada a dever a eles. Talvez seja a hora de apostar mais nelas. Público, autores e atores agradecem.
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Um alívio escrever um texto(quase) inteiro e não ter que falar de Brasília e seus horrores.
Segunda-feira, 12 de setembro, novo e importante capítulo. Hora de higienizar o Brasil. Senhores deputados, não titubeiem, não catimbem, não fujam da raia. Honrem seus mandatos e seus eleitores.
Estamos todos com os olhos bem abertos. Não custa lembrar: qualquer descuido pode ser fatal.