por Bruno Cavalcanti
Um crime passional, um trauma que afasta do seio familiar a figura materna e central na criação dos filhos e do convívio dos netos e sobrinhos. Um assassinato a sangue frio em pleno entardecer numa rua residencial. Um suicídio. Um crime gerado por um desafeto sentimental. Todos estes são elementos que, desde os primórdios, sustentam a dramaturgia independente de seu veículo.
Pois todos estão presentes em Laura, monólogo de Fabricio Moser sobre a vida de uma mulher que passou anos em um casamento e, após o fim, encontrou nos pequenos bailes de sua cidade o afeto e a distração que precisava para se livrar de uma depressão e de uma internação. Contudo, tudo vai mal quando, após negar uma dança, ela é assassinada.
A história de Laura é uma entre tantas outras com o mesmo fim trágico. O que a difere de suas contemporâneas é o fato de a personagem-título ser a avó deste ator, que também assina a autoria do monólogo em cartaz na SP Escola de Teatro, na Praça Franklin Rossevelt.
Embora tenha todos os elementos para ser uma história terna e de grande empatia, Laura simplesmente não acontece. A encenação patina em um tema que não se desenvolve ao longo de (cansativas) uma hora e meia. O fiapo dramatúrgico que guia esta trágica história não é capaz de gerar uma empatia do público além do que o tema em si já gera.
Bom ator, Moser passeia por diferentes linguagens em cena, buscando subverter o clássico teatro da narração. Para tanto, usa de artefatos multimídia, históricos e sentimentais para tentar contar esta história. O problema é que falta ao ator uma direção firme que pode certos excessos, como seu constante contato com a plateia.
Abdicando de qualquer parede, o intérprete deixa nas mãos do público o desenrolar desta história de tons trágicos, mas seu tom é absurdamente pueril, em busca de uma cumplicidade que não vem.
Talvez pela relação familiar que guarda com a personagem, falta a Moser o distanciamento necessário para apresentar uma história dramaturgicamente consistente e menos trivial – é desnecessário o relato de sua pesquisa acerca da vida de sua avó, com depoimentos de amigos e familiares em tom documental. Resulta cansativo.
O fato é que, o mesmo elemento que faria de Laura um projeto vitorioso, o faz irregular: a paixão em excesso. No caso, a de seu autor pelo tema.
SERVIÇO:
Laura
Data: 04 de abril a 01 de maio (sábado a segunda-feira)
Horário: 21h (sábado); 20h (domingo e segunda-feira)
Local: SP Escola de Teatro – São Paulo (SP)
Endereço: Praça Franklin Roosevelt, 210 – Centro
Preço do ingresso: R$ 20,00