por Bruno Cavalcanti
Ator, diretor e roteirista que ficou nacionalmente reconhecido por uma veia cômica oficiada como escada, Lúcio Mauro saiu de cena na noite de ontem, 11, sábado, aos 92 anos de idade – completos em março deste ano. Internado há quatro meses no Rio de Janeiro (RJ) com um quadro de problemas respiratórios, o veterano deixa cinco filhos, cinco netos e uma carreira expressiva de mais de 60 anos dedicados ao humor, principalmente na TV.
Embora tivesse iniciado sua carreira no teatro – na companhia de Mário e Zilka Sallaberry – sua passagem pelos palcos foi interrompida por um acidente que vitimou o diretor e produtor Mário Sallaberry e impediu que a companhia iniciasse uma turnê por cidades no Estado natal de Lúcio Mauro, o Pará.
Após rápida passagem pela companhia de Barreto Júnior, na mesma época em que conheceu sua primeira esposa, a também atriz Arlete Salles, Lúcio Mauro enveredou pelo rádio e chegou a TV, trabalhando em emissoras como a local TV Rádio Clube de Pernambuco, a major TV Rio e a TV Globo, onde estreou ao lado de nomes como Jô Soares, Paulo Silvino e Agildo Ribeiro no programa TV0–TV1.
Em passagem pela TV Tupi, criou um dos duetos mais importantes de sua carreira, ao lado da atriz Sônia Mamede, no programa Balança, mas não Cai. Em Fernandinho e Ofélia, o ator interpretava um homem rico e influente que precisava lidar com os foras de sua esposa, a ignorante Ofélia que só abria a boca quando tinha certeza.
O quadro lhe acompanhou por muitos anos, quando o reprisou com as atrizes Nádia Maria (1989) e Claudia Rodrigues (1999 e 2011). Repleto de sucessos, criou uma parceria duradoura com o amigo de infância, Chico Anysio, com quem contracenou em Chico City (1977), Chico Anysio Show (1982) e Chico Total (1996). Mas a consagração da parceria veio mesmo na Escolinha do Professor Raimundo (1990), quando criou e eternizou o vigarista Aldemar Vigário.
Fora dos quadros de humor, participou de novelas e séries, mostrando seu lado dramático, como em O Pagador de Promessas (1988), Pecado Capital (1998), Carga Pesada (2005), Paraíso Tropical (2007), A Favorita (2008) e Gabriela (2012).
Em 2009, a convite do filho Lúcio Mauro Filho, voltou aos palcos, em uma turnê que durou quase dois anos. No espetáculo Lúcio 80-30, Filho prestava um tributo à história do pai, consagrando sua memorável interpretação do clássico Monólogo das Mãos, de Giuseppe Ghiaroni.
Essa foi sua última passagem pelos palcos, antes de se retirar discretamente de cena com uma emocionada participação no remake de da Escolinha do Professor Raimundo, quando deu sua bênção ao programa de estreia da série que, assim como o original, foi sucesso na grade da Rede Globo.
Lúcio Mauro, aos 92 anos, sai de cena como um ator ainda relembrado e querido por um público que, por quase dois anos, teve a chance de vê-lo em cena, mas por mais de 60 anos, pôde vê-lo dentro de sua própria casa sempre com as qualidades que lhe eram de conhecimento: a discrição e a delicadeza.