por Bruno Cavalcanti
A nova iorquina Iris Apfel se notabilizou não apenas por ser a designer de interiores oficial da Casa Branca ao longo de oito mandatos presidenciais, mas, principalmente, por seu estilo despojado e altamente moderno que transformaram a profissional de 97 anos de idade em um inesperado ícone fashion do novo milênio.
Longe de ser uma revolucionária do gênero, contudo, Apfel viu seu nome ascender graças ao advento da internet e a seu estilo único, que causaram muito mais curiosidade do que frisson propriamente dito. Ela foi uma das primeiras mulheres a usar calças jeans, se notabilizou como designer de interiores e construiu uma bem sucedida parceria comercial com o marido, Carl Apfel, até sua morte, em 2015, aos 101 anos de idade.
Através da Iris, documentário cênico de Cacau Hygino, em cartaz no Teatro Faap, sob a direção de Maria Maya, busca trazer à luz a história desta profissional norte americana conhecida no Brasil apenas com uma curiosidade do olhar estrangeiro. Na pele de Nathália Timberg, Apfel surge como uma personagem de carisma e simpatia frente a acontecimentos, em sua maioria, brandos. E aí reside um dos grandes problemas da peça.
Embora seja uma figura visualmente interessante e espalhafatosa, a vida e as realizações de Apfel não são necessariamente um farto material para a dramaturgia pensada por Hygino. A morte do marido e a passagem sobre a compra de sua primeira calça jeans talvez sejam os momentos de maior tensão na história da homenageada, mas não convencem.
O texto apenas usa de uma muleta dramatúrgica – colocar a personagem em uma entrevista – para discorrer sobre sua vida ao longo de 50 minutos, intermediando a ação de Timberg em cena com vídeos pré-gravados que, a medida que o espetáculo avança, soam exaustivos. A direção de Maria Maya busca emoldurar a peça em um artifício que, embora não seja novo, não é muito utilizado em montagens brasileiras.
Assumindo a chancela de documentário cênicos, a diretora põe a nonagenária atriz para declamar trechos do texto em vídeo, enquanto a atriz permanece em cena em bonita caixa cênica pensada por Ronald Teixeira e Guilherme Reis, que busca mimetizar o que seria a sala da casa de Apfel.
Timberg também faz o que pode pelo espetáculo. Sem grandes arroubos interpretativos, a atriz apenas narra o que teria sido a vida da homenageada enquanto fala com o nada, em recurso realmente batido e cansativo. Segura, contudo, a atriz imprime uma empatia cênica com a plateia, que compra a ideia do espetáculo e consegue rir quando Timberg ri de si mesma em cena.
Mesmo com texto irregular, Através da Iris cativa pela imagem já legendária de Nathália Timberg em cena e pela proposta de direção de Maria Maya que, se não atinge seu objetivo, também não deixa que o espetáculo caia num mar de marasmo.
COTAÇÃO: **
SERVIÇO:
Através da Iris
Data: 18 de janeiro a 10 de março (sexta a domingo)
Horário: 21h (sextas e sábados); 18h (domingos)
Local: Teatro FAAP – São Paulo (SP)
Endereço: Rua Alagoas, 903 – Higienópolis
Preço do ingresso: R$ 40,00 (meia) a R$ 80,00 (inteira)