por Anna Ramalho
Meu pai morreu quando eu tinha 2 anos – um infarto fulminante levou-o, deixando para trás a filha pequena e a mulher, grávida de três meses da minha irmã. Ainda que tenhamos tido uma infância boa, com muito amor e muito cuidado, foi perda irreparável que nos marcou pela vida.

Meu pai, minha mãe e eu, na barriga: Diógenes e Honorina voltavam de navio da temporada de dois anos em Milão, Itália
Nunca pensei muito nisso, não, mas, nos últimos anos volta e meia reflito em como tudo teria sido tão diferente se eu pudesse ter convido com meu pai, a diferença que a figura paterna teria feito em minha vida só cercada de mulheres.

Christiano e Ricardo: meu filho e o pai dele, no século passado, em foto do inesquecível Aníbal Philot, fotojornalista que marcou época em O Globo
Posso testemunhar o tamanho dessa importância só observando como minhas netas se desenvolvem bem emocional e psicologicamente à sombra do paizão que têm. As duas, aliás, têm a sorte suprema de ter pais bem casados, bem estruturados, muito atentos a elas. Sempre.
É uma benção verdadeira e por ela não paro de agradecer a Deus. Saudade, meu pai. Feliz Dia dos Pais, meu filho!

Meu filho pai: Chris com Antonia e Olívia na comemoração do Dia dos Pais, ano passado, no Bistrô da Casa, onde ele comanda com competência a cozinha da bela Casa da Glória
***
Minha mãe não quis casar novamente, meu avô paterno já tinha morrido há anos, o materno morreu um ano depois do meu pai, de modo que nem essa referência masculina tivemos.
Dos pais das minhas amigas, o mais próximo – e também mais presente – era o Itálico Martelli, pai da Regina, irmã de vida. Italiano muito alto, muito falante, muito querido, foi o primeiro homem que vi na cozinha. E como cozinhava !!!! Até hoje sinto o gosto da bouillabaise servida com pão de alho, naquela época iguarias muito pouco conhecidas por aqui. Viveu muito e seguiu fazendo maravilhas de forno e fogão até o fim. Grande Itálico, feliz Dia dos Pais aí na sua nuvem.
Tenho amigos que são pais maravilhosos, que verdadeiramente iluminaram a vida de seus filhos. Fazem parte do time o Ekke, o Domingos Henrique, o Reinaldo, o João Luiz, o Leonam, e o Ricardo, pai do meu filho, é claro. Paizões.
Feliz Dia dos Pais para eles, um domingo feliz ao lado de seus pimpolhos e pimpolhinhos da segunda geração.
***
O atual pai da Pátria, vamos combinar, é um desastre para seu filho Brasil. Os demais – inclusive a menina da “fraquejadinha – não podem reclamar. A turma tem um paizão pra ninguém botar defeito. Protetor e cioso, é capaz de rasgar a Constituição, prender e arrebentar qualquer um que se meta com aquela turma de zeros e seus desatinos.
Por eles é capaz de tudo. Menos parar de afrontar o país com sua grosseria, boçalidade e aquela mais absoluta falta de classe e de categoria. Jair, já deu.
Qual será o programa da primeira família neste domingão ???
***
Espero que seja um desastre à altura de sua maldade. Neste domingo, quantos milhares de filhos estarão chorando por pais que perderam nessa maldita pandemia? Que perderam porque o presidente simplesmente ignorou vírus, vacina, tudo, arrotando barbaridades e afrontando doentes e defuntos dia sim, outro também.
Em São Paulo, o jovem Tomás estará chorando de saudade em seu primeiro Dia dos Pais sem o seu super pai Bruno Covas – tão prematuramente levado e tão covardemente atacado por um presidente a cada dia mais perverso.
Como dizia o ditado da minha infância, deixa estar, jacaré, que a lagoa há de secar.
Te cuida, Jair!
***
Li de uma sentada só o livro “Crônicas de pai”, do dublê de fotógrafo e cronista Leo Aversa. Sou fã dele, que não conheço, mas que, como eu, é tricolor, é sarcástico, é pai de filho único e mora no Jardim Botânico. São 72 textos em edição primorosa da Intrinseca.

Leo Aversa e o filho Martín pelas lentes de Marcela Venturin (Foto O Globo)
Ri às gargalhadas, chorei algumas vezes, me emocionei de ponta a ponta.
Feliz Dia dos Pais, Leo Aversa.
E Feliz Dia dos Pais aos muitos que conheço e aos que não conheço também. Um belo domingo a todos.