por Bruno Cavalcanti
Temas como traição, falsidade, puxadas de tapete e corrupção movem o teatro ocidental desde que a Grécia é Grécia antiga. São pautas sempre contemporâneas e presentes que chamam a atenção e prendem o público nas poltronas dos teatros – ao menos quando são bem encenados.
Em Angel, novo espetáculo assinado pela dupla de autores Vitor Oliveira e Carlos Fernando Barros, que estreia hoje no Teatro Itália, o submundo da perversão humana se encontra no Cabaré Apocalipse, bordel onde homens estão à disposição para realizar as fantasias mais secretas de seus clientes.
No espetáculo, Angel é o rapaz favorito de uma poderosa senadora, e parece impossível de ser destronado até a chegada de Baiano, jovem matuto e inocente vindo do interior. Com o numeroso elenco de 10 atores, o espetáculo tem a direção assinada por Eduardo Martini, nome onipresente no teatro paulistano, que acaba de encerrar a temporada de dois espetáculos, e se prepara para voltar à cena no final deste mês.
Apenas como diretor nesta montagem produzida pela dupla Bira Saide e Valdir Archanjo, Martini vê em Angel um espetáculo de importante temática a ser retratada no mundo contemporâneo. “Ele fala de um submundo não material, de um submundo que tá dentro das pessoas. Puxadas de tapete, mentiras, armações, vazamentos de informações, da intimidade das pessoas. Hoje em dia as pessoas usam de uma intimidade pra poder se dar bem”, analisa.
“Você pensa duas ou três vezes antes de se abrir pra alguém, porque a qualquer momento essa pessoa, por interesse, vira o jogo e uma vez que você abriu sua intimidade ela sai contando pra quem quiser”, conta o diretor que já foi vítima deste tipo de golpe, mas prefere seguir em frente e tratar do assunto no palco.
“Falar disso nesse momento é muito importante porque eu queria que as pessoas repensassem nessa energia que está sendo jogada onde vale tudo para ter um like. Todas as facilidades tecnológicas que temos hoje fazem com que as pessoas as usem como uma arma a seu favor, e também contra você”, diz o diretor, que encontra na peça a possibilidade de unir talentos com quem veio esbarrando na última década numa carreira que já completa (incríveis) 40 anos.
A primeira é Cléo Ventura, atriz com mais de 45 anos de estrada que soma no currículo mais 30 espetáculos teatrais. A atriz já trabalhou ao lado de nomes como Marília Pêra, Fúlvio Stefanini, Marcos Caruso, Juca de Oliveira e Bárbara Bruno, entre outros e encontra Martini após 17 anos de tentativas.
A primeira vez que o encontro quase se deu foi em Tango, Bolero e Chá, Chá, Chá, espetáculo de Eloy de Araújo encenado em 200 sob a direção de Bibi Ferreira. Ventura entrara para substituir a atriz e produtora Maria Helena Dias que havia se acidentado. Martini estrearia no espetáculo logo em seguida, mas graças a um adiamento entrou quando Dias já havia retornado.
Depois, enquanto assinava a curadoria e direção artística do Teatro União Cultural, no Paraíso, Martini chegou a convidar a atriz para a leitura de um texto de Anamaria Dias, no qual assinaria a direção. Mas o projeto não se concretizou.
Foram necessários quase 20 anos para que o encontro se desse, mas o diretor vê o processo com naturalidade e elogia a colega. “A Cléo é uma atriz altiva, poderosa. Quando precisávamos de uma senadora que tivesse essas características, pensei logo nela”, conta.
Além de Ventura, Martini ainda promove três reencontros no espetáculo. Guilherme Chelucci, com quem trabalhou em “O Filho da Mãe” neste mesmo ano de 2017, Pedro Fabrini, autor e colega de cena em “I Love Neide 2 – A Viagem” e o cantor Markinhos Moura, que já fora dirigido em cena por Martini em show comemorativo de seus 30 anos de carreira fonográfica.
Em Angel, Chelucci vive o matuto Baiano, que chega para ameaçar o reinado de Angel, Fabrini dá vida ao dono do Cabaré Apocalipse, enquanto Moura vive Francys, faz tudo do cabaré que solta a voz em números dirigidos por Rafael Riguini.
O elenco conta ainda com nomes como Bruno Alba, Bruno Pacheco, José Del Luca, Marcelo Gomes, Nando Maracchi e o incansável Juan Manuel Tellategui. Angel fica em cartaz todas as quintas-feiras às 21h até o dia 30 de novembro. Os ingressos custam de R$ 30,00 a R$ 60,00.