por Aristóteles Drummond
Nada mais bonito, mais definidor do caráter, da formação ética e espiritual do ser humano do que o amor filial. Quem é ou foi bom filho, é ou será sempre bom companheiro, bom amigo, boa pessoa, enfim.
Alguns excedem e levam esse sentimento para a memória do mundo em que vivemos, com amor e orgulho pelo legado dos pais, na família, junto aos amigos, na vida empresarial ou pública. Dizem os franceses “que os mortos vão rápido”, numa lembrança da realidade estranha no comportamento do ser humano, que é o esquecimento. Mas existem os que sabem amar e reconhecer, manter viva a grande herança de vidas com significado para a família e a sociedade.
Por isso, merecem ser registrado os filhos que sabem cultuar a lembrança, em função do legado que deixaram os pais, ao longo de vidas que não podem nem devem ser esquecidas pelo que souberam fazer com amor, sensibilidade, espírito público e boa formação cívica. Uma obra na vida, com exemplar dignidade e elegância.
Paulo Geyer, empresário de visão, homem de cultura e intuição , cordial e elegante por natureza, patriota, mecenas, está presente na vida do Brasil pelo que fez na permanente lembrança promovida por sua filha Maria, inspiradora de publicações primorosas sobre o homem e seu legado. Uma delas teve memorável lançamento na casa em que Paulo viveu com a mulher, Maria Cecília, e os filhos, e onde consolidou formidável coleção de arte que o casal, com apoio dos herdeiros, legaram ao Brasil, através do Museu Imperial. Esta edição teve a chancela de Lula Freire, editor de algumas das mais importantes publicações históricas e de arte entre nós. Paulo Geyer realmente foi uma personalidade de seu tempo, tornando um privilégio quem com ele conviveu de alguma forma. Mas nos legou também essa filha exemplar, admirável, dinâmica e generosa, que é Maria.
Maria Cecília Gama é outro belo exemplo. Acaba de relançar, em edição ampliada e rica, a fotobiografia de seu pai, Sávio Gama, criador e prefeito de Volta Redonda, homem público correto e leal, companheiro por toda a vida de outro grande brasileiro que foi o comandante Amaral Peixoto. Este também nos deixou, em seu imenso acervo, a filha Celina, atenta defensora da memória e da obra do pai, da mãe, Alzira Vargas, e dos avós, D. Darcy e Getulio Vargas.
Nesses tempos de tanta competição inútil, de um consumismo exacerbado, em que o espiritual e o ético perdem força, as referências são cada vez mais pobres e raras. Fico feliz pela oportunidade de ser amigo e admirador dessas filhas exemplares. A Gama, depois de décadas, imaginem, reencontrei no Facebook, com a estima e carinho recíprocos que o tempo não apagou.
Escrevendo em tantos lugares, escolhi este espaço da Anna Maria Ramalho, por ser ela a grande filha que nos mantém ligados à sua mãe, D. Honorina, que conheci bem, mulher de grande valor, capacidade de luta, sabedoria e categoria. Ana é outra admirável Maria.
Só quem tem uma filha com essas marcas do amor e da generosidade pode dar a devida dimensão aos exemplos, entre tantos, que me ocorreram.