por Anna Ramalho
Quando eu tinha uns 3 anos, por ai, ganhei uma irmã bem mais velha do que a bebê que nascera meses antes, minha amada mana Bel: a Mariinha (apelido de Maria Amélia) era sobrinha da vovó, morava no interior de Minas com seus pais, mas, espírito independente e avançado para a época, resolveu trocar Machado pelo Rio de Janeiro. E, assim, foi morar lá em casa, acolhida como filha. Era linda: corpo perfeito, olhos muito verdes, cabelos louros – até parecia com a minha mãe. Bel virou sua boneca viva, foi um bebê lindo, e ela sempre ajudou muito a cuidar de nós duas. Foi irmã do coração. Um belo dia, conheceu o José Cesarino, engenheiro da Petrobras, mineiro também radicado no Rio, uma paixão louca. Casaram-se e tiveram três filhos homens: José Aprígio, José Roberto e Luiz Fernando. O casamento deu muito certo e os dois só se separaram quando o José morreu há poucos anos.

Linda, de noiva, Mariinha com o pai Aprígio Nogueira. À frente, Bel de dama de honra
Mariinha partiu semana passada, deixando a poderosa marca da sua personalidade única em filhos, netos e bisnetos. Com 89 anos, mas sempre lúcida, combativa e em boa forma física, pretendia chegar aos 90, com a comemoração possível nesses dias de horror, dia 13 de maio. A maldita Covid não deixou.
Descansa em paz, minha querida. Por aqui, a luta continua.
Tenho fé que haveremos de vencer o dragão do mal.
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Que dias tão duros estamos vivendo! Mal assimilara a perda da Mariinha e me chega a notícia da partida da minha querida amiga Glorinha Pires Rebello, outra linda loura de olhos verdes, ser de luz, talvez a pessoa mais generosa e solidária que conheci em toda a minha vida. Como ela, só minha mãe. Como lembrou sua amiga Thaís de Carvalho Dias no meu post do Instagram, “um coração maior do que o mundo. Não conheço uma só pessoa que Glorinha não tenha ajudado.”
É verdade. É sempre muito fácil agradar e presentear os poderosos, os tops da imprensa – agora os influencers – oferecendo seus serviços, seus préstimos. Raros são os que continuam presenteando quando a pessoa não está mais à frente de uma coluna, um programa de TV, voltou para o rol dos, digamos, descelebrizados.

Glorinha Pires Rebello: amiga, generosa, batalhadora, querida. Do bem total. Aqui em foto do Globo, reinando no hall do Golden Room do Copacabana Palace. Glorinha inesquecível
Comigo Glorinha foi sempre igual. Nos áureos tempos do Rio, quando eu trabalhava nas colunas mais importantes do país, ela sempre se adiantava: “vou fazer sua roupa para o black tie de fulano”. Quando fiz 40 anos e dei uma festa que entrou para os anais da época, a saudosa Patricia Nuzman trouxe um tecido lindo de Paris – preto com pois de veludo vermelho – e Glorinha criou um modelito espetacular para eu rodopiar na pista.
Quando soube que os 70 se aproximavam e que Regina Martelli – irmã de vida – faria uma grande festa, me telefonou: “Vem cá que já bolei a roupa toda”. Me vestiu de renda e crepe, toda verde, muito elegante, apesar dos muitos quilos e dos anos a mais. Luta foi convencê-la a ir à festa. Não queria de jeito nenhum – ela andava assim ultimamente, sem muita vontade de sair da toca.

Nós duas muito mais jovens: achavam que éramos irmãs. Acabamos sendo mesmo. O vestido que uso também foi criado por ela no tempo em que ainda podia usar ombro só e minissaia
Fez o vestido de noiva de minha sobrinha Clara e “adotou” a menina, que se vestiu na casa dela, onde fez as fotos antes da cerimônia. Telefonou avisando que faria o vestido de 15 anos de Bela Antonia. Eu: “Glorinha, é uma festinha à toa, no play do avô, não precisa…”. E ela: “Imagina, se Antonia vai com qualquer roupa pra festa…” Fez um vestido lindo e, durante as provas, apaixonou-se por Olívia, minha neta então com 3 anos, para quem criou o modelito pra usar na festa da irmã. Uma jóia de vestido em tafetá azul claro, peitilho delicadamente bordado, criado pelo talento dessa minha amiga tão amada.

Na valsa dos 40 anos com meu filho Christiano e o lindo vestido by Glorinha Pires Rebello
Quando éramos mais moças, parecíamos muito. Na festa de casamento de sua filha Renata, no Jockey, deu-se a cena: amigo de toda uma vida, o também saudoso Tarsilo Vieira de Mello me saúda: “Glorinha, parabéns, que beleza de festa!!!” . Rimos muito disso. Ele confundiu mesmo as duas amigas.
Glorinha era uma mulher inteligente, culta, linda. Mãe leoa. Uma guerreira que enfrentou muitas batalhas – sempre com muita raça e dignidade. Tinha um papo ótimo, era bem informadíssima, com uma memória prodigiosa.
Não foi a Covid que a levou embora. Ela já não vinha bem há algum tempo, com problemas renais, e ficou devastada ( como todos nós, aliás) com a prematura morte de seu genro, André Piva, marido do filho amado, o Carlos Tufvesson – que herdou da mãe o bom gosto, a inteligência, a generosidade.
Minha querida “gêmea”, você sofreu o que jamais deveria ter sofrido, mas agora descansou. No azul do céu, na paz do Senhor, tenho certeza que a sua nuvem será a mais elegante e bem frequentada por tantas queridas que seu bom gosto vestiu na vida terrena.
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Luz, paz e todo o meu amor para Mariinha e Glorinha.